Jornal Estado de Minas

Partido Solidariedade filia servidor morto em 2006

Com registro confirmado pelo TSE, Solidariedade tem entre seus apoiadores um ex-servidor do Senado falecido em 2006

João Valadares
Uma das fichas de apoio do Partido Solidariedade, cujo registro foi confirmado pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE) na semana passada, registrada no cartório eleitoral da 14ª Zona, na Asa Norte, é "assinada" pelo ex-servidor do Senado Federal José Washington Chaves. Detalhe: ele morreu aos 82 anos em 5 de agosto de 2006. O Solidariedade só começou a recolher assinaturas em novembro de 2011. Na outra ponta da nebulosa criação do partido do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, várias pessoas que constam como apoiadoras dizem que nunca assinaram nenhuma ficha.


O Estado de Minas verificou que, dos 589 nomes registrados no cartório eleitoral da Asa Norte como apoiadores do Solidariedade, 525 são funcionários da Câmara, do Senado ou do Tribunal de Contas da União, mais um indício forte de que as fichas fraudadas têm origem no Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindlegis). Ontem, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) ingressou com um mandado de segurança para tentar anular o julgamento que confirmou o registro do Solidariedade.
Um ato da 1ª Secretaria do Senado de 2 de fevereiro de 2009 prova que o ex-servidor José Washington Chaves faleceu em 2006. No documento, a viúva, Marina Rodrigues Chaves, solicita o pagamento dos valores devidos e não recebidos em vida pelo funcionário referentes a parcelas adicionais. No Tribunal Superior Eleitoral o título do ex-servidor ainda consta como regular. A assessoria de comunicação informou que não foi dado baixa porque, quando ele faleceu, já tinha mais de 70 anos e, por isso, não era mais obrigatório votar nas eleições.

Procurado pelo Estado de Minas para comentar o assunto, o deputado Paulinho da Força afirmou que o fato não tinha nenhuma importância porque o cartório rejeitou a ficha. O parlamentar disse que vem sendo vítima de uma sabotagem. "Estão sacaneando a gente em Brasília. Não vou mais discutir ficha. Vocês ficam nessa. Essas fichas não existem. Já foram reprovadas. É provável que exista uma sabotagem. Levam a ficha para casa e colocam o nome de alguém. O quem importa são as assinaturas que vieram para o Tribunal Superior Eleitoral", declarou.

Ligações

Nessa quarta-feira, novos filiados do Sindlegis descobriram que seus nomes, sem nenhuma autorização, constam como apoiadores do partido fundado pelo deputado Paulo Pereira da Silva. O presidente da entidade que representa a categoria é bastante ligado ao parlamentar. Várias pessoas telefonaram para a liderança do PDT e informaram que suas assinaturas foram falsificadas. Até o nome da mulher do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Gladys Buarque, aparece na lista registrada pelo Solidariedade num cartório eleitoral da Asa Norte, em Brasília. Gladys afirma que nunca assinou nenhuma ficha de apoiamento.

Outro caso é o do jornalista da TV Câmara Antônio Vital. Nas redes sociais, ele protestou contra a inclusão do seu nome. "Acabo de ser informado de que minha assinatura consta da lista de apoio à criação do partido Solidariedade, esse do Paulinho da Força. Só que eu não assinei nada. Aliás, queria que metade dos partidos simplesmente não existisse", postou na sua página pessoal do Facebook.

Aécio critica ação palaciana

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou ontem a ofensiva do Planalto na tentativa de cooptar o Solidariedade para a base aliada. “É o Estado, a população brasileira, pagando pela migração de parlamentares da oposição para a base. Houve a criação de um partido que não nasceu na órbita do governo, mas já está sendo cooptado também, em parte, pelo governo. Isso depõe contra a democracia”, afirmou Aécio, provável candidato tucano à sucessão presidencial em 2014. O senador disse ainda que torce para que o partido de Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, seja formado a tempo de entrar na disputa do próximo ano.