Jornal Estado de Minas

Comissão de Ética investiga voo de Ideli

Ministra terá 10 dias para explicar viagens a eventos de sua base eleitoral a bordo de helicóptero destinado a atendimento médico. Samu desmente versão dada pelo governo

Daniela Garcia João Valadares Amanda Almeida

Ideli (C) se dirige à aeronave da PRF: no mesmo dia, foram registrados 40 acidentes, com 21 feridos - Foto: Reprodução - 25/1/13
 A Comissão de Ética Pública da Presidência da República abriu procedimento para investigar a conduta da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela foi convocada a prestar esclarecimentos sobre o uso do único helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Santa Catarina, conveniado com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O processo foi aberto depois de o Correio Braziliense denunciar que Ideli, pré-candidata ao Senado, turbinou aparições públicas em sua base eleitoral justamente a bordo dessa aeronave, destinada prioritariamente à remoção de feridos graves resgatados em acidentes.

O presidente da comissão, Américo Lacombe, declarou que, com a instituição da reeleição, podem ocorrer atividades com fins eleitoreiros enquanto se está exercendo um cargo. “Todo mundo usa o cargo para campanha desde que foi feita a reeleição”, disse. Ele explicou que a ministra poderá ser punida com uma advertência, sanção que, na prática, não afetaria em nada o trabalho dela. A comissão pode também sugerir à presidente Dilma Rousseff que demita Ideli, que tem 10 dias corridos, prorrogáveis, para prestar os esclarecimentos. O relator do caso ainda não foi escolhido. Caberá a ele requisitar informações ao Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF-SC), que já investiga o uso do helicóptero.

 A assessoria de imprensa da Secretaria de Relações Institucionais informou, por meio de nota, que Ideli “está à disposição para prestar quaisquer informações à Comissão de Ética Pública da Presidência República”. Nota de esclarecimento divulgada na sexta-feira à noite pela secretaria e pelo Ministério da Justiça sobre o caso, entretanto, foi desmentida na manhã de ontem pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) em Santa Catarina. As duas pastas informaram que o helicóptero utilizado por Ideli “não é conveniado ao Samu desde agosto de 2012”, portanto não poderia mais realizar remoção de vítimas de acidentes. Por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde de Santa Catarina, o Samu, por sua vez, garantiu que o convênio com a Polícia Rodoviária Federal para o resgate de pacientes graves está em pleno vigor, tendo sido renovado em dezembro.

Na nota de sexta-feira, a secretaria e o Ministério da Justiça alegam que “nos dias em que houve utilização do helicóptero não ocorreu nenhum acidente que justificasse a requisição da aeronave para prestação de socorro.” O Samu em Santa Catarina não confirma a informação. Diz apenas que, em pelo menos dois dias em que a ministra utilizou o helicóptero, “os registros mostraram que o Patrulha estava baixado para atividade de saúde, ou seja, estava em atividade policial”.

Acidentes

Após a denúncia contra Ideli, no início de outubro, o MPF em Joinville instaurou inquérito civil público para apurar o caso. Dados colhidos por três procuradores da República apontam acidentes com mortes nos dias em que a ministra utilizou a aeronave. A investigação, agora, procura detalhar as circunstâncias de cada ocorrência.

Em 25 de janeiro, por exemplo, foram registrados 40 acidentes, com 21 feridos. Naquele dia, uma sexta-feira, a maca foi retirada do helicóptero porque a ministra precisava utilizá-la. Ela se deslocou até a cidade de Laguna, distante 130 quilômetros de Florianópolis, onde acompanhou a assinatura de ordem de serviço e verificou trabalhos de transposição do Túnel do Morro do Formigão. De lá, voou até Timbé do Sul, para o anúncio de publicação do edital de obras de pavimentação.

Em 25 de março, o sistema da PRF contabilizou 39 acidentes, com 20 feridos e um morto. Ideli utilizou novamente a aeronave. Seguiu até Mafra, a 300 quilômetros da capital catarinense. Visitou obras na BR-280 e participou de reunião com prefeitos da região. Em 24 de setembro de 2012, a aeronave ficou à disposição de Ideli das 9h às 18h para evento de anúncio de lançamento de um edital para duplicação de rodovias em Blumenau. A ministra ainda foi para Jaraguá do Sul, onde se reuniu com empresários locais. Nesse dia, ocorreram 37 acidentes, com 22 feridos e um morto.

A oposição na Câmara dos Deputados anunciou ontem que pedirá o afastamento imediato de Ideli do comando da Secretaria de Relações Intitucionais. Segundo o líder da minoria na Casa, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), um requerimento será entregue à mesa diretora para que seja encaminhado à Presidência da República.

Memória

Representação arquivada


Não é a primeira vez que a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (foto), é investigada pela Comissão de Ética da Presidência da República. Motivado por uma representação feita pelo PSDB, em 2012, o colegiado abriu procedimento para esclarecer denúncia de que uma empresa contratada pelo Ministério da Pesca na época em que Ideli comandava a pasta teria doado recursos para o PT em Santa Catarina. Após apuração, a comissão decidiu arquivar o caso.

Substituições técnicas

A presidente Dilma Rousseff confirmou ontem, após assinatura de atos no Palácio de Gobierno, em Lima, que fará algumas substituições no ministério até o fim do ano para compensar a saída dos titulares que concorrerão nas eleições de 2014. “É muito possível (que ministros deixem o governo para iniciar a campanha). Vou fazer substituições. Agora já dei a notícia”, disse Dilma. A presidente deve nomear um ministério com perfil técnico e pretende promover as mudanças em dezembro e em janeiro.