Jornal Estado de Minas

Polícia Federal investiga fuga de Pizzolato

Nome de condenado aparece em lista de embarque para a Itália no dia 20, quando a prisão dele já havia sido pedida. Agente pode ter fraudado documento como protesto por salário

Grasielle Castro
A Polícia Federal identificou e ouviu nessa sexta-feira o suspeito de ter fraudado o sistema de controle de imigração do aeroporto de Guarulhos ao incluir o nome do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato na lista de embarque para a Itália no dia 20. O documento da PF mostrava que Pizzolato teria deixado o Brasil em um voo, na quarta-feira, com destino à Europa. De acordo com o documento, ele teria passado pela alfândega às 14h38. No registro da imigração, o nome do ex-banqueiro, que está foragido da polícia, aparece com a grafia errada: "Pizzolatoo". Na quinta-feira, a PF informou que a suspeita era de que um policial do órgão teria forjado o documento, como parte dos protestos que têm ocorrido na instituição por melhores salários. O órgão, entretanto, destacou que só vai se pronunciar quando o inquérito for concluído. O prazo é de 30 dias, a contar da data em que as investigações foram iniciadas (21 de novembro), prorrogável por período indeterminado.
A PF também ressaltou que checou todos os voos com destino a Portugal, Espanha e Itália, mas não achou registro de embarque do ex-diretor do Banco do Brasil. Pizzolato é um dos 25 réus condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão. Ele foi sentenciado a 12 anos de prisão. A polícia da Itália confirma a entrada de Pizzolato, que tem cidadania italiana, no país por fronteira terrestre. O Ministério da Justiça local explicou que ele é um cidadão normal, livre e que não há motivo para que a pasta o procure. Também disse que só vai agir quando e se ele for preso. O ministério destacou ainda que ele pode estar em qualquer local da Europa, por causa do passaporte italiano.

As investigações contra Pizzolato serão abertas em duas situações: se o governo brasileiro pedir extradição ou se a Interpol o capturar. O nome do ex-diretor do Banco do Brasil foi incluído na lista da polícia internacional na segunda-feira. O especialista em direito internacional e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Roberto Pelegrino explica que o fato de ele estar entre os procurados da Interpol não significa que a polícia vai sair em busca dele. “Não precisa procurar porque sabe onde ele está. Ele tem uma ficha e, estando na Itália, não pode ser extraditado. Ele é um cidadão livre”, enfatiza.

Em nota ao Estado de Minas, a Interpol reitera que não conduz investigações. Afirma ainda que muitos dos seus membros consideram o alerta vermelho um requisito válido para prisões temporárias, especialmente quando estão ligados por acordos de extradição. “Nesses casos, quando as prisões são feitas com base no alerta vermelho, costumam ser feitas pela polícia local”, justifica. Pelegrino, entretanto, destaca que o Brasil e a Itália não possuem este tipo de acordo. “Mas isso não impede que ele seja extraditado, com aval da Itália”, pontua o professor.

De acordo com Pelegrino, a situação de Pizzolato é a mesma de Salvatore Cacciola, ex-dono do Banco Marka, condenado a 13 anos de prisão em 1999, por gestão fraudulenta. Ele foi preso, mas recebeu um habeas corpus e fugiu para a Itália. O Brasil pediu a extradição de Cacciola, que foi negada. O governo italiano alegou que não extraditava nacionais italianos. O caso é semelhante ao de Pizzolato, que tem dupla nacionalidade. O ex-dono do Banco Marka só foi detido em 2008, quando estava passando uns dias em Mônaco. (Colaboraram Julia Chaib e Étore Medeiros)

Fogo amigo

O ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra defendeu a prisão dos petistas condenados no processo do mensalão e disse que não crê que o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) tenha sido político. “Funcionou o que deveria funcionar. O STF julgou e a Justiça determinou a prisão, então, cumpra-se a lei”, analisou Dutra. Um dos fundadores do PT e ministro das Cidades no primeiro governo Lula, Dutra classificou o desfecho da Ação Penal 470 como uma resposta aos processos de corrupção que, historicamente, “permeiam a política nacional”. Dutra disse que respeita a história política dos petistas José Dirceu e José Genoino, mas ressalvou que o passado de combate à ditadura militar não abona condutas ilícitas.