Jornal Estado de Minas

Dupla cidadania de Pizzolato reduz as chances de o Brasil conseguir extraditá-lo

Interpol procura ex-diretor do Banco do Brasil na Itália

Júlia Chaib Marcelo da Fonseca
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A fuga do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato para a Itália o tira, por tempo indeterminado, da mira da Justiça brasileira. Ele se valeu da dupla cidadania — brasileira e italiana — para escapar e as chances de o governo conseguir trazê-lo de volta são pequenas. A Itália costuma negar a extradição de cidadãos italianos, como fez com o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. Pesará também o fato de o Brasil ter negado a extradição do ex-militante italiano Cesare Battisti.
A Polícia Federal só foi informada da fuga na manhã de ontem, pelo advogado de Pizzolato, Marthius Sávio Cavalcante. A Interpol foi acionada para  localizar o ex-diretor na Europa. Depois de uma resposta da polícia internacional, o Ministério da Justiça pode pedir ao Ministério das Relações Exteriores que encaminhe o pedido de extradição à Itália.

Na sexta-feira, policiais foram ao prédio onde Pizzolato mora, em Copacabana (Zona Sul do Rio de Janeiro) para entregar o mandado de prisão, mas foram recebidos por um casal que informou que ele não aparecia no apartamento havia dois meses. A família do ex-diretor informou ontem que ele deixou o país há 45 dias. Com os passaportes brasileiro e italiano retidos, Pizzolato foi de carro até Ponta Porã (MS), atravessou a fronteira para a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, e seguiu até a capital do Paraguai, Assunção, onde conseguiu a segunda via do passaporte italiano que permitiu o embarque.

Em carta divulgada pela família, Pizzolato disse que documentos, laudos e perícias que comprovariam a inocência dele foram encobertados. “Por não vislumbrar a mínima chance de ter julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição entre Brasil e Itália”, justificou.
 
Retaliação Professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e autor de um livro sobre as relações entre Brasil e Itália, Amado Luiz Cervo explica que os países têm acordo de extradição, mas que, quando a pessoa tem dupla cidadania, ele perde a validade. “Não há dúvida de que o caso Battisti pesará. Ele não foi extraditado, em parte, por uma retaliação do Brasil em relação ao caso Cacciola, e, agora, a Itália pode retaliar”, acredita.

O italiano foi condenado à prisão perpétua por  quatro assassinatos entre 1977 e 1979, mas, antes da sentença, fugiu para o México, depois para a França e Brasil, onde recebeu em 2010 autorização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ficar, negando pedido de extradição do governo da Itália. Já o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, dono do falido Banco Marka e condenado por crimes contra o sistema financeiro, foi detido no Rio Grande do Sul, em 2000, mas conseguiu habeas corpus depois de 37 dias e fugiu para a Itália. Ele foi preso em Mônaco pela Interpol, em 2007, e extraditado para o Brasil no ano seguinte. No ano passado, a Justiça extinguiu a pena de Cacciola, que estava em livramento condicional desde 2011.

A lista dos presos

Veja a situação* de cada um dos condenados que se encontram sob custódia da Polícia Federal e do único réu que está foragido

REGIME INICIAL FECHADO

Marcos Valério
Empresário
Pena total: 40 anos, 4 meses e 6 dias
Crimes: corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha
Multa: R$ 3,06 milhões

Cristiano Paz
Publicitário
Pena total: 25 anos, 11 meses e 20 dias
Crimes: corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha
Multa: R$ 2,53 milhões

Kátia Rabello
Ex-presidente do Banco Rural
Pena total: 16 anos e 8 meses
Crimes: lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e formação de quadrilha
Multa: R$ 1,5 milhão

José Roberto Salgado
Ex-executivo do Banco Rural
Pena total: 16 anos e 8 meses
Crimes: lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e formação de quadrilha
Multa: R$ 1 milhão

Ramon Hollerbach
Publicitário
Pena total: 29 anos, 7 meses e 20 dias
Crimes: corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha
Multa: R$ 2,79 milhões

Henrique Pizzolato (FORAGIDO)
Ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil
Pena total: 12 anos e 7 meses
Crimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato
Multa: R$ 1,316 milhão

REGIME INICIAL SEMIABERTO

José Dirceu
Ex-ministro da Casa Civil
Pena total: 10 anos e 10 meses
Crimes: corrupção ativa e formação de quadrilha
Multa: R$ 676 mil

José Genoino
Deputado federal (PT-SP)
Pena total: 6 anos e 11 meses
Crimes: corrupção ativa e formação de quadrilha
Multa: R$ 468 mil

Delúbio Soares
Ex-tesoureiro do PT
Pena total: 8 anos e 11 meses
Crimes: corrupção ativa e formação de quadrilha
Multa: R$ 325 mil

Simone Vasconcelos
Ex-diretora financeira da SMP&B
Pena total: 12 anos, 7 meses e 20 dias
Crimes: corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Multa: R$ 263,9 mil

Romeu Queiroz
Ex-deputado do PTB-MG
Pena total: 6 anos e 6 meses
Crimes: corrupção passiva e lavagem de
dinheiro
Multa: R$ 828 mil

Jacinto Lamas
Ex-assessor parlamentar do extinto PL
Pena total: 5 anos
Crimes: lavagem
de dinheiro
Multa: R$ 260 mil