A presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na filiação do empresário Josué Gomes da Silva ao PMDB, colocando-o em posição de destaque para as eleições do ano que vem, desagradou – e muito – o PT de Minas Gerais, que se apressou em dizer nessa quarta-feira que o nome do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, já está definido como candidato ao governo de Minas. Também no PMDB, o discurso é que o filho do ex-vice-presidente José Alencar não tem postulações e não se filiou com vaga definida na disputa.
O temor dentro do PT é que a participação de Lula na articulação para que Josué fosse para o PMDB signifique uma possível indicação do líder petista para concorrer ao governo. Internamente, alguns petistas avaliam que ele possa trabalhar com a ideia de palanque duplo, lançando dois nomes da base aliada em Minas. Seja qual for o motivo, o fato de a filiação ter sido construída sem a participação oficial do PT e de Lula ter ido pessoalmente acompanhar a adesão foi visto como um “tapa na cara”.
Para o presidente do PT no estado, deputado federal Reginaldo Lopes, não procede a tese de uma possível candidatura de Josué ao governo de Minas. “Esse é o desejo do senador Aécio Neves para enfraquecer o Pimentel”, disse. Ao contrário de integrantes do partido, que disseram ter sido pegos de surpresa, o dirigente afirma que o PT participou da costura para Josué compor um partido da base aliada e tem consolidada a candidatura de Pimentel a governador. “O Josué vai compor no que for mais interessante para a eleição de Pimentel em Minas e da presidente Dilma. Seria um ótimo vice ou senador, mas se quiserem podemos também discutir a tese do palanque duplo”, disse Lopes.
Aliado de Pimentel, o deputado federal Odair Cunha (PT) afirmou preferir que Josué tivesse se filiado ao PT. Como isso não ocorreu, segundo ele, o destino dele nas próximas eleições não cabe aos petistas. “Queremos que o PMDB e os partidos aliados façam um bloco forte para viabilizar a candidatura do PT, mas não nos compete tomar a decisão pelo PMDB”, disse. Sobre a atuação de Lula em favor de Josué, Odair Cunha credita a “boataria”. O ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias disse que a filiação de Josué enriquece a política, mas reforçou que, dentro do PT, está “bem acertada” a candidatura de Pimentel. Ele próprio afirma que não colocará o nome para a disputa majoritária e declara total adesão ao colega de partido.
SEM PRETENSÕES
No PMDB, o discurso é que Josué Gomes da Silva se filiou sem promessas ou pleitos. “Ele fortalece muito o partido, mas veio sem compromisso nenhum de ser candidato. Se vai ser ou não, vai depender do interesse conjunto dele e do partido”, afirmou o ministro da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB). Para Andrade, ainda há muito tempo para decidir qual vai ser o rumo do PMDB nas eleições de Minas Gerais e a conversa com o PT faz parte desta construção. “Temos um ano para resolver e o que posso dizer é que temos um pensamento comum com o PT, formamos um bloco na Assembleia e somos base do PT em Brasília. Isso nos aproxima muito e não temos nenhuma divergência, se vamos apoiar Pimentel ou não, veremos no futuro”, resumiu.
O senador Clésio Andrade, também cotado para ser candidato ao governo pelo PMDB, abonou a filiação de Josué, mas também indicou que nada está definido. “Diria que o Josué pode ser tudo o que ele quiser, é um processo natural e nos orgulhamos por tê-lo no partido. Não só pela sua pessoa e competência, mas pela importância do seu pai para a política e para o país”, disse.
Secretário
As mudanças de partido atingem também ocupantes de cargos no primeiro escalão do governo do estado. Eleito pelo PDT, o deputado federal José Silva, que ocupa a Secretaria de Estado do Trabalho e Renda, negocia sua ida para o partido Solidariedade, cuja criação foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na semana passada.