Jornal Estado de Minas

Piloto de helicóptero dos Perrella disse à PF que 'imaginava' estar transportando drogas

Rogério Almeida Antunes contou que desconfiou da carga pelo valor do frete, R$ 106 mil

Daniel Camargos

Os 443 quilos de cocaína que estavam no helicóptero foram apreendidos pela Polícia Militar do Espírito Santo - Foto: PMES/Divulgação

O piloto Rogério Almeida Antunes, preso pela Polícia Federal no domingo em um sítio no Espírito Santo com 443 quilos de cocaína no helicóptero, admitiu em depoimento que, pelo valor oferecido para o transporte da mercadoria, imaginou que fosse droga. Rogério é funcionário da Limeira Agropecuária, empresa comandada pelo deputado estadual Gustavo Perrella (SDD), filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro. Ele admitiu ainda que os patrões não sabiam qual era a carga.

Rogério disse à PF que decidiu fazer o voo diante de apelos de outro piloto, Alexandre José de Oliveira Júnior, preso também no domingo. “Que questionado se perguntou o que era, respondeu que não; que questionado quanto receberia pelo transporte do ilícito, respondeu que seriam R$ 106 mil, mais as despesas da máquina; que pelo valor oferecido, imaginou que fosse droga, que Alexandre (copiloto) parecia estar desesperado; que resistiu em aceitar a proposta, mas depois acabou aceitando voar”, consta na transcrição.

De acordo com a versão do advogado do piloto, Nicácio Pedro Tiradentes, o voo com a droga foi autorizado. O advogado garantiu que Rogério não sabia que transportava drogas e que foi informado pelo copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior, de 26 anos, que o carregamento era insumo agrícola.

Alexandre, que no voo agiu como copiloto, declarou à PF que um indivíduo chamado Harley prometeu a ele R$ 60 mil para fazer o voo e que o dinheiro seria dividido com Rogério. “Questionado sobre se considera um comportamento razoável aceitar fazer o transporte de 400kg de uma carga desconhecida ante a promessa de pagamento de um indivíduo que praticamente desconhece, reconhece que não é um comportamento normal”, informou Alexandre.

Os agentes da PF quiseram saber se os patrões do piloto sabiam da carga transportada. “Questionado se o senador (Zezé Perrella) ou alguma pessoa da empresa (Limeira Agropecuária) tinha conhecimento do voo realizado para transporte de droga, respondeu que ninguém sabia do transporte de droga, mas que eles autorizavam a realização de frete pelo interrogado, ao preço de R$ 2 mil a hora”, esclareceu ele, segundo transcrição do depoimento. “Questionado sobre a quantidade de horas desde quando começou o voo para buscar e transportar a droga, respondeu que foram 18 horas”, acrescentou Rogério.

Ligações

Para descobrir a origem e o destino da quase meia tonelada de cocaína encontrada no helicóptero a Polícia Federal (PF) vai submeter à perícia os 11 celulares apreendidos com os quatro presos. As ligações telefônicas podem ser a chave para elucidar a participação de outras pessoas no tráfico de drogas. A perícia nos aparelhos começou na segunda-feira e o prazo máximo para a conclusão é de um mês, segundo o delegado.

O delegado da Superintendência da PF em Vitória (ES) Leonardo Damasceno expediu ontem as cartas precatórias para que os sócios da Limeira Agropecuária prestem depoimento à PF em Belo Horizonte. Além do deputado estadual Gustavo Perrella, também são sócios da empresa a irmã dele, Carolina Perrella e um sobrinho, André Almeida Costa. A empresa foi criada em maio de 1999 e o senador deixou de ser sócio dela em maio de 2008.

A reportagem do Estado de Minas tentou contato com o advogado do outro piloto, Alexandre José de Oliveira Júnior, mas o que constava no inquérito da PF foi destituído pela família. O novo advogado não foi encontrado.

Trechos do depoimento de Rogério Almeida Antunes


“Que questionado se perguntou o que era, respondeu que não; que questionado quanto receberia pelo transporte do ilícito, respondeu que seriam R$ 106 mil, mais as despesas da máquina; que pelo valor oferecido, imaginou que fosse droga, que Alexandre (copiloto) parecia estar desesperado; que resistiu em aceitar a proposta, mas depois acabou aceitando voar”

“Que questionado se o senador (Zezé Perrella) ou alguma pessoa da empresa (Limeira Agropecuária) tinha conhecimento do voo realizado para transporte de droga, respondeu que ninguém sabia do transporte de droga, mas eles autorizavam a realização de frete pelo interrogado, ao preço de R$ 2 mil a hora; que questionado sobre a quantidade de horas desde quando começou o voo para buscar e transportar a droga, respondeu que foram 18 horas”

Receptador

O inquérito detalha também que a droga apreendida era destinada a uma pessoa, que pegaria a carga em um posto de gasolina na entrada da cidade de Afonso Cláudio, no Espírito Santo. Sabe-se também que o helicóptero foi carregado próximo à cidade de Avaré (SP), distante 263 quilômetros da capital paulista. A primeira parada para abastecimento foi no Campo de Marte, em São Paulo, e a segunda em Divinópolis, no Centro Oeste de Minas.