João Valadares
Nos novos lotes analisados, o ouvidor-geral do Tribunal de Contas da União (TCU), Eduardo Dualibe Murici, o presidente nacional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Haroldo Pinheiro Villar, e até o dono de um cartório em Florianópolis foram vítimas da fraude ignorada pela Justiça Eleitoral. Há situações em que a mesma pessoa assinou mais de uma ficha de apoio. Em todos os casos, novamente, os “apoiadores” alegam que nunca assinaram documento para criar a legenda. Além disso, são ou foram filiados ao Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis) e do TCU.
Diante de novas evidências de fraude na criação do Solidariedade, a Polícia Federal prorrogará a investigação iniciada no mês passado. O ouvidor-geral do TCU afirmou que alguns colegas o tinham alertado que seu nome constava na lista de apoiadores. “Jamais apoiaria. Nunca assinei nada. Isso pode me causar problemas”, relatou Dualibe. O presidente da Associação dos Tabeliães de Florianópolis e dono de um cartório, Naurican Ludovico Lacerda, ficou surpreso ao ser informado de que constava como apoiador. Ele foi servidor do Senado até fevereiro de 2010.
O presidente da Conselho de Arquitetura e Urbanismo, Haroldo Pinheiro Villar, foi servidor efetivo da Câmara até 1995 e, por isso, filiado ao Sindilegis. A assinatura dele consta no lote do Protocolo nº 23.256 também no cartório eleitoral da Asa Norte. Mesmo sem ter assinado absolutamente nada, a Justiça Eleitoral aceitou a ficha.O caso do secretário parlamentar Evandro Viana Gomes, lotado no gabinete da deputada federal Lauriete (PSC-ES), chama a atenção. O partido tentou emplacar duas fichas no nome dele. O cartório reconheceu como verdadeira a primeira falsificação e na segunda, diferente, apenas assinalou a duplicidade do apoio. Em um outro caso, os fraudadores erraram o nome do servidor do TCU Edmilson Joaquim de Oliveira, grafando na ficha aceita Edilson Joaquim de Oliveira.
Outro lado
Na sexta-feira, o deputado Paulinho da Força, antes de ser informado sobre o documento em que o motorista dele protocola as assinaturas nos cartórios, voltou a falar em sabotagem. “A gente mesmo já pediu que a Polícia Federal investigue o caso denunciado. Só aparece gente famosa com assinatura falsificada. Isso é sabotagem”, disse. Ao ser informado de que os lotes foram entregues pelo seu motorista, ele respondeu apenas: “É possível. As assinaturas são colhidas na rua”.
O Sindilegis nega que tenha participado de qualquer tipo de fraude. A entidade se diz interessada na apuração desenvolvida pela Polícia Federal para provar que não repassou os dados de filiados ao Solidariedade. No cartório da Asa Norte, dos 589 eleitores que “assinaram” a ficha de apoio, 555 já foram ou são vinculados ao Sindilegis. Em Águas Claras, até o momento, 190 dos 261 identificados têm vínculos com a entidade sindical.