Brasília – “O Bolsa-Família é uma coisa muito boa. Esse dinheirinho serve para as despesas da casa, para comprar uma roupinha para a criança, um leite, uma verdura. É pouquinho, mas já remedia, é melhor do que nada”, comenta Helena Rosa Nascimento, de 58 anos. Há 21 anos, ela e o marido, o pedreiro Cândido Ribeiro Antunes, de 69, migraram de Teresina para o Jardim Céu Azul, Bairro de Valparaíso (GO), onde moram com a filha e a neta. O pedreiro diz que nunca viu político falar a verdade, a não ser por uma exceção. “O único que vi falar algo e ajudar o povo foi o Lula. Ele se deu ao menos o trabalho.” O reconhecimento ao ex-presidente é feito pelas urnas. “Voto nele há muito tempo e, se ele for candidato, voto nele de novo.” Com a neta Rianna Paula nos braços, dona Helena brinca com a bebê, falando em um tom infantil: “Eu quero é que a Dilma ganhe, não quero que ela saia”.
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Meta do programa Bolsa-Família é localizar 600 mil famíliasBoa parte dos beneficiados com o Bolsa-Família superou a miséria"Os pobres vão agradecer o resto da vida", diz Lula em ato dos 10 anos do Bolsa-FamíliaBolsa Família completa dez anos como o principal programa de seguridade social do paísCidades dependentes do Bolsa-Família continuam com índices sociais ruinsMais de 50 mil estrangeiros no Brasil recebem o Bolsa-FamíliaAs histórias de Helena/Cândido e Ivone/William retratam a realidade do Bolsa-Família, principal programa de transferência de renda do governo federal, que beneficia 50 milhões de pessoas e 13 milhões de famílias. No mês em que completa 10 anos da edição da medida provisória que instituiu o benefício, o Estado de Minas ouviu especialistas, políticos e beneficiários para avaliar os ganhos, os erros e o peso político eleitoral. A conclusão é clara: o Bolsa-Família não pode e não será extinto, mas a influência dele nos votos dados ao PT não será tão grande como foi em 2006 e 2010.
A análise baseia-se também em números, especialmente no Nordeste, principal região beneficiada pelo programa federal. Na Paraíba, por exemplo, entre 2006 e 2010, o número de famílias que recebem o Bolsa-Família subiu de 36,2% para 39%, mas a votação no PT caiu de 65,3% para 53,2%. Em Pernambuco, apesar do expressivo aumento de famílias contempladas (de 33% para 50%), o número de votos que Dilma recebeu em 2010 foi de 61,7%, ante os 70% de Lula quatro anos antes.
A mesma realidade tende a se repetir nos estados mais ricos. O Rio de Janeiro, por exemplo, ampliou de 8% para 12% o número de beneficiados pelo programa. Mas o PT, que teve 49,1% dos votos com Lula, recebeu apenas 31,5% com Dilma. Em Minas Gerais, os dois lados da balança diminuíram. Em 2006, 20% das famílias recebiam o Bolsa-Família, enquanto em 2010 eram 17%. Já os votos no PT caíram de 50% para 46,9%, respectivamente.
RESULTADOS Para o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Denílson Bandeira Coelho, não há como negar que a criação do Bolsa-Família mudou geograficamente o voto no PT e assegurou as vitórias de Lula e Dilma no Nordeste, região mais pobre do país. “Mas, hoje, o eleitor analisa outros programas do governo, como o Minha casa, minha vida, o Seguro Defeso (voltado para pescadores carentes) ou o Plano Safra da Agricultura Familiar”, disse Denílson.
Isso não significa que, a longo prazo, o programa poderá ser extinto. “Quase 80% dos municípios brasileiros têm menos de 10 mil habitantes e são extremamente pobres. O dinheiro federal, incluindo o Bolsa-Família, a aposentadoria urbana e a rural, é fundamental para movimentar a economia local, estimular o associativismo e o empreeendedorismo”, citou.
O secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), afirma que atualmente o eleitor está em busca de outros direitos. “A população hoje quer educação, saúde, segurança e transporte urbano com mais qualidade”, enumerou. Já o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), reconhece que o Bolsa-Família cumpriu seu papel, mas acabou estagnado apenas na questão da renda. “Ele tem um ponto de partida e um ponto de chegada, mas não tem pontos de saída. As próximas eleições cobrarão mais dos candidatos”, acredita Agripino.
Vice-presidente do PSB e um dos articuladores da pré-campanha do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ao Planalto em 2014, Roberto Amaral avalia que a influência do Bolsa-Família no voto do eleitorado é algo que ainda não pode ser desconsiderado. “Temos muitos municípios cuja economia apoia-se apenas no programa. Pode ser que no passado a influência fosse maior. Mas desprezar esse componente político na hora da eleição é um erro”, analisou Amaral.