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Em agosto, depois de Dilma responder à pressão das ruas com o lançamento de “cinco pactos a favor do Brasil”, a avaliação positiva do governo subiu sete pontos porcentuais - é como se 10 milhões de brasileiros recuassem de sua postura de animosidade. Mas 23,5 milhões não voltaram para o ninho governista - nem em agosto, nem em setembro, nem em outubro.
Nesse contingente que não se deixou convencer pelas políticas de Dilma e pelo marketing de João Santana, há eleitores de todos os tipos, mas alguns segmentos se destacam: os mais jovens, os mais escolarizados, os de renda mais alta e os moradores de municípios médios e grandes.
Questão de idade
Em junho, a taxa de aprovação ao governo era quase igual entre os eleitores de até 24 anos (57%) e os de mais de 55 anos (58%). Os protestos de rua acabaram com essa sintonia. A pesquisa Ibope de outubro mostrou aprovação de 45% entre os mais idosos e de apenas 32% entre os mais jovens. Ou seja, Dilma perdeu quase metade de seus simpatizantes entre os mais novos, e um quinto do apoio entre os mais velhos.
Laís Santos, de 18 anos, disse que já teve “simpatia” pelo governo, mas participou dos protestos de rua e hoje se alinha aos críticos de Dilma Rousseff. Estudante universitária e moradora de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, ela se enquadra em todos os segmentos mais propensos a resistir ao cortejo governista.
Apesar de ressalvar que tem poucas referências em relação ao passado, Laís acha que “as condições de vida melhoraram nos últimos anos”, o que não a impede de apontar problemas na condução do País. A universitária afirma que a corrupção na administração pública chama a atenção: “Os escândalos estão enraizados e podem ser maiores do que os que aparecem na mídia”. E reclama do transporte público, que passou a usar com frequência para ir e voltar da faculdade.
No caso da estudante, o afastamento em relação ao governo não significa alinhamento à oposição. “Se eu disser que não estou contente (com o governo), pode parecer que esteja contente com a oposição, mas não gostaria que ela assumisse.”
Bolso
A divisão do eleitorado por renda mostra que Dilma se recuperou apenas nas faixas mais pobres. Em junho, a presidente era avaliada positivamente por 13,7 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo. Em julho, esse número havia caído para menos da metade, mas, até outubro, passou para 12 milhões (88% do patamar inicial).
No segmento que recebe de um a dois salários mínimos, Dilma colhe outro bom resultado: já é aprovada por 75% do contingente que, em junho, via o governo como “bom ou ótimo”. Mas o quadro é outro nas faixas de renda acima de dois salários mínimos - nelas, a aprovação a Dilma continua a cair, em vez de se recuperar.
Outro público que se afastou de Dilma e não mostra disposição para “reatar” com a petista é o que tem curso superior. A presidente perdeu metade do apoio que tinha nesse segmento: em junho, era de 48%, e em outubro chegou a 25%.
A recuperação da presidente tem ritmos distintos segundo a região pesquisada. No Nordeste, o porcentual que considerava o governo ótimo e bom era de 53% em outubro, 13 pontos porcentuais abaixo do resultado de junho. No Nordeste/Centro-Oeste, Dilma ainda está 23 pontos abaixo do que tinha antes da onda de protestos. A previsão de que o governo levaria quatro meses para se recuperar foi feita pelo marqueteiro João Santana, em e-mail enviado no fim de junho a integrantes do governo e do PT. Santana foi procurado pelo Estado para analisar as últimas pesquisas, mas não respondeu às tentativas de contato.