Quem cruza com o empresário Marcos Valério de Souza Fernandes pelas ruas das cidades da Região Central de Minas, próximas a Sete Lagoas, nem imagina estar diante do principal operador do mensalão, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 40 anos de prisão. Quase sempre sozinho e de chapéu, ele pode ser visto em um bar famoso nas redondezas pela cerveja gelada e peixe frito, ou comendo um sanduíche em um carrinho de lanches. Valério frequenta também outros estabelecimentos comerciais dessas cidades, por onde anda sempre a pé.
Pouca gente o reconhece nas ruas, apesar de todo mundo saber que ele mora na região e ensinar de cor e salteado como chegar a sua residência, localizada na zona rural. Desde que se separou da ex-mulher, Renilda Maria Santiago de Souza, o empresário se mudou para uma propriedade de 360 hectares, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, e leva uma vida de fazendeiro. Valério mora em uma bela casa na Fazenda Santa Clara, registrada em nome do empresário mineiro Benito Porcaro Filho. De acordo com um dos funcionários, a fazenda não pertence a Valério e teria sido apenas arrendada de Porcaro, que inclusive mantém suas iniciais em uma placa no portão de entrada da propriedade, que informa também que ali é criado gado nelore.
Ao escolher a região para morar, Valério tenta cumprir pena no presídio Promotor José Costa, em Sete Lagoas, e não em uma penitenciária de maior porte na Região Metropolitana de Belo Horizonte. É que pela legislação em vigor o preso tem direito a cumprir sua pena perto de casa e da família. Além da mudança de residência, Valério teria se casado com uma jovem, apesar de ser visto sempre sozinho. O advogado do empresário, Marcelo Leonardo, não confirma a união, alegando não comentar a vida particular do cliente.
Já da estrada é possível avistar a casa do empresário, que fica em um lugar mais elevado e tem piscina e uma capela em estilo colonial dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Pelo menos três empregados tomam conta da residência. Lá, segundo informações dos moradores da região, ele mantém ainda um haras, onde cria cavalos de raça. O portão principal que leva a sede da propriedade é mantido aberto por um acordo feito com os vizinhos. É que a estrada que corta a fazenda leva a outras propriedades e tem de ser mantida aberta durante o dia para não impedir a circulação de outras pessoas.
Desde que Valério se mudou para lá algumas pequenas propriedades ao redor da Santa Clara foram compradas. A negociação é sempre feita por alguém ligado à fazenda, mas nada é colocado no nome do empresário. Um dos vendedores disse não saber em nome de quem a terra foi colocada, mas garante que toda negociação, bastante vantajosa, foi feita por Porcaro. Ele trocou dois alqueires por quase seis e ainda teve a mudança custeada pela Fazenda Santa Clara. Outros proprietários de terras ao redor também já foram procurados por funcionários da fazenda com propostas de compra, mas ainda resistem.
Além de ter sido condenado pelo mensalão, Valério é réu em vários outros processos ainda em tramitação na Justiça Federal decorrentes do mesmo esquema de caixa dois usado operado por ele durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.