Se em torno da aprovação do projeto de lei que alterou as regras sobre direitos autorais reinava a união entre os artistas, na atual discussão, sobre liberdade para publicar biografias, a classe rachou. Cantores, compositores, escritores e empresários têm feito lobby, principalmente pelas redes sociais, alimentando a polêmica que se arrasta há duas semanas. Uma divisão que se reflete também na Câmara dos Deputados, onde há uma proposta que derruba qualquer tipo de censura a obras sobre pessoas públicas. Depois de aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em abril, a matéria deveria seguir diretamente para o Senado, mas foi barrada pela apresentação de um recurso, assinado por 71 parlamentares. Eles querem que o tema passe, primeiro, pelo plenário da Câmara.
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Barbosa defende publicação de biografias não autorizadasPara Cardozo, proibição de biografias não autorizadas é censuraConselho de Comunicação do Congresso dispensa autorização para biografiasEm novembro, STF irá ouvir sociedade sobre biografias não autorizadasCâmara votará urgência do projeto sobre biografiasCongresso banca refeições de parlamentares em restaurantes de grife com dinheiro público“Primeiro por uma questão regimental. Essa matéria não está no rol das que podem tramitar de forma terminativa (ir para o Senado sem passar pelo plenário). No mérito, também sou contra, porque a Constituição que determina a liberdade de expressão, de pensamento e de realização de atividades artísticas também estabelece a inviolabilidade da imagem e da privacidade das pessoas. Hoje, você não precisa pedir autorização (para publicar uma biografia), mas pode ter a obra retirada de circulação, determinada por um juiz, caso se sinta ofendido. Será que o Brasil está pronto para avançar tanto, dando licença absoluta nesse sentido?”, questiona Marcos Rogério.
Para o relator do projeto, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), é anacrônico manter uma legislação que impede, quando acionada, a circulação de biografias de gente pública. “O Código Civil, ao falar em autorização, abre brecha para a censura. Com base nos artigos do Código Civil que o projeto modifica, o biografado consegue impedir a circulação ou retirar o produto do mercado. Pela nova redação proposta, ele poderá pedir indenização por danos e, no caso de uma calúnia ou inverdade, continua com o direito de acionar o Judiciário para pedir, se for o caso, a proibição”, diz Molon.
Nessa terça-feira, audiência na Comissão de Cultura sobre o centenário de Vinicius de Moraes, o cantor Fagner se juntou ao grupo de artistas contrários a qualquer proibição. “Quem não gostar do que for publicado que entre na Justiça. Eles estão pagando mico, queimando o próprio filme ao defender a proibição”, disse Fagner, referindo-se a Caetano Veloso e Gilberto Gil, que já se manifestaram publicamente pela autorização no caso de biografias. Os baianos fazem parte do grupo Procure Saber, que, por meio da empresária Paula Lavigne, abriu a polêmica sobre o assunto. Por outro lado, o Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música, que reúne nomes como Frejat, Ivan Lins e Fernanda Abreu, divulgou nota rechaçando a ideia de avaliação prévia para liberação de obras biográficas. Nana Caymmi também se manifestou em favor da liberdade dos escritores. Livros sobre Roberto Carlos e Noel Rosa são alguns dos que estão, hoje, sob censura no país.