Jornal Estado de Minas

Sede do antigo Dops deve ser tombada nesta quarta-feira

Segundo dados oficiais, 85 mineiros que lutavam contra o regime foram mortos, no prédio do Dops, entre 1964 e 1985

Felipe Canêdo
Sede do antigo Dops mineiro, na Avenida Afonso Pena, pode virar um centro de direitos humanos - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press
A sede do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena, número 2.351, deve ser tombada nesta quarta-feira pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte e virar um centro de direitos humanos. O dossiê de tombamento será analisado em reunião do órgão na tarde de hoje e será selada a mudança do atual Departamento de Investigação Antidrogas da Polícia Civil. Em junho, o Ministério Público Federal e a Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas Gerais encaminharam pedido à Secretaria de Estado da Cultura e ao Conselho de Patrimônio Histórico para que o imóvel seja tombado. O deputado federal Nilmário Miranda (PT) comemora a notícia, que considera importantíssima: “Temos que manter esses lugares que têm significado histórico. O governador (Antonio Anastasia) em conversa comigo defendeu que o Dops pode se tornar um lugar cultural relacionado à memória, que dialogue com as novas gerações.”
Segundo Nilmário, o governador já havia concordado com a ideia, mas disse que precisava “decidir sem pressa para onde transferir aquela delegacia. Ela não precisa funcionar ali.” O deputado considera uma excrescência ter havido uma Delegacia de Ordem Política e Social em plena democracia, antes do golpe de 1964, como herança do Estado Novo de Getúlio Vargas. “As pessoas de outras gerações têm dificuldades de imaginar como o estado vigiava movimentos sociais e pessoas de esquerda. E mesmo depois que eu já era deputado estadual (em 1987), fui várias vezes buscar militantes sem-terra e de outros movimentos. Ainda tinha essa função social”, ele diz.

Em maio, um monumento em homenagem aos mortos pela ditadura militar foi inaugurado no canteiro central da Afonso Pena, em frente ao antigo Dops. Segundo dados oficiais, 85 mineiros que lutavam contra o regime foram mortos entre 1964 e 1985. Na ocasião, o presidente da Comissão Nacional de Justiça, Paulo Abrão, manifestou seu desejo de que o antigo Dops vire um centro de memória. Outra obra que pretende preservar a história dos que lutaram contra a ditadura, o antigo “coleginho” da Fafich, no Santo Antônio, está sendo preparado para se tornar um Memorial da Anistia.

Audiência

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realiza nesta quarta-feira uma audiência pública sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek. A reunião vai discutir a possibilidade de o político mineiro ter sido vítima de atentado e quer reabrir a investigação do caso. A Comissão da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG) também defende que a morte de JK seja investigada novamente.