São Paulo - O Arquivo Histórico de São Paulo iniciou, pela primeira vez em quase 50 anos, um “pente-fino” nos dados de pessoas enterradas durante a ditadura militar (1964-1985) nos cemitérios de Perus e da Vila Formosa. O objetivo é identificar presos políticos desaparecidos naquele período, que podem ter sido sepultados como indigentes ou com nomes falsos por agentes da repressão.
“O trabalho consiste em digitalizar todos os livros manuscritos com referências ao sepultamento, como idade, cor da pele, características físicas. E disponibilizar esses dados para serem cruzados com outras informações de familiares e da Comissão da Verdade. Corríamos o risco de ver toda essa documentação desaparecer em poucos anos”, afirmou Afonso Luz, diretor do Arquivo Histórico.
A primeira tarefa do trabalho, segundo Luz, será restaurar os livros de sepultados. “Precisamos restituir a fibra do papel, encontrar linhas de grafia que foram rasgadas. Depois tudo será passado para um papel japonês, super fino, antes da digitalização”, acrescentou. A Comissão da Verdade acredita que cerca de 180 presos políticos na capital paulista foram enterrados com nomes falsos ou como indigentes no período do regime.
A ofensiva nos arquivos de sepultados no período da ditadura militar é a maior aposta de parlamentares e parentes de desaparecidos políticos na tentativa de encontrar as vítimas da repressão. “Nós vamos abrir esses dados para consulta de qualquer interessado. Esses dados nunca foram colocados ao público”, disse Luz.
Paralelo ao trabalho do Arquivo Histórico, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos também estuda criar uma comissão da verdade municipal, vinculada à gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Na Câmara Municipal já existe um colegiado desse tipo, criado pelo vereador Gilberto Natalini (PV), da oposição ao governo do PT.