Brasília – Apenas cinco dos 16 partidos com representação no Senado se comprometem a votar pelo fim do voto secreto em todas as situações existentes no Legislativo. Para o sigilo ser derrubado, além dos 19 parlamentares dessas legendas, serão necessários mais 30 votos favoráveis à proposta que trata do tema e deve ir ao plenário nesta terça-feira ou quarta feira. Com o baixo apoio dos senadores à abertura total, pode prevalecer uma estratégia articulada pelo PSDB e parte do PMDB de reduzir o alcance do texto. Enquanto isso, a Câmara investe em outra matéria que abre o voto apenas nos casos de cassação de mandato.
A falta de consenso já tirou o assunto da pauta na semana passada. O PMDB, por exemplo, está dividido. O relator da PEC, Sérgio Souza (PR), defende a abertura em todas as situações. Já Romero Jucá (RO) é um dos que articulam para manter secretos os votos de vetos presidenciais e de indicações de autoridades. “Vou reunir a bancada hoje. Se houver muita divergência, vou liberar o voto. Pessoalmente, minha preocupação é em relação aos vetos. A PEC tem extensão às assembleias legislativas e às câmaras municipais. Uma câmara de cidade pequena ficará muito refém do Poder Executivo”, avalia o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).
Os senadores contrários à abertura em todos os casos vão apresentar uma emenda pedindo que seja votado item por item da proposta. A ideia é aprovar a abertura para cassação de mandatos parlamentares – situação de mais apelo popular – e rejeitar as outras situações. Para consolidar a manobra, o grupo tenta ganhar o voto de mais senadores. O ex-presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), é um dos que têm chamado colegas para conversar. “Para mim, ele (Sarney) argumentou que todos os parlamentos do mundo têm voto secreto. Eu respondi que nosso país é o que tem mais modalidades”, disse Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que promete votar pela abertura total.
Se apenas o fim do sigilo nos casos de cassação prosperar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai promulgar essa parte do texto e o resto deve voltar para a gaveta da Casa. “À medida que as manifestações de junho ficam distantes, o Senado vai se afastando da agenda das ruas. Quem defende o voto secreto pensa com a cabeça da velha política”, diz o líder do PSB, Rodrigo Rollemberg (DF).