Foi aprovada ontem pelo grupo de trabalho que trata de reforma política na Câmara dos Deputados uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece diversas mudanças no sistema eleitoral e partidário no país. O texto será apresentado ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e seguirá para apreciação por uma comissão especial. Entre os pontos principais do projeto estão o fim da reeleição para cargos executivos, a instituição do voto facultativo, a implementação de uma cláusula de desempenho partidária – chamada comumente de cláusula de barreira – e a criação de circunscrições eleitorais – chamadas de distritos – nos estados.
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PEC da reforma política veta reeleição para governoGrupo da reforma política discute duração de mandatos majoritáriosLula defende reforma política em discurso na CâmaraDilma defende ampla reforma políticaSTF declara voto impresso inconstitucionalO projeto também prevê a perda de mandato para o parlamentar que se desfiliar voluntariamente do partido pelo qual foi eleito e facilita a criação de partidos, permitindo que 5% dos deputados criem uma legenda sem coletar assinaturas, ou que 0,25% dos eleitores referendem uma nova agremiação (atualmente é necessário 0,5%). Outra mudança prevista é a criação de um teto nominal em reais para doações de campanha. Atualmente, empresas podem doar 2% de seu faturamento bruto e pessoas físicas 10% do rendimento bruto.
O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Bruno Reis considera que a PEC, se aprovada como está, terá “efeitos ambivalentes” no sistema político. Para ele a chance de piorar é maior do que de melhorar, mas há pontos positivos no texto. “Muda um bocado a dinâmica das eleições se você divide os distritos em espaços que não vão ter 10 representantes cada um. As chapas ficarão menores e mais discerníveis, talvez fique mais parecido com a eleição do Senado, mas com mais pessoas eleitas do que somente três”, avalia.
O professor se diz contrário à ideia de coincidência de eleições, que, segundo ele, reduz o debate eleitoral com uma “intenção mesquinha de economizar dinheiro, como se isso fosse o mais importante”. Bruno condena também o voto facultativo: “O fato de o voto ser facultativo tem efeito político relevante e sistemático. No mundo perfeito o voto teria que ser facultativo. No mundo real ele piora o clientelismo, e na maioria dos países ele elitiza o voto. O rico vota mais do que o pobre, o branco vota mais do que o negro, os universitários votam mais do que os que têm menor escolaridade”.