Jornal Estado de Minas

Ministério Público processa suspeito de criar fraude no ISS em SP

Auditor Amílcar José Cançado Lemos está sendo processado por suspeita de fraudar Imposto sobre Serviços (ISS) da capital paulista

Agência Estado
O Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo instaurou nessa segunda-feira ação civil pública por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito contra o auditor Amílcar José Cançado Lemos. Suspeito de ser o criador de esquema de fraude no Imposto sobre Serviços (ISS) da capital paulista que pode ter causado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais, Lemos é o primeiro a ter de responder judicialmente pelo caso.
De acordo com a ação proposta pela Promotoria de Patrimônio Público e Social da Capital, os bens dele correspondem a 125 vezes a remuneração mensal bruta na Prefeitura. O levantamento não contabiliza os imóveis que foram vendidos. Há a suspeita de que o dinheiro pode ter sido usado para comprar outros bens ou ter sido depositado em conta bancária ou da empresa de Lemos, a administradora de bens Alicam. A empresa também é alvo da ação do MPE.

A Controladoria-Geral do Município (CGM) abriu sindicância contra o auditor ao notar o patrimônio elevado e também a propriedade de bens em sociedade com auditores investigados, como Luis Alexandre Cardoso de Magalhães, que delatou o esquema ao MPE.

Magalhães afirmou em depoimento que em 2008 Lemos passou a chefiar o setor responsável pelo ISS. Pelo relato, ele recebia, em média, R$ 60 mil de propina por empreendimento aprovado. Magalhães afirmou que havia sido Lemos o responsável pela “padronização” da propina, com 50% de desconto para as empresas, 10% da propina para o despachante e 30% para os fiscais. Os 10% que sobravam eram pagos à Prefeitura.

O depoimento afirma que ele se desentendeu com os outros auditores fiscais e foi tirado do esquema. Por isso, diz o relato, teria feito diversas denúncias contra a quadrilha formada por Magalhães e os também auditores Carlos di Lallo Leite do Amaral, Eduardo Horle Barcellos e Ronilson Bezerra Rodrigues, que assumiu, posteriormente, a chefia do esquema.

O MPE suspeita que o dinheiro e os bens comprados foram usados para a integralização da Alicam, da qual as duas filhas dele também são sócias. Testemunha ouvida pela Promotoria afirma que a propina era de conhecimento de toda a família de Lemos. “A testemunha disse ainda que o auditor fiscal conversava sobre a propina na presença das filhas e que sua mulher ajudava a contar e dividir o produto da corrupção recebido das construtoras”, afirma nota do MPE.

No Facebook, Lemos compartilha fotos de viagens internacionais em motos Harley Davidson. Na última atualização, ele condena a liberdade temporária concedida aos detentos no Natal. A Promotoria pede à Justiça a condenação de Lemos e da empresa Alicam à perda dos imóveis e móveis adquiridos desde 2000.

O MPE também pede a perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos, o pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial indevido e a proibição de contratar com o poder público por dez anos. Alegando dificuldades de saúde, ele não compareceu ao MPE nem à CGM quando chamado. A reportagem não conseguiu contato com Lemos.