Os dois têm o mesmo objetivo: comandar o PT de Minas Gerais no ano que vem, quando o partido vai tentar chegar ao comando do Palácio da Liberdade pela primeira vez, desta feita com discurso de união inédita de todas as tendências do partido pela candidatura do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. A missão estará nas mãos do deputado federal Odair Cunha ou da secretária de Finanças petista, Gleide Andrade, que disputam no domingo a preferência dos militantes no processo de eleição direta (PED) do PT. Em entrevista ao Estado de Minas, os dois afirmaram que vão trabalhar para agregar os partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT), dando-lhe um palanque forte em Minas Gerais para concorrer com a provável candidatura do senador Aécio Neves (PSDB). A diferença é que, enquanto Gleide ainda acredita em uma aliança com o PMDB já em primeiro turno para combater o candidato aliado ao governador Antonio Anastasia (PSDB), Odair Cunha fala em união dos partidos no segundo turno. O mote de campanha de Gleide é “dedicação integral”, já que ela deixará o cargo de assessora da bancada no Legislativo, se eleita, para ficar por conta do PT. Já Odair Cunha, que atuará na condição de parlamentar, aposta na gestão colegiada da executiva e promete se dedicar inteiramente ao PT. Ambos falam na necessidade de regionalizar as ações do partido e colocam, entre suas propostas, a de melhorar a relação com os movimentos sociais. Odair tem o apoio de Pimentel e Gleide do ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias.
ENTREVISTA/ODAIR CUNHA - DEPUTADO FEDERAL
Quais são suas principais propostas para o PT em Minas?
A principal proposta é fazer um partido presente em todas as regiões de Minas, que aprofunde seu diálogo com os movimentos sociais e prepare o partido para a disputa eleitoral de 2014, na qual vamos ter o desafio de construir um programa de governo que ganhe o coração e a mente dos mineiros.
O que o senhor pretende fazer de diferente em relação à gestão atual?
A gestão atual contribuiu muito com o crescimento do partido no estado. O PT cresceu qualitativamente e quantitativamente, em número de diretórios municipais, vereadores, prefeitos. Temos uma grande bancada de deputados federais e estaduais. O que precisamos é melhorar o nosso processo de comunicação. Precisamos estabelecer instrumentos para uma comunicação interna e externa mais eficiente. Criar uma rede de comunicação entre nós mesmos.
E como o senhor pretende trabalhar o processo eleitoral de 2014?
Entendemos que há uma janela de oportunidade, porque há um esgotamento do projeto dos tucanos no estado. Então, precisamos ter um partido que seja capaz de liderar as forças democráticas em Minas, a partir de uma ampla unidade interna, buscar uma ampla maioria com o conjunto de partidos que compõem a base de sustentação da presidente Dilma, a fim de levar o ministro Fernando Pimentel a uma vitória no estado e reelegendo a presidente Dilma.
E essa frente vai ter o PMDB já no início? O partido vem falando em ter candidatura própria.
Nós respeitamos a posição do PMDB. É um partido estratégico para nossa aliança nacional e, claro, em Minas Gerais também. Estaremos juntos com o PMDB no primeiro ou no segundo turno. Se tiverem essa posição de lançar candidatura própria, nós vamos respeitar, não vamos trabalhar contra. Já estamos juntos nacionalmente, então não nos compete estabelecer uma guerra com o PMDB de Minas. Pelo contrário, queremos manter um diálogo franco. O que queremos é manter as pontes com o PMDB e com os partidos que compõem a base de sustentação da presidente Dilma em Minas, como PSD, PCdoB, PRB, Pros e o PTdoB.
E como será conduzir a campanha da presidente Dilma, tendo como adversário um mineiro que governou o estado?
Será um mineiro que governou o estado contra uma mineira que é presidente da República, que tem compromisso com Minas Gerais e tem tido oportunidades de desenvolver diversas ações em Minas. Nós teremos que apresentar esse conjunto de ações à população mineira, mostrando o que ela fez para o estado.
Como fazer para aumentar as bancadas federal e estadual?
O fato de termos um candidato majoritário no estado com força aumenta muito as nossas chances de termos uma ampliação da bancada. Além disso, estamos identificando em cada região do estado companheiros do partido que possam ser candidatos a deputado estadual e federal. Ou seja, buscaremos fortalecer a nossa chapa, além do que a própria candidatura majoritária tende a colaborar.
O PED costuma ser complicado, com muitas brigas internas. Desta vez será assim ou quem perder vai apoiar o ganhador?
Nós temos divergências, mas elas não se constituirão em divisão ou desunião do partido. Percebo que há um sentimento do PT de Minas hoje de que o nosso principal adversário não está dentro, ele está fora do partido. E em relação a isso, estaremos unidos em torno do nome de Fernando Pimentel e por um programa que será construído a muitas mãos, em diálogo com nossa militância e com os movimentos sociais. Não vamos repetir velhas disputas nem cometer velhos erros. Se eu não ganhar vou apoiar 100% quem vencer.
