Brasília – Quase 50 anos depois da deposição do presidente João Goulart pelo golpe militar de 1964, um capítulo da história brasileira será recontado. Na próxima quinta-feira, de volta à capital federal, Jango receberá as homenagens fúnebres como chefe de Estado que lhe foram negadas em 1976, após morrer, aos 57 anos, no exílio na Argentina. Enterrado às pressas na sua cidade natal – São Borja (RS) –, sem realização de autópsia e sob as vistas contrariadas de autoridades militares, o caixão de Jango será desenterrado na quarta-feira, e os restos mortais levados para Brasília. Serão recebidos com honras militares pela presidente Dilma Rousseff, na base aérea do aeroporto internacional de Brasília.
“É um momento histórico da maior importância. O procedimento investigativo é, de um lado, a busca da verdade pela família e pela nação. Do outro, é a realização de um ato de justiça, já que o único presidente que morreu no exílio não recebeu nenhuma homenagem especial”, afirma a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. De acordo com ela, a orientação da presidente é preparar esse ato com respeito pleno à figura histórica de Jango.
Amostras No dia da exumação, estarão presentes autoridades, os peritos convocados e familiares. Mas só poderão ficar próximos ao jazigo os especialistas do Brasil, da Argentina, do Uruguai e de Cuba, responsáveis pelos exames e análises do material, e o filho do ex-presidente João Marcelo Goulart, que é médico. A participação do perito cubano Jorge Perez Gonzalez foi uma solicitação dos familiares. Reitor da Faculdade de Medicina de Cuba, Perez participou da exumação do revolucionário venezuelano Simón Bolivar e do argentino Che Guevara.
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Tudo pronto para a exumação do corpo de João GoulartRestos mortais do ex-presidente João Goulart serão exumadosRestos mortais do ex-presidente João Goulart serão analisados por peritos europeusPara autoridades, resgate de João Goulart é reabilitacão da importância do ex-presidenteExumação de Goulart reunirá técnicos de vários paísesNo Senado, projeto devolve cargo a João GoulartO processo de exumação dos restos mortais do ex-presidente teve início em 2007, quando os familiares solicitaram a reabertura das investigações sobre sua morte ao Ministério Público Federal. Após o arquivamento do caso pelo órgão, eles recorreram à Secretaria dos Direitos Humanos. Eles se basearam em revelações feitas por Mário Neira Barreiro, ex-agente da ditadura uruguaia, preso em Porto Alegre, que garantiu que Jango foi morto pela Operação Condor. A exumação foi determinada em abril do ano passado pela Comissão Nacional da Verdade, criada pela presidente Dilma.
Jazigo vistoriado
A sepultura de Jango permanece intocada desde 1976, segundo o governo. Peritos já estiveram no cemitério em agosto deste ano inspecionando o local, tirando medidas e coletando informações sobre o jazigo, que é da família. No caso de Jango, não houve a tradicional exumação do cadáver que ocorre, em geral, a partir do quinto ano após o enterro para acomodação dos restos mortais em sepulturas menores e definitivas. O jazigo onde está o caixão do ex-presidente tem três metros de profundidade e duas galerias. De um lado estão Jango e sua mulher. Do outro, sua irmã Neuza Brizola e o marido e ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola.
Os peritos verificaram, no entanto, que há sinais de infiltração por água de chuvas, o que pode comprometer a integridade do material que precisa ser coletado para as perícias. A equipe responsável pela exumação, composta de peritos brasileiros e também da Argentina, do Uruguai e de Cuba, já providenciou um caixão um pouco maior que o do ex-presidente, para, se possível, acomodá-lo integralmente e, assim, evitar alteração do estado em que forem encontrados os despojos. Caso não tenha condições de retirá-lo sem desfazer a estrutura do caixão, os restos mortais serão acomodados em uma caixa.