Jornal Estado de Minas

PMDB reclama do PT em 10 estados devido às negociações regionais

Em pelo menos 10 estados, peemedebistas reclamam da arrogância do PT nas negociações regionais, o que pode atrapalhar a aliança dos dois partidos na tentativa de reeleger Dilma

Denise Rothenburg Paulo de Tarso Lyra
Michel Temer e José Sarney: caciques do PMDB, partido aliado do PT, mas que já começa a deixar o Palácio do Planalto em estado de alerta - Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Brasília – O PMDB arma para março uma rebelião que aumentará a dor de cabeça da presidente Dilma Rousseff no planejamento da campanha eleitoral de 2014. Insatisfeitos com a postura do PT nas negociações regionais, 10 diretórios do partido ameaçam organizar uma convenção no início do ano que vem com o objetivo de estudar outros caminhos além do alinhamento automático com os petistas. Na prática, isso significa uma interrogação na aprovação da chapa Dilma presidente e Michel Temer como vice.
A estratégia repete a prática adotada em 2006, quando uma pré-convenção foi marcada para sepultar as esperanças de Anthony Garotinho de ser o candidato do partido ao Planalto. Naquele ano, o partido resolveu apoiar oficialmente a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pavimentando a construção da chapa presidencial nas eleições de 2010.

Os peemedebistas rebeldes estão espalhados pelos diretórios do Ceará, Rio de Janeiro, Maranhão, Alagoas, Bahia, Amapá, Pará, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Amazonas. Em todos eles o roteiro se repete. Em todos eles o PT demonstra extrema dificuldade em apoiar os candidatos do PMDB. No Rio de Janeiro, por exemplo, o partido já optou pela candidatura do senador Lindbergh Farias contra o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Na última quinta-feira, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, almoçou com Pezão e o governador do Rio, Sérgio Cabral. O encontro só serviu para aumentar a crise entre os dois partidos no estado.

No Maranhão e no Amapá, a razão da crise é a mesma: a sinalização do PT maranhense de que pode romper uma longa aliança com o clã Sarney para apoiar a candidatura do presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB). O estrago foi tão grande que o porta-voz da Presidência foi obrigado a divulgar uma nota oficial desmentindo a informação de que a presidente Dilma Rousseff endossa a decisão, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em Alagoas, outro cacique peemedebista está envolvido no foco da insatisfação. O Planalto e o PT apoiam indiretamente uma candidatura do presidente do Senado, Renan Calheiros, ao governo estadual. Essa ideia já havia sido aventada antes da eleição para as mesas diretoras do Congresso. Renan não concordou à época e foi eleito presidente das Casas.

O PT tenta insuflar novamente a candidatura de Renan, pois o vice-presidente da Casa é o petista Jorge Viana (AC), que herdaria a cadeira e comandaria uma casa estratégica no último ano do primeiro mandato de Dilma. Mas Renan não está muito disposto a abandonar o posto, principalmente porque, pelas regras legislativas, tem direito a concorrer novamente ao cargo em fevereiro de 2015. Mas, de olho na influência política local, ele pretende indicar o deputado Renan Filho para o governo estadual. Os petistas afirmam que Renanzinho é muito novo e não teria condições de contrapor-se à hegemonia tucana no estado – o PSDB governa Alagoas e a capital, Maceió.

Excluído

Até mesmo estados em que não há rebelados vivem momentos de tensão interna. Em Goiás, por exemplo, não há sinais de rompimento entre peemedebistas e petistas. O PT, inclusive, deve apoiar a candidatura do empresário José Batista Júnior, o Júnior da Friboi. Com uma carreira empresarial consolidada, ele foi disputado por diversas legendas. Ele chegou a filiar-se ao PSB, mas, após uma negociação que envolveu o vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente Lula e a presidente Dilma,desembarcou no PMDB. Principal liderança do partido em Goiás, o ex-senador Íris Rezende se sentiu excluído das articulações e ameaça questionar a parceria na convenção estadual do ano que vem.