Sua adversária fala em dedicação integral e o senhor tem a força do mandato. O que é melhor para o partido?
Não se trata de ter ou não mandato. Trata-se de qual tarefa você quer e se propõe a cumprir. Nós entendemos que a direção do partido é colegiada, em que cada membro da executiva tem seu papel, relevância e importância. Entendemos que cada membro da direção do partido vai ter disponibilidade para servir o tempo todo em torno de um projeto. Queremos um partido dirigente, que seja forte, atuante e presente em todas as regiões. A força do partido é sua militância e são os seus mandatos.
ENTREVISTA/GLEIDE ANDRADE - SECRETÁRIA DE FINANÇAS DO PT
Quais são suas principais propostas para o PT em Minas Gerais?
A primeira é a reeleição do nosso projeto nacional. Temos de reeleger a presidente Dilma e para isso temos de construir um palanque forte em Minas. Também compreendemos que temos a oportunidade de eleger governador de Minas o nosso ministro Fernando Pimentel. Então vamos ter que fazer em Minas uma aliança muito ampla que contemple todos os partidos da base. Outro ponto é que o PT precisa requalificar sua relação com os movimentos sociais, que há muito tempo não está legal. Dentro da minha proposta está o que chamo de mesa permanente de diálogo com os movimentos.
Em relação ao processo eleitoral de 2014, como a senhora pretende conduzir se eleita?
Quero conduzir da maneira mais democrática possível. Penso que estamos entrando muito bem em 2014 porque já temos nosso candidato a governador e o PT está unido. Agora temos que organizar a campanha, compreendendo a dimensão do estado e que para isso a primeira coisa de que precisamos é atualizar o programa de governo do PT, porque não queremos só ganhar, queremos mudar o governo. Queremos fazer em Minas o que em 10 anos o PT vem fazendo no governo federal.
O PMDB tem falado em candidatura própria. A senhora acredita ainda na possibilidade de os dois partidos saírem juntos?
Acredito plenamente. Acho que o PMDB é um aliado de primeira hora com quem temos a maior relação de respeito, inclusive nacionalmente. Tenho absoluta convicção de que o nosso candidato Fernando saberá conduzir com maestria esse diálogo para que possamos sair em uma chapa só. Não só PT e PMDB, mas o PCdoB e todos os partidos que compõem a base da presidente Dilma em Minas.
E que nome do PMDB seria bom para compor?
Aí eu não posso dizer porque se eles dessem palpite dentro do PT eu não gostaria. Então não vou dar palpite no quintal alheio.
Em relação à questão nacional, como vai ser trabalhar a campanha de Dilma em Minas sendo que, desta vez, o possível adversário será um outro mineiro, que foi governador do estado?
Aí vou falar da marca da minha campanha, que é a dedicação exclusiva. Este ano o enfrentamento nosso não é com um paulista, é com um mineiro. Então, se o PT não estiver muito bem organizado nos seus vales, nas suas veredas, nos seus rincões, no seu cerrado, nós vamos ter muita dificuldade. Vamos ter de ter um partido interiorizado, forte, e diretórios municipais com autoridade para condução da campanha da presidente Dilma. Terá que ser uma campanha regionalizada, muito descentralizada, uma campanha que não pode ser coordenada do ar condicionado de Brasília nem do escritório de Belo Horizonte.
E em relação às chapas de deputados, qual a estratégia para aumentar as bancadas?
Temos condições reais de aumentar nossa bancada de deputados estaduais e federais. Hoje temos 11 deputados estaduais e nove federais. Somos o partido de maior preferência em Minas e temos grandes companheiros nesse interior afora com grande viabilidade eleitoral. Penso que, passado o PED, vamos ter que abrir a discussão das chapas também. Na minha leitura temos de ter uma chapa forte, que respeite a paridade de homens e mulheres, e uma chapa também regionalizada. O PT deverá ter candidatos em todas as regiões do estado.
O PED sempre virou um pé de guerra no PT. Essa eleição agora vai ser assim também ou quem sair perdedor vai apoiar o outro lado?
Da minha parte quero dizer que tenho toda a grandeza para essa disputa. Trabalhei muito, visitei mais de 200 cidades no estado, até em razão da disponibilidade que tenho. Estou muito otimista na minha vitória. O que eu quero é que o PED seja elevado, que domingo as pessoas possam votar normalmente sem acontecer como na vez passada, que teve polícia e pessoas que não eram filiadas ao PT tumultuando locais de votação. Estamos trabalhando para ter o PED mais elevado possível, respeitando o filiado e o voto de cada um. E sendo assim não vejo porque o day after não ser legal.
O que é melhor para o partido, a dedicação integral ou a força de um mandato parlamentar?
Estou convencida, e acho que a base do PT também, que os mandatos do PT têm que estar a serviço do PT, e não o contrário. O PT vem sendo muito punido em razão disso. Minha candidatura é de independência, de autonomia e soberania porque eu não estou vinculada a nenhum mandato.