O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para remover a candidatura do presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao Palácio dos Bandeirantes, mas para isso teria que ceder a vaga de vice na chapa do ministro da Saúde, Antônio Padilha, o candidato do PT. A vaga do Senado já está comprometida com o senador Eduardo Suplicy (PT), que pretende manter o mandato. Kassab avalia ter mais chances do que Padilha de vencer as eleições, pois derrotou o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que é candidato à reeleição, quando se elegeu prefeito de São Paulo, em 2008. Por isso mesmo, resiste ao assédio de Lula.
Na verdade, o PSD enfrenta dificuldades para ter candidaturas próprias na maioria dos estados, porque a legenda foi formada mediante acordos feitos pelo ex-prefeito de São Paulo com governadores dos principais estados do país. É o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro, onde a bancada está na base de apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB). Um de seus integrantes, só para citar um exemplo, é o deputado Felipe Burnier, filho do prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Burnier, um dos caciques do PMDB. Não foi à toa que, na terça-feira passada, Kassab almoçou no restaurante Piantella com o líder da bancada do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que também o ajudou a estruturar o PSD no Rio de Janeiro.
Esses arranjos de Kassab nos estados, a maioria deles negociados pelo secretário-geral do PSD, o ex-deputado Saulo Queiroz — velha raposa política —, limitam a autonomia do partido na disputa de governos estaduais em estados onde teria nomes fortíssimos. É o caso da Bahia, em que o vice-governador, Otto Alencar, se recusa a concorrer ao governo. Ele é a principal liderança baiana do PSD, em condições de enfrentar o peemedebista e ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima e o ministro dos Transportes, César Borges, candidato do PR, que hoje lidera as pesquisas de opinião. Otto avisou a Kassab que pretende disputar a vaga ao Senado na chapa do candidato ao governo escolhido pelo governador Jaques Wagner (PT) — a não ser que o petista concorra ao Senado. Nesse caso, assumiria o governo e concorreria à reeleição.
Projeto nacional
Essa dificuldade para lançar candidatos majoritários nos estados faz da candidatura de Kassab ao Palácio dos Bandeirantes uma necessidade vital para a visibilidade do PSD em nível nacional. Os atuais integrantes da legenda foram eleitos por outros partidos, e a própria identidade do ex-prefeito de São Paulo é mais pragmática do que programática. Tanto que migrou rapidamente da oposição para a base da presidente Dilma Rousseff, mesmo sendo um aliado histórico do ex-governador paulista José Serra (PSDB), um oposicionista figadal.
Mas o que anima mesmo o ex-prefeito de São Paulo a disputar o governo paulista é o cheiro de animal ferido, isto é, a vulnerabilidade de Geraldo Alckmin (PSDB), que concorrerá ao quarto mandato no cargo e sofre o desgaste da longa permanência dos tucanos no poder. Kassab avalia também que o desgaste do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), cuja administração não deslanchou, melhora a imagem de sua gestão na administração da capital e reduz as chances do ministro Padilha.