Depois de aprovarem o fim do voto secreto em todas as circunstâncias previstas na Constituição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senadores se articulam para desidratar a proposta na votação em plenário. Um grupo contrário à abertura em votações de vetos presidenciais e de indicações de autoridades pelo presidente da República manobra para o plenário votar o projeto de maneira fatiada. Na prática, a ideia é que o sigilo caia apenas em casos de cassação de mandato e de análises previstas no regimento interno do Congresso, como na eleição da Mesa Diretora. As outras duas situações — vetos e autoridades — voltariam para a gaveta dos parlamentares.
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Fim do voto secreto avança no SenadoDecisão sobre fim do voto secreto é adiada mais uma vezRelator da PEC quer fim do voto secreto no LegislativoEm meio a questionamentos, Congresso promulga PEC do Voto AbertoSenadores discutem no plenário fim do voto secretoRenan pede mais tempo para Senado discutir voto abertoEnquanto ganham tempo, os senadores contrários ao fim do sigilo para votações de indicações de autoridades e de vetos presidenciais tentam convencer os colegas a destacar do projeto os dois itens. Eles pretendem apresentar uma emenda no plenário pedindo a análise de cada item do projeto e batalham para os dois casos serem rejeitados. Na CCJ, os maiores defensores da manutenção do voto secreto nesses casos foram Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Romero Jucá (PMDB-RR). O último já avisou aos companheiros que apresentará o pedido de destaque desses dois itens em plenário.
Caso os contrários consigam adesão, a Casa deve aprovar o voto aberto nas outras circunstâncias e Renan deve promulgar o texto. Além da cassação de mandato, entram nessa lista casos previstos no regimento interno do Congresso, como a escolha de integrantes da Mesa Diretora. Na avaliação de parlamentares, se esse cenário se consolidar, dificilmente haverá articulação para voltar a discutir a abertura dos votos na análise de autoridades e de vetos presidenciais.
“O que se tenta é um acordo para manter o voto secreto nessas duas circunstâncias. É muito importante que a população fique ligada, porque a pressão legítima é da opinião pública”, avalia o líder do PSB na Casa, Rodrigo Rollemberg (DF), que é a favor da abertura das decisões em todos os casos. O argumento dos que defendem a manutenção na votação de autoridades é que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, são responsáveis por analisar ações penais de parlamentares e um voto contrário a algum que fosse aprovado pela maioria poderia gerar retaliações na Suprema Corte. Já no caso de vetos, a defesa é de que o voto secreto protege os congressistas de pressões do Palácio do Planalto.
Democracia
“Vivemos em uma República e votar contra uma autoridade não pode ser motivo de retaliação. Estamos avançando na democracia e não tem sentido manter o voto fechado no Poder Legislativo”, argumenta Rollemberg. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), ainda não decidiu como vai votar no caso das autoridades. “Tenho convicção de que o voto deve ser aberto nas outras situações. Mas ainda estou avaliando as vantagens da abertura do voto para autoridades. É uma questão política. Não é uma discussão ética, ao contrário da cassação de mandato, por exemplo”, diz.
Para Agripino, na votação da PEC 43/2003, não haverá posição de bancada. Em outras palavras, os senadores estão livres para votar sem orientação dos partidos. “Não é voto de legenda. É voto individual, do que pensa cada um”, avalia. O PMDB, por exemplo, está dividido. Enquanto Jucá briga pela manutenção do sigilo dos dois casos, o relator da matéria, Sérgio Souza (PMDB-PR), é a favor da abertura total. “A democracia só se consolida pelo direito do cidadão de conhecer como vota seu representante”, defende.
Embora diga que não está aberto a negociações, Souza admite que há possibilidade de que a PEC seja fatiada. “Temos discutido todos os dias com senadores para conhecer o que pensam e tentar convencer pela abertura. Mas quem mais faz pressão é a própria sociedade. Há um certo receio no caso de ministros do STF. Mas, se terminarmos com o sigilo em votação de cassação de mandato, já será um avanço gigantesco.”