Jornal Estado de Minas

Estilo centralizador de Dilma Rousseff atrasa decisões e incomoda aliados

Dilma sofre com uma mania que, na realidade, tornou-se sua marca administrativa: a dificuldade em tomar decisões.

Brasília – Perto de terminar o terceiro ano de mandato e às vésperas da campanha na qual buscará a reeleição ao Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff corre para entregar o máximo de realizações possíveis para o eleitorado e compensar os atrasos de obras que atormentam o Palácio do Planalto e alimentam as críticas da oposição. Empossada em 2001 como a grande gerente capaz de destravar o país, Dilma sofre com uma mania que, na verdade, tornou-se sua marca administrativa: a dificuldade – e a demora – em tomar decisões pelo perfeccionismo e excesso de centralismo.


Um dos queridinhos da presidente e cotado como um dos possíveis coordenadores da campanha pela reeleição, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, já tinha dado a dica ao seu sucessor no Ministério de Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, quando lhe transmitiu o cargo, em janeiro de 2012. "Toda vez que você levar um programa, a primeira fase vai ser de espancamento do projeto. Ele vai ser desconstituído em todas as suas dimensões e, se não estiver muito bem, consistente, você vai ouvir a seguinte expressão: 'Ele não fica de pé'". Como se já não tivesse sido claro, o petista arrematou. "Não insista. Você não vai convencê-la. Vai perder tempo. Volte para casa, junte a equipe, trabalhe intensamente e volte a apresentar o projeto.”


Mercadante não estava sendo irônico, estava sendo sincero. Uma fonte ouvida pelo Estado de Minas e que já participou de reuniões de apresentações de projetos com a presidente lembra-se de uma bronca dada por ela a um ministro por uma colocação errada de uma vírgula em um Powerpoint. "E não foi uma crítica simples, foi uma bronca com estofo", relembrou o interlocutor. Para ele, isso, inevitavelmente, cria resistências na equipe na hora de apresentar sugestões. "Conheço histórias de ministros que preferiam atrasar reuniões e entrega de projetos por medo de ouvir gritos", prosseguiu.
Uma história famosa é a de um ministro que tinha toda uma argumentação amarrada para defender um determinado projeto. Acabou caindo em uma pegadinha da presidente. Ela indagou: "E esse ponto, o que você acha?". "Presidente, eu acho que…". Foi interrompido. "Você acha? Então volte para o ministério e só retorne quando tiver certeza.” O integrante do primeiro escalão murchou.

Poucos questionam a competência e a seriedade com que Dilma acompanha as ações de governo. O questionamento está centrado na excessiva preocupação com questões secundárias. "O que um presidente da República tem de mais valioso é o tempo. E Dilma, em várias vezes, desperdiça o seu tempo exercendo o papel de ministro ou assessor", avalia uma analista político que aprova o governo Dilma, mas preocupa-se com a demora na tomada de decisões. "Esse centralismo trava o processo e passa a ser ruim para a máquina", ponderou.

Insegurança Para esse interlocutor, o estilo Dilma tem duas vertentes: a primeira, já dita, é o perfeccionismo. A segunda, menos explorada, a insegurança. A presidente tem dificuldades para delegar, é centralizadora, e demonstra pouca confiança em seus assessores. "Se ela tivesse mais segurança no material entregue pelos seus subordinados, as idas e vindas de projetos certamente diminuiriam", apostou um analista.

Para ele, nem sempre o excesso de cuidado e a demora em decidir significam que o resultado final será o ideal. Cita, por exemplo, a recente decisão do governo de reajustar os preços dos combustíveis para compensar o rombo no caixa da Petrobras. "Todo mundo sabia que isso precisava ser feito. Mas a decisão foi tão conturbada e demorada que, quando chegou, as ações da Petrobras tinham caído quase 10%.” Outro exemplo foi no Programa Mais Médicos, considerado um dos carros-chefe da campanha de Dilma