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Estado de Minas

Documentos da CBTU pegam fogo e vão parar no lixo sem passar por perícia

Papéis poderiam auxiliar nas investigações de contratos de aluguel e de concessões da companhia


postado em 05/12/2013 06:00 / atualizado em 05/12/2013 08:14

Provas no meio de entulho: grande parte dos documentos poderia ter sido recuperada e analisada (foto: Divulgação/Sindicato dos Metroviários)
Provas no meio de entulho: grande parte dos documentos poderia ter sido recuperada e analisada (foto: Divulgação/Sindicato dos Metroviários)

Documentos da superintendência mineira da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) que poderiam auxiliar o Ministério Público (MP) e a Polícia Civil a investigar mais de 25 denúncias de irregularidades em contratos de aluguel, prestação de serviços e concessões foram destruídos em um incêndio com suspeitas de ter sido criminoso, em 28 de agosto deste ano. De acordo com o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais, o fogo se alastrou justamente na repartição que guarda contratos de concessão, desapropriações e outros, que são alvo de devassa do Ministério Público (MP) estadual por suspeita de subfaturamento e irregularidades em mais de 200 contratos, como tem denunciado série de reportagem do Estado de Minas. O incêndio é investigado pela Polícia Civil e o laudo pericial deve ser encaminhado nos próximos dias para o delegado responsável pelo caso. Por enquanto, não foi determinado se a causa foi acidental ou proposital.

A CBTU chegou a divulgar que nenhum documento foi perdido, mas a reportagem teve acesso a fotografias feitas pelo sindicato que mostram vários documentos timbrados da companhia e relativos ao setor em questão, que foram parcialmente queimados e que em vez de serem reunidos, periciados e recuperados, acabaram sendo jogados fora numa caçamba de entulho na rua de trás da superintendência, no Bairro Colégio Batista, Região Leste de BH. Um arquivo de metal que pegou fogo também foi descartado.

Desde domingo o EM mostra que além de não ter recebido nenhum investimento há quase sete anos, o metrô de BH está envolvido em investigações de corrupção. Uma delas diz respeito a 200 contratos de aluguel que estariam sendo usados para desviar recursos para servidores públicos. Outra, a cargo da Polícia Federal, apura a compra de 10 trens numa licitação feita por empresa suspeita de formação de cartel e corrupção em São Paulo e Porto Alegre.

O sindicato acredita que o fogo tenha sido proposital. “Não sabemos até onde (o incêndio) interessa a alguém. Contestamos a forma como ocorreu (o combate), e os documentos não foram avaliados e simplesmente os jogaram fora”, afirma o
vice-presidente da entidade que representa os metroviários, Romeu José Machado Neto. “O incêndio no prédio sede só queimou a área de patrimônio. Tentamos ver o que ocorreu, mas o sindicato foi barrado pela segurança no momento e depois fomos proibidos de entrar no setor”, conta Neto. Entre os documentos chamuscados e jogados na caçamba, o sindicato identificou cédulas referentes a desapropriações e descrições de patrimônio da CBTU.

Uma fonte ligada à diretoria da superintendência informou que os documentos relativos a contratos sob suspeita foram removidos do setor para serem avaliados por uma sindicância interna que apurava as mesmas denúncias de irregularidades investigadas pelo MP. “A sindicância terminou e não constatou nenhuma irregularidade. Isso deixou muita gente revoltada, questionando a autenticidade dos laudos e avaliações. Por isso tantas denúncias ao MP”, conta essa fonte, que não será identificada para não sofrer retaliações. “O mais impressionante é que o incêndio ocorreu justamente depois que o MP foi acionado. É muito suspeito. Não se sabe ao certo quais documentos se perderam, mas isso abre a possibilidade de que provas tenham sido eliminadas para serem substituídas pela sindicância, que foi insatisfatória”, afirma o funcionário.

Procurada, a CBTU informou que “fez todos os registros pertinentes ao ocorrido e aguarda a emissão de laudo pericial a cargo da Policia Civil para tomar as providências cabíveis”.

Sem investimentos e sem verbas


A falta de investimentos e as suspeitas de desvios de verbas que poderiam ter sido usadas para melhorar a qualidade e o alcance do metrô de BH são temas da série de reportagens “Por debaixo dos trilhos” publicadas pelo Estado de Minas desde domingo. A primeira denúncia mostrou que, apesar de não ter investimentos desde 2007 e apenas uma linha (Vilarinho/Eldorado), o metrô de BH foi obrigado a fazer repasses para o do Recife que somaram R$ 54 milhões nos últimos 5 anos. Em seguida, uma lista da própria CBTU indicou que a União barrou mais de R$ 800 milhões previstos para obras de ampliação do sistema mineiro. Verbas não vinham e, para piorar a situação, os valores cobrados pelo aluguel de terrenos e lojas ao longo da única linha da capital mineira estão muito abaixo do preço de mercado, o que levou o Ministério Público a investigar mais de 200 contratos suspeitos de subfaturamento para beneficiar funcionários públicos. Ontem, a reportagem mostrou que a mesma consultoria acusada de formar cartéis para beneficiar consórcios que disputavam serviços para o metrô de SP recebeu R$ 4,6 milhões para elaborar a licitação que selecionou as fornecedoras de 10 novos trens para BH.


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