Jornal Estado de Minas

Comissão da Verdade quer mudar causa da morte de JK

A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo diz que há indícios para considerar que o ex-presidente JK foi assassinado

Daniel Camargos
A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo está preparando um documento para pedir que a causa da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek seja reconsiderada. O relatório será entregue à Comissão Nacional da Verdade (CNV). “Com os indícios que nós temos vamos pedir que a CNV abra procedimento para considerar o assassinato de JK”, afirma o vereador Gilberto Natalini (PV-SP). O desejo da comissão é fazer semelhante ao que foi feito com o jornalista Vladimir Herzog, que somente em março deste ano teve um atestado de óbito afirmando que ele foi morto pela ditadura e não se suicidou, como os militares tentaram forjar, em 1975.
A comissão paulista ouviu nessa quarta-feira o depoimento do perito aposentado Carlos Alberto de Minas, que estava presente na exumação do corpo do motorista de JK, Geraldo Ribeiro, em 1996. “Quando tiraram do ossuário estava próximo e vi que havia um buraco no crânio. Quando levantei a máquina para fotografar muitas pessoas entraram na frente e os restos mortais foram levados”, recorda o perito aposentado. Ele afirma que no pouco tempo que viu o buraco conseguiu perceber que tinha a grossura de uma caneta. “É típico de um orifício de entrada de projétil de arma de fogo”.

Diversas frentes tentam desvendar o quebra-cabeça que pode ter levado à morte de JK – em São Paulo, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e na própria CNV. O ex-presidente morreu em um acidente em 22 de agosto de 1976, quando o Chevrolet Opala dirigido pelo motorista Geraldo Ribeiro teria sido fechado por um ônibus da Viação Cometa, perdido o controle, atravessado a pista – no quilômetro 165 da Rodovia Presidente Dutra, próximo a Resende (RJ) – e sido atingido por uma carreta Scania.

Tanto a comissão paulista quanto a da Assembleia já escutaram o depoimento do motorista do ônibus da Viação Cometa, Josias Nunes, que contou ter recusado uma mala de dinheiro oferecida por dois homens que foram de motocicleta à sua casa para que ele assumisse o suposto crime. “Queriam que eu me declarasse culpado e disseram que, se eu não pegasse o dinheiro, bateriam em mim”, afirmou.

Além do motorista e do perito aposentado, a Comissão da Verdade paulista vai ouvir nos próximos dias Ademar Jahn, que dirigia uma carreta atrás da que se chocou com o Opala em que estava JK. Segundo Natalini, o motorista da carreta já afirmou ter visto Geraldo Ribeiro atravessando o canteiro da Via Dutra debruçado sobre o volante, o que reforça a tese de que ele foi atingido por um tiro.

Natalini quer ainda fazer uma nova perícia técnica no fragmento metálico encontrado no crânio de Geraldo Ribeiro durante a exumação de 1996. À época, o objeto foi analisado e o laudo da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais concluiu que o metal era “fragmento de prego enferrujado e corroído” que se desprendeu do caixão.