Com a política econômica sob fogo cerrado dos opositores da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014, coube ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, o contra-ataque. Contrariado com as críticas feitas por Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC), Mantega afirmou que a gestão tucana implantou o regime de metas de inflação, mas não cumpriu.
Na entrevista concedida ontem ao jornal O Estado de S. Paulo, em Brasília, Mantega afirmou que os fundamentos macroeconômicos durante os anos do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) eram “frágeis”, que Arminio deveria ser “mais modesto” ao falar das taxas de juros reais verificadas na gestão Dilma Rousseff, e que se os tucanos estivessem à frente da economia brasileira durante a explosão da crise mundial, em 2008, o Brasil teria quebrado.
“As reservas internacionais são um dos pilares dos fundamentos da economia. Antes, elas não pagavam nem por alguns meses de importação, e hoje elas pagam um ano e meio de nossas compras externas, que também têm um volume muito maior agora. Reserva é dinheiro no bolso, e o bolso estava vazio nos anos FHC. Os fundamentos no período Arminio eram meio frágeis”, disparou Mantega, segundo quem, até nas semelhanças, a gestão do PT na economia é superior. Quando questionado sobre a volta do déficit na balança comercial em 2013 depois de quase 14 anos, Mantega foi direto: “Mas nosso déficit é menor do que o deles”.
Juros
Uma das críticas feitas por Arminio que mais incomodou Mantega foi centrada nas taxas de juros reais (descontada a inflação). Conselheiro do candidato tucano Aécio Neves (PSDB-MG), Arminio afirmou que os juros reais neste momento “são muito altos”.
Segundo Mantega, a crítica é infundada. “Quando eles estavam no governo qual era a taxa real de juros? Chegou a ser superior a 10% ao ano. E agora ele vem dizer que as nossas estão altas? Ele precisa olhar para aquilo que ele fez. Arminio trabalhou com um dos juros mais altos do mundo. Então ele que fique mais modesto na sua posição”, atacou o ministro.
Mantega também reagiu à comparação feita por Arminio entre a gestão de Dilma e a do ex-presidente Ernesto Geisel (1974-1979), considerado o mais estatizante e desenvolvimentista dos governos militares. “Somos parecidos porque no governo Geisel havia política de desenvolvimento, é isso? E no governo JK não tinha também? E a política econômica de Getúlio, que instituiu a substituição das importações? É fácil fazer paralelo com qualquer coisa”, disse Mantega, “mas fato é que não há nenhuma semelhança com Geisel, que não investia na Petrobras, por exemplo, que é uma das principais estratégias do nosso governo”.
Ele também negou qualquer impulso protecionista da política econômica conduzida por ele desde março de 2006. De acordo com Mantega, a crítica de que o Brasil está mais fechado não faz sentido, e o ministro citou a corrente de comércio (a soma das exportações com as importações) como exemplo. “Passamos de um volume de US$ 100 bilhões em 2002 para cerca de US$ 500 bilhões na atualidade. Isso é fechamento de mercado? O movimento de comércio exterior ficou estagnado na época em que o Arminio era presidente do Banco Central”, disse.
O ministro afirmou que o tripé macroeconômico, alvo de ataque dos tucanos e de Marina Silva (PSB), não foi abandonado. Segundo Mantega, a política fiscal continua sólida, a inflação está sempre abaixo do limite da meta, e a taxa de câmbio continua flutuante. “Houve períodos de exageros do mercado, e nós não permitimos a repetição do equívoco que foi feito no período de Arminio, quando o câmbio se valorizava violentamente. Se teve período que houve valorização artificial, forçada, foi no período FHC, e foi o mercado que obrigou o governo a tornar o câmbio flutuante. A flutuação do câmbio veio na marra; Conosco ela ocorre por decisão nossa”, disse Mantega.