A Comissão de Ética Pública da Presidência da República abriu procedimento para investigar a conduta da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela foi convocada a prestar esclarecimentos sobre o uso do único helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Santa Catarina, conveniado com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O processo foi aberto depois de o Correio Braziliense denunciar que Ideli, pré-candidata ao Senado, turbinou aparições públicas em sua base eleitoral justamente a bordo dessa aeronave, destinada prioritariamente à remoção de feridos graves resgatados em acidentes.
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Para transportar ministra, helicóptero deixou de socorrer 75 pessoas em SCIdeli é alvo de inquérito civil por uso de helicóptero da PRFIdeli se explicará por escrito ao Congresso sobre uso de helicóptero da PRFDilma e Conselho tentarão firmar pacto fiscal, diz IdeliBase do governo tenta blindar os voos da ministra Ideli SalvattiIdeli terá de se explicar sobre uso de helicópteroA assessoria de imprensa da Secretaria de Relações Institucionais informou, por meio de nota, que Ideli “está à disposição para prestar quaisquer informações à Comissão de Ética Pública da Presidência República”. Nota de esclarecimento divulgada na sexta-feira à noite pela secretaria e pelo Ministério da Justiça sobre o caso, entretanto, foi desmentida na manhã de ontem pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) em Santa Catarina. As duas pastas informaram que o helicóptero utilizado por Ideli “não é conveniado ao Samu desde agosto de 2012”, portanto não poderia mais realizar remoção de vítimas de acidentes. Por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde de Santa Catarina, o Samu, por sua vez, garantiu que o convênio com a Polícia Rodoviária Federal para o resgate de pacientes graves está em pleno vigor, tendo sido renovado em dezembro.
Na nota de sexta-feira, a secretaria e o Ministério da Justiça alegam que “nos dias em que houve utilização do helicóptero não ocorreu nenhum acidente que justificasse a requisição da aeronave para prestação de socorro.” O Samu em Santa Catarina não confirma a informação. Diz apenas que, em pelo menos dois dias em que a ministra utilizou o helicóptero, “os registros mostraram que o Patrulha estava baixado para atividade de saúde, ou seja, estava em atividade policial”.
Acidentes
Após a denúncia contra Ideli, no início de outubro, o MPF em Joinville instaurou inquérito civil público para apurar o caso. Dados colhidos por três procuradores da República apontam acidentes com mortes nos dias em que a ministra utilizou a aeronave. A investigação, agora, procura detalhar as circunstâncias de cada ocorrência.
Em 25 de janeiro, por exemplo, foram registrados 40 acidentes, com 21 feridos. Naquele dia, uma sexta-feira, a maca foi retirada do helicóptero porque a ministra precisava utilizá-la. Ela se deslocou até a cidade de Laguna, distante 130 quilômetros de Florianópolis, onde acompanhou a assinatura de ordem de serviço e verificou trabalhos de transposição do Túnel do Morro do Formigão. De lá, voou até Timbé do Sul, para o anúncio de publicação do edital de obras de pavimentação.
Em 25 de março, o sistema da PRF contabilizou 39 acidentes, com 20 feridos e um morto. Ideli utilizou novamente a aeronave. Seguiu até Mafra, a 300 quilômetros da capital catarinense. Visitou obras na BR-280 e participou de reunião com prefeitos da região. Em 24 de setembro de 2012, a aeronave ficou à disposição de Ideli das 9h às 18h para evento de anúncio de lançamento de um edital para duplicação de rodovias em Blumenau. A ministra ainda foi para Jaraguá do Sul, onde se reuniu com empresários locais. Nesse dia, ocorreram 37 acidentes, com 22 feridos e um morto.
A oposição na Câmara dos Deputados anunciou ontem que pedirá o afastamento imediato de Ideli do comando da Secretaria de Relações Intitucionais. Segundo o líder da minoria na Casa, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), um requerimento será entregue à mesa diretora para que seja encaminhado à Presidência da República.
Memória
Representação arquivada
Não é a primeira vez que a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (foto), é investigada pela Comissão de Ética da Presidência da República. Motivado por uma representação feita pelo PSDB, em 2012, o colegiado abriu procedimento para esclarecer denúncia de que uma empresa contratada pelo Ministério da Pesca na época em que Ideli comandava a pasta teria doado recursos para o PT em Santa Catarina. Após apuração, a comissão decidiu arquivar o caso.
Substituições técnicas
A presidente Dilma Rousseff confirmou ontem, após assinatura de atos no Palácio de Gobierno, em Lima, que fará algumas substituições no ministério até o fim do ano para compensar a saída dos titulares que concorrerão nas eleições de 2014. “É muito possível (que ministros deixem o governo para iniciar a campanha). Vou fazer substituições. Agora já dei a notícia”, disse Dilma. A presidente deve nomear um ministério com perfil técnico e pretende promover as mudanças em dezembro e em janeiro.