Um grupo de militantes do movimento negro procurará o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na próxima semana, para pressioná-lo a criar a comissão especial que analisará a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que sugere a reserva de vagas para parlamentares negros e pardos na Casa. O texto foi aprovado na última quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e precisa passar por um colegiado antes de ir a plenário. Um dos autores da PEC, Luiz Alberto (PT-BA) adianta que defenderá uma subcota para mulheres negras na própria proposta, que, se aprovada, valerá somente nas eleições de 2018.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora de um grupo de pesquisa que trata de questões raciais e de gênero, Renísia Garcia Filice, acha o projeto importante, mas faz um alerta: os parlamentares negros necessariamente atuarão contra o racismo e a discriminação no Congresso? “Como fazer com que os jovens tenham mais referências positivas negras para além do futebol e do pagode?”.
A proposta, porém, encontra resistências na Casa. “Não acredito que a cor da pele defina maior ou melhor qualidade. O direito deles de participar do processo eleitoral está garantido e criar uma votação separada é dizer que eles são menos capazes, o que não é verdade”, diz o vice-líder do PDT, Marcos Rogério (RO). O líder da minoria na Casa, Nilson Leitão (PSDB-MT), também é contra. “O que tinha de ser feito é limitar e reduzir os custos de campanha, possibilitando o acesso de todos aqueles que não têm condição econômica.”
Detalhes
» A PEC propõe que os partidos criem duas listas para as eleições — uma com candidatos que se declarem negros e pardos e outra com os brancos e demais raças. O eleitor terá que escolher um em cada lista.
» Pela proposta, o número de vagas para negros e pardos de cada casa legislativa corresponderá a “dois terços do percentual de pessoas que se tenham se declarado pretas ou pardas no último censo demográfico”.
» Se o texto estivesse em vigor, haveria 173 parlamentares negros na Câmara dos Deputados, sendo três do DF. Na Câmara Legislativa, nove dos 24 deputados.