Brasília - Um dos principais denunciantes do cartel do metrô em São Paulo, o deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT) levou informações sobre o caso ao presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Marques de Carvalho, meses antes de o órgão fechar com a Siemens um acordo de leniência. O Cade apura denúncias de cartel no setor metroferroviário paulista durante governos tucanos entre os anos de 1998 e 2008.
O presidente do Cade é investigado pela Comissão de Ética da Presidência por omitir em quatro currículos oficiais, entre eles o analisado na sabatina que viabilizou sua nomeação no cargo, ter sido chefe de gabinete de Simão Pedro na Assembleia paulista entre 19 de março de 2003 e 29 de janeiro de 2004. A informação foi revelada pelo jornal, o que gerou a abertura do processo.
Quando a ligação veio à tona, o presidente do Cade e o deputado negaram, veementemente, em entrevistas gravadas, terem se encontrado ou tratado do assunto após Vinícius assumir o cargo, em julho de 2012.
“Nossa, faz muitos anos que eu não falo com ele (Simão Pedro)... Como presidente do Cade nenhuma vez ele foi lá... Ele, até onde eu sei, tinha umas denúncias que ele tinha feito ao MP. Nunca fez denúncia ao Cade”, afirmou Vinícius, em 24 de setembro passado.
O deputado também assegurou não ter falado com o ex-assessor, nem por telefone, após ele assumir o órgão de investigação. “Quero te reafirmar: não tive contato com o Cade nesse período”, sustentou, atribuindo a uma “coincidência danada do destino” o caso ter aportado no Cade após a nomeação de Vinícius.
Mas o próprio Simão Pedro informou, no Twitter, o primeiro encontro com o ex-assessor, em setembro de 2012. “Tenho audiência c/ Vinícius Carvalho, presidente do Cade, sobre formação de cartel nas obras do Metrô/SP”, avisou, pouco antes da viagem a Brasília, com passagens reembolsadas pela Assembleia.
Registros da portaria do Cade em Brasília, obtidos pela reportagem indicam outro encontro entre os dois, a partir das 11h36 de 6 de dezembro. Procurado pela reportagem, ontem, o deputado mudou a versão. “Diante de evidências de formação de um cartel neste último caso, levantadas inclusive pelo Tribunal de Contas do Estado, resolvi, dentro das prerrogativas de meu mandato, procurar o Cade na tentativa de encaminhar o assunto naquele órgão”, admitiu, em nota.
Em meados deste ano, o Cade anunciou o acordo de leniência. O Cade, em nota, disse que as agendas públicas estão no site, mas que encontros sigilosos, incluindo os que motivam abertura de investigações, não são divulgados.