Lula lembrou os adjetivos usados por opositores, que chegaram a chamar a proposta de “bolsa esmola” e “bolsa vagabundagem”. “Se eu tivesse que voltar no tempo, com a experiência que tenho hoje, começaria novamente o meu governo pelo combate à fome e à desigualdade”, assinalou o petista, para uma plateia repleta de autoridades, entre as quais ministros, governadores e parlamentares.
O ex-presidente ainda reclamou daqueles que se queixam da falta de portas de saída no Bolsa-Família. “É um programa que acaba de completar 10 anos em um país em que a injustiça passa dos cinco séculos”, ressaltou. “As pessoas se incomodam porque os pobres estão recebendo R$ 70, R$ 100 e R$ 150, mas não percebem que o que está acontecendo é uma mudança na mentalidade do Brasil”, destacou Lula.
Direcionando sua fala aos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, responsáveis pelo Orçamento da União, o ex-presidente pediu: “Parem de regatear dinheiro para os pobres!” E, num recado à presidente, disse que serão os pobres os únicos a agradecer o que o governo faz por eles: “Dilma, continue assim. Quem vai lhe agradecer pelo resto da vida são as pessoas pobres que você ajuda porque as outras te esquecerão com muita facilidade”.
‘Na veia’
No Senado, o pré-candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), disse que o mérito de Lula foi ampliar os programas sociais, mas lembrou que os programas de transferência de renda começaram nos oito anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Além disso, foi o Lula quem chamou, durante o debate presidencial de 2002 contra José Serra, os programas sociais do governo Fernando Henrique de esmola”, acrescentou.
Durante discurso no Museu da República, antes das declarações de Aécio no Congresso, Dilma foi enfática ao afirmar que existe, sim, diferença entre a política adotada na gestão tucana e a implantada pelo PT a partir de 2003, e negou que o Bolsa-Família tenha o DNA do PSDB. “Para conseguirmos fazer transferência de renda direta, na veia, bem na veia dos mais pobres, nós, primeiro, unificamos todas as ações do Estado e varremos as políticas clientelistas centenárias no nosso país, centenárias”, destacou a presidente.
Dilma disse também que, por uma questão de espírito democrático e de paciência, é preciso “escutar a oposição”, mas com ressalvas. “Jamais podemos concordar ou aceitar qualquer redução no ritmo do Bolsa Família”, declarou a presidente. “Ninguém que governou de costas para o povo tem legitimidade para atacar o combate à desigualdade que nós fizemos. Muitos dizem que eles se conduzem assim porque não entendem nem a vida dos pobres e também porque nunca quiseram enxergar a pobreza.”
Mais cedo, em 10 mensagens em seu perfil no Twitter, a presidente não economizou adjetivos para registrar os 10 anos do programa Bolsa-Família. Em meio a números e cifras, Dilma afirmou que o Bolsa Família é o “maior programa de inclusão social do mundo”. (Com agências)
Pronto para voltar em 2018
Em almoço de que participou na tarde de terça-feira no Senado, o ex-presidente Lula disse aos presentes, em tom de brincadeira, que está fazendo duas horas de exercícios físicos todos os dias para entrar em forma e que, se “encherem o saco”, estará de volta em 2018. Segundo políticos presentes no almoço, realizado no gabinete da liderança do PTB, Lula fez o comentário logo após fazer uma avaliação de que Eduardo Campos (PSB-PE) e Aécio Neves (PSDB-MG) terão problemas para administrar suas “sombras”, a ex-senadora Marina Silva e o ex-governador José Serra, respectivamente. Alguém, então, perguntou a Lula se ele não se considerava uma “sombra” da presidente Dilma Rousseff. Ele negou, reafirmando que seu objetivo principal agora é reeleger Dilma, mas emendou a declaração, em tom de brincadeira, segundo a qual tem se preparado diariamente para, se lhe “encherem o saco”, ele voltar a se candidatar em 2018. Na solenidade em comemoração aos 10 anos do Bolsa-Família, Lula deu uma rápida e tumultuada entrevista após o ato e disse apenas que está “voltando a ter uma atividade política um pouco mais intensa” nos últimos tempos. Uma dos objetivos que destacou é o de militar contra a negação da política e dos políticos observada em parte dos protestos de rua de junho.