São Paulo- O presidente da Siemens no Brasil, Paulo Ricardo Stark, disse nessa quinta-feira, em depoimento na CPI dos Transportes Coletivos da Câmara Municipal de São Paulo, que a empresa está disposta a ressarcir os cofres públicos caso fique comprovada a existência de cartel em licitações do governo paulista para compra de trens. A multinacional alemã firmou em maio com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) um acordo de leniência se comprometendo a colaborar com as investigações sobre o cartel.
Embora a Siemens tenha apresentado farta documentação sobre o cartel ao Cade, Stark disse nesta quinta que uma investigação interna identificou apenas “indícios” de conluio entre empresas e não constatou nenhum pagamento de propina a autoridades e políticos brasileiros. A Justiça alemã, contudo, concluiu que a Siemens pagou pelo menos 8 milhões, equivalente a R$ 23,5 milhões, a dois representantes de funcionários públicos brasileiros para fraudar licitações.
“A Siemens não conseguiu apurar, nas suas investigações internas, nenhuma evidência de pagamento de propina”, afirmou Stark. Embora a empresa seja a delatora e esteja colaborando nas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, ele afirma que a Siemens “não é ré confessa”.
Contratos
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou em agosto que processaria a multinacional alemã. No mês passado, a Corregedoria-Geral da Administração do Estado abriu processo para declarar a inidoneidade da empresa. De acordo com Stark, a Siemens ainda não recebeu nenhum ofício.
A Siemens afirma ter cinco contratos vigentes com empresas do governo paulista, sendo três com o Metrô e dois com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que somam R$ 469,2 milhões. De acordo com Stark, eles já passaram por um pente-fino e não apresentam nenhuma irregularidade.
Na CPI, o executivo, que assumiu o cargo em outubro de 2011, após a demissão de Adilson Primo - suspeito de movimentar 6 milhões de euros numa conta secreta em Luxemburgo -, alegou o sigilo decretado pelo acordo de leniência com o Cade para responder a perguntas sobre os cinco contratos com o Metrô e CPTM celebrados entre 1998 e 2008 e suspeitos de fraude.
A medida deixou os vereadores irritados. A relatora da CPI, Edir Sales (PSD), chegou a dizer que a comissão tem poder de polícia e poderia dar voz de prisão ao depoente. “Vocês saquearam os cofres públicos e vão ter de devolver esse dinheiro”, disse o vereador Milton Leite (DEM), que teve aprovado pedido de nova convocação do presidente da companhia.
A comissão também ouviu os diretores da TTrans e Temoinsa do Brasil, que negaram envolvimento no cartel, conforme denunciou a Siemens. “Não sei porque nos colocaram nesta lista. Todos que foram arrastados estão tentando descobrir”, disse Wilson Daré, sócio-administrador da Temoinsa.
“Não tenho dúvida de que a Siemens entrou no caminho errado. Depois que faz a denúncia diz que colheu indícios. Estão voltando atrás (na acusação) até porque 90% do que disseram ao Cade é mentira”, afirmou Mássimo Giavina-Bianchi, diretor-presidente da TTrans. Ele chegou a propor uma acareação com o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, autor de denúncias de fraudes e um dos seis lenientes na investigação do Cade.