Cobrado quase diariamente pelo partido e por vários aliados para concorrer ao Senado no ano que vem, o governador Antonio Anastasia (PSDB) repassa a pressão aos dirigentes tucanos. Em entrevista ao Estado de Minas, ele diz esperar da legenda uma decisão, ainda em janeiro, sobre quem será o candidato à sua sucessão no governo. Só depois desta definição, segundo ele, as costuras políticas vão indicar se ele é mesmo o nome para compor a chapa. “De fato há essa demanda, até porque tem a pesquisa e todo mundo fala naquilo, então temos de esperar. Primeiro é preciso decidir o candidato a governador, o que eu defendo que seja feito em janeiro”, afirmou. Por vontade própria, Anastasia segue dizendo que sua intenção é terminar o mandato. Segundo ele, a configuração vai depender de fatores como a chapa a ser encabeçada pelo PSDB, como se espera, e quais serão as reivindicações dos aliados. Anastasia também falou sobre a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência, mas evitou comentar a possibilidade de se tornar ministro, caso o padrinho político seja alçado ao Palácio do Planalto. Disse ainda considerar a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), positiva para os tucanos. Anastasia espera que ele se una a Aécio em um eventual segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT). Na entrevista, Anastasia fez um balanço de 2013, que, apesar de ter apresentado um crescimento econômico tímido, considera um ano de avanços. O governador comentou a necessidade de renegociar a dívida do estado com a União para evitar um colapso financeiro em 2028. O tucano falou ainda de assuntos como reforma política, orçamento impositivo e as relações com o governo Dilma, do qual cobrou ações mais efetivas para resolver o problema da BR-381.
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Em balanço, Anastasia diz esperar para 2014 um crescimento da receita entre 9% e 10%Anastasia pede rapidez em votação sobre marco regulatório da mineraçãoAnastasia vai a Brasília em busca de R$ 3 bi do marco regulatório da mineraçãoAnastasia quer Serra como cabo eleitoral na campanha de Aécio Anastasia volta a criticar centralização da arrecadação pelo governo federalGoverno no Brasil é baseado em eleições e não em capacidade técnica, diz Anastasia Governador e prefeito participam de inauguração da iluminação de Natal em BHTivemos resultados muito expressivos na área da educação. Mantivemos os indicadores da área de segurança – queria que eles melhorassem mais, mas não melhoraram – e conseguimos atrair empresas com perfil diferente, ainda que estejamos vivendo sob impacto de uma crise econômica nacional e internacional. Tivemos um ano muito difícil em relação aos municípios e de muita cautela em relação às finanças públicas porque lamentavelmente a velocidade da receita estadual não é a mesma do crescimento das despesas. As despesas aumentam porque tem o crescimento vegetativo normal do estado. Ao longo dos últimos anos, o estado aumentou muito sua área de ação. Cada hospital que é inaugurado, cada penitenciária, cada escola, isso é claro, vem custeio.
Desonerações do governo federal
Isso afeta o Fundo de Participação do Estado (FPE). Minas não é tão dependente do fundo como outros estados, como os do Norte e Nordeste. Em alguns estados do Nordeste, 50% do orçamento são recursos do FPE. Aqui não é isso, é coisa de 4% ou 5%. Mesmo assim, perdemos este ano cerca de R$ 200 milhões de FPE. Perdemos R$ 300 milhões de Cide, uns R$ 700 milhões do ICMS da energia elétrica. Então, isso tudo somado, dá mais de R$ 1 bilhão de perdas orçamentárias. Temos que tomar medidas de cautela.
Expectativa para 2014
Dependemos fundamentalmente do humor econômico do país. O ICMS este ano subiu, vamos terminar o ano subindo entre 8% e 9% em relação ao ano passado, mas qualquer variação é fatal.
Renegociação da dívida do estado
Não ajuda agora, porque nossa dívida, como está posta, mexe não no fluxo mas no fundo, no estoque. Mas resolveria para 2028. Dificilmente o governo federal concorda com a modificação, que para nós é importante, do fluxo, porque pagamos alguns bilhões por ano com encargos da dívida. São 13% da nossa receita corrente líquida.
Novos empréstimos
São dívidas com juros bem menores. O importante da dívida é ver os juros e a carência. Os juros da dívida com a União são muito altos lamentavelmente, que é o juro do IGP. Os juros destes empréstimos com Banco do Brasil, BNDES, são bem menores. São empréstimos vantajosos e, para fazer investimentos hoje, os outros estados e o próprio governo federal corretamente incentivaram que levantássemos recursos para fazer investimentos que são importantes para aumentar a economia e o PIB.
Relação de Minas com governo federal
O que observamos é que o governo federal tem um tratamento igual a todos os estados. Fizemos reunião recente dos secretários de estado e as observações e solicitações são exatamente as mesmas. Porque na realidade temos uma federação distorcida. É uma concentração cada vez maior de poderes na União, que tem uma participação muito grande no bolo tributário, e isso, é claro, constrange os estados. Ficamos sem recursos. Mas não há em relação a Minas ou a outro estado, que eu saiba, qualquer tratamento diferenciado. É evidente que nós, em Minas Gerais, sentimos que precisamos mais da ação da União aqui, como os outros estados também devem sentir, especialmente das grandes obras. Minas tem uma característica diferenciada porque as grandes obras de infraestrutura dependem do governo federal: as rodovias federais, ferrovias, o aeroporto, nosso metrô e Anel Rodoviário são obras emblemáticas.Todas elas da alçada federal.
BR-381
É uma novela e a responsabilidade do governo federal é fazer a reforma completa e adequada. A demora é visível e não é de hoje, é de anos. É uma estrada muito perigosa que não só inibe o movimento econômico na região mas, sobretudo, causa mortes. Então, é uma questão até de humanidade fazer essa obra da 381, que lamentavelmente já se prorroga por muitos anos. O governo federal tem a vontade de fazer a obra e tem o recurso. Só que tem dificuldades operacionais. Eu espero que elas sejam superadas. Sempre falamos que o grande problema do Brasil é gerencial.
Orçamento impositivo em Minas
A ideia de determinar o cumprimento cogente das emendas é positivo, não sou contrário. Acho que os parlamentares têm o direito e a legitimidade de apontar emendas para suas áreas, para projetos que considerem relevantes. Em Minas fazemos o pagamento normalmente, os valores é que temos que discutir, porque um valor como este (1,2% da receita para as emendas) na estrutura da União é uma coisa, na do estado é outra. Então sou a favor da tese, mas o valor tem que ser discutido.
Candidatura ao Senado
Temos primeiro de definir quem é o candidato a governador. Feito isso, temos que ouvir os outros partidos, porque se ele for do PSDB, o PSDB não pode ficar com vice, Senado, tudo. Tem que fazer composição, tem de ouvir os outros atores que são importantes, saber suas pretensões, que são legítimas. Não fazemos política aqui de um modo isolado, existe um grupo forte, composto de diversos partidos, lideranças relevantes que vão discutir a escolha do nosso candidato a governador e a composição da chapa. Eu não tenho ambição de ser candidato, ao contrário, minha vontade sempre foi de cumprir o mandato. Agora, de fato, há essa demanda, até porque tem a pesquisa e todo mundo fala naquilo, então temos de esperar. Primeiro é preciso decidir o candidato a governador, o que eu defendo que seja feito em janeiro.
Candidato ao governo
Vamos ouvir todos, não haverá um nome indicado no dedo, mas será um nome que surgirá dessas forças políticas.
Pestana e Pimenta em campanha
É natural, são lideranças do partido, um deles até é o presidente do partido. Eles movimentam como também o deputado Dinis Pinheiro (PP) se movimentou e se movimenta com intenção de integrar a chapa majoritária. O nosso vice-governador é sempre um nome a ser pensado e colocado, quer dizer, não há definição. Neste exato momento está indefinido.
Cenário Nacional
Estou muito animado. Acho que o senador Aécio Neves está animadíssimo, muito disposto, correndo o Brasil todo e sendo muito bem recebido. Estive com ele recentemente em dois eventos no interior, em Uberlândia e Poços de Caldas. A gente percebe uma energia no ar muito animada. Há um quadro de mudança nacional. As pessoas ainda estão longe de se identificar com candidatos a esta altura. Quem está preocupado com política somos os políticos e os jornalistas, as pessoas não têm o menor interesse ainda em saber de eleição do ano que vem. Há uma indefinição e resta saber quem vai ocupar esse espaço. Que há um inconformismo, isso é visível no país hoje. A própria recente pesquisa do Ibope nacional mostrou que 60% das pessoas querem mudança. Então, há um sentimento e temos de ser competentes para galvanizarmos e capitalizarmos isso. Essa estratégia está sendo montada com vários aspectos, tem um braço político, um programático, um de estrutura, essa estratégia toda está sendo montada pelo partido e pelo nosso candidato.
Futuro ministro (No caso de vitória de Aécio)
Primeiro eu gostaria muito que o Aécio fosse presidente e vou trabalhar muito para isso, é nossa prioridade número um em Minas Gerais do ponto de vista político. Até porque, aí sim teríamos os grandes gargalos federais resolvidos no estado. Uma vez eleito presidente, ninguém pode constrangê-lo para nomes para compor o ministério. Tenho por ele muita afinidade, admiração, trabalhamos juntos estes anos todos, mas vamos aguardar os fatos.
Casa Civil
Talvez seja um outro perfil, é até indelicado falar isso a esta altura. Ele nem candidato é.
José Serra
Certamente vai participar (da campanha). Por enquanto não tem ido porque são eventos regionais. Tenho a impressão de que no momento certo ele vai. Certamente terá um papel importante na campanha de São Paulo, acho que possivelmente ele deverá ser candidato também em alguma função de relevo.
Eduardo Campos
A candidatura do Eduardo, a meu ver, é positiva para o Aécio porque se soma no lado da oposição. E, fazendo uma campanha de oposição no segundo turno, ele naturalmente – acho que Aécio vai ter mais voto do que ele – tenderá à oposição. A campanha que ele tende a fazer é de oposição à Dilma, e o seu eleitor, portanto, vai se identificar com o discurso de mudança, que não é o governo atual.
Palanque duplo
Se o Eduardo Campos for candidato , acho que o PSB vai ter porque é preciso. Acho que isso de palanque duplo não existe. Como explicar ao eleitor ora um ora outro no mesmo palanque?
Eleição mais difícil em Minas?
Toda eleição aqui é difícil. Uma talvez menos difícil foi a reeleição do Aécio porque ele tinha maioria esmagadora, mas o mineiro gosta de política. O candidato da oposição, se confirmado Fernando Pimentel, é um bom candidato, homem de bem, conhece o estado. Acho que vai ser uma campanha de bom nível e vamos trabalhar firme para ganhar.
Guerra entre partidos
Esse ambiente que sai da política do sentido programático, da capacidade de articulação das boas ideias, e passa para as campanhas dos ataques é muito negativo para o Brasil, não leva a lugar algum. Posso estar errado mas acho que o eleitor não gosta disso. A eleição passada presidencial foi em um nível que todo mundo viu que não foi bom. Vamos discutir questões políticas, a questão da concessão política está certa ou errada? O que foi o erro do pré-sal? O que foi acerto? O que foi erro e acerto da telefonia, das ferrovias? Qual a política correta de inclusão? Qual o papel correto da área da educação? Precisamos melhorar o nível do debate.
Reforma política
Eu defendo mandatos mais longos sem reeleição e coincidência total da disputa para todos os cargos. Uns dizem que pode dar aspecto de paróquia à eleição, mas é preciso, o Brasil não aguenta. O ano que vem é ano eleitoral e a partir de janeiro não posso fazer um convênio com entidade privada. Vamos supor: 2 de janeiro tem uma enchente terrível e a Casa São Vicente de Paulo de um determinado município é levada pelas águas. Não posso colocar um colchão lá. Comida pode dar, mas restaurar não é permitido. Quer dizer, criamos no Brasil uma camisa de força para nós mesmos, o que é uma coisa inconcebível. Ficam controlando a formiga e o elefante passeando à vontade.