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Estado de Minas

Assembleia vai ouvir motorista do caso JK

Testemunha-chave do acidente que matou o ex-presidente, Josias Nunes já foi considerado culpado e depois inocente


postado em 04/11/2013 06:00 / atualizado em 04/11/2013 07:37

Daniel Camargos


Um mês depois de o motorista aposentado Josias Nunes de Oliveira, de 69 anos, prestar depoimento à Comissão da Verdade de São Paulo, será a vez da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais escutá-lo. Ele é peça-chave do acidente que matou o ex-presidente Juscelino Kubitschek ,em 22 de agosto de 1976, pois dirigia o ônibus da Viação Cometa que teria fechado o Chevrolet Opala dirigido pelo motorista de JK, Geraldo Ribeiro. Sem controle, o Opala atravessou a pista – no quilômetro 165 da Rodovia Presidente Dutra, próximo a Resende (RJ) – e foi atingido por uma carreta Scania.

Josias é a principal testemunha. Já foi indiciado como culpado e considerado inocente pela Justiça. O depoimento será hoje, às 10h, no Plenarinho 4 da ALMG. De acordo com o deputado estadual Durval Ângelo (PT), que solicitou a audiência, o surgimento de novos fatos caracteriza como atentado político o acidente que provocou a morte de JK e seu motorista.

O deputado se refere ao que disse Josias para a Comissão da Verdade de São Paulo. O aposentado contou que recusou uma mala de dinheiro oferecida por dois homens que foram de motocicleta à sua casa para que assumisse o crime. “Queriam que eu me declarasse culpado e disseram que, se eu não pegasse o dinheiro, bateriam em mim”, afirmou. Em junho do ano passado, o Estado de Minas entrevistou Josias, que não falava com a imprensa desde a época do acidente. Na ocasião, o aposentado disse que se considera uma vítima da história e de reportagens da época. “Se eu fosse fraco teria feito bobagem. É duro pagar sem dever”, lamentou.

OPOSIÇÃO AO REGIME Para entender os motivos das dúvidas sobre a morte de JK é essencial compreender o contexto histórico. À época do acidente, a ditadura ensaiava dois caminhos: uma abertura, como aconteceu, com a declaração da anistia, em 1979, ou uma possibilidade de endurecimento. Estava em pleno vigor a Operação Condor, um ação conjunta dos governos militares do chamado Cone Sul para minar a oposição aos regimes militares.

Um dos documentos que despertam suspeitas é uma carta do coronel chileno Manuel Contreras enviada ao general de divisão João Baptista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), em 1975. A carta discorria sobre a possibilidade de vitória do democrata Jimmy Carter nos Estados Unidos, o que influenciaria a “estabilidade no Cone Sul”. O general chileno citava que JK e o ex-ministro do Exterior do governo do chileno Salvador Allende Orlando Letelier poderiam receber apoio. No ano seguinte, os dois morreram.

A morte de Letelier foi atribuída à Dina, o serviço secreto liderado por Contreras, que explodiu o carro do ex-ministro em Washington, capital dos EUA. JK morreu um mês antes, quando buscava restabelecer a democracia no Brasil. Quatro meses depois, em dezembro, morreu o também ex-presidente João Goulart, de ataque cardíaco. Mais cinco meses se passaram e o ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda também morreu, de infarto e desidratação aguda por febre. Os três formavam a Frente Ampla, grupo de oposição ao regime militar.

EXUMAÇÃO O governo de Minas acatou o pedido para que nova investigação seja feita em um fragmento metálico encontrado no crânio de Geraldo Ribeiro, motorista que dirigia o carro em que estava JK. Ele foi funcionário do ex-presidente por 36 anos. Uma perícia no corpo chegou a ser feita em 1996, constatando que havia um pequeno orifício na cabeça. O laudo oficial relata que se tratava de um pedaço de prego do caixão que perfurou o crânio de Geraldo, mas a comissão pediu que nova exumação seja feita para apurar a questão.


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