Jornal Estado de Minas

Aumenta pressão do PSDB sobre ministro da Justiça

Descoberta de mais trechos diferentes do original em documento traduzido entregue a Cardozo amplia as cobranças dos tucanos

Brasília – Novas divergências entre o texto em inglês escrito provavelmente pelo ex-diretor da Siemens no Brasil Ernesto Rheinheimer e encaminhado ao ombudsman da empresa na Alemanha e uma versão do mesmo documento em português – ambos escritos em junho de 2008 – acirraram ainda mais o ânimo da oposição e aumentaram a pressão do PSDB sobre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na edição de ontem, o Estado de Minas mostrou que o documento em português no qual é feita a denúncia da existência de uma cartel dos trens em São Paulo inclui trechos indicando o pagamento de suborno a políticos do PSDB, conteúdo inexistente na versão em inglês. Mas as diferenças não param por aí.

Em outros pontos do documento em português, nomes inexistentes na versão acabaram incluídos, bem como relações profissionais entre os suspeitos de participar do cartel são criadas. A versão brasileira também detalha percentuais de pagamento de propina, inclusive descrevendo minúcias de descontos de cheques e investigações da Polícia Federal sobre executivos de empresas multinacionais.

Um dos citados em versões contraditórias é o ex-diretor da MGE Ronaldo Moriyama. Em ambos os documentos, ele é qualificado como um “executivo agressivo” . Na carta em inglês, aparece como o responsável pelo pagamento de propinas a autoridades governamentais para auferir lucros em seus projetos empresariais. O detalhamento aparece em português: “Ele é conhecido, no mercado ferroviário por sua agressividade quando se fala em subornar o pessoal do Metrô de São Paulo e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos)”.

A versão brasileira da denúncia é muito mais rica e detalhada que a direcionada à matriz alemã. No texto em português, explicita-se que a MGE pagava propina de 5% à diretoria da CPTM. No original, existe apenas a referência a propinas destinadas a “autoridades governamentais”. Por fim, é dito que Ronaldo Moriyama “foi pego recentemente (início de maio) numa operação da Polícia Federal, onde foi preso num hotel cinco estrelas com um gerente do banco suíço Credit Suisse”.

“O ministro tem que explicar as disparidades nas traduções feitas de um mesmo documento, explicando a inclusão de trechos, a omissão de fatos e a criação de relações inexistentes na versão original”, afirmou o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), vice-líder do partido na Câmara.

RISÍVEL
O ministro da Justiça considerou risível a crítica feita pelos tucanos apontando eventuais diferenças de tradução. “Não é uma tradução mal-feita. São dois documentos distintos, escritos possivelmente pela mesma pessoa, com vários pontos em comum, outros divergentes, mas endereçada a destinários diferentes”, afirmou o ministro. “Por que alguém, em sã consciência, forjaria uma tradução e entregaria ao ministro da Justiça as versões em inglês e português para ser investigada pela Polícia Federal?”, questionou ele. “Eles estão fazendo barulho em torno de documentos anexos ao dossiê entregue ao ministro porque sabem que, no texto principal, aparecem os nomes de parlamentares e secretários do PSDB acusados de receber propina”, declarou um petista que acompanha o debate.