No início dos anos 2000, havia uma tendência de cientistas sociais considerarem “falta de interesse na carreira parlamentar” a movimentação em zigue-zague de deputados entre os cargos executivos e o Legislativo. “O que temos percebido, contudo, é que essa movimentação não significa falta de interesse na carreira, pelo contrário, é uma estratégia usada para facilitar a reeleição e a manutenção da carreira política”, avalia Simone.
Ela aponta a peculiaridade do sistema brasileiro. “A estrutura de oportunidades políticas em nosso sistema faz com que os parlamentares precisem se movimentar entre todas as esferas: federal, estadual e municipal. Não há uma hierarquia clara”, assinala, diferentemente do que, por exemplo, ocorre na Alemanha, onde o deputado federal é sempre mais importante do que as outras esferas de poder. “No Brasil, um cargo no município pode ser mais atraente em termos de ganhos políticos do que continuar na Câmara dos Deputados”, afirma. A carreira política é, portanto, integrada, sem uma definição dessa estrutura do que é ser melhor, se deputado ou prefeito. “Por isso os parlamentares trabalham dentro das oportunidades que se apresentam, tomam os caminhos que acreditam possam trazer maiores benefícios para a continuidade de suas carreiras políticas”, diz a cientista.
Cooptação
A especialista acrescenta que levar obras e benefícios às bases continua sendo a forma mais eficiente de manter a lealdade de prefeitos e líderes dispostos a trabalhar pela reeleição do parlamentar. Nesse sentido, o deputado em geral chega ao Legislativo mais preocupado em carrear recursos às cidades em que é votado do que em fazer um debate político, abraçando causas difusas. Como legislador, só poderá levar obras e benefícios por meio das emendas parlamentares e convênios com órgãos da administração federal. Nesse sentido, o Executivo tem argumentos para cooptar o apoio político, o que, num sistema de fragmentação partidária, envolve intensa barganha com líderes e bancadas nos legislativos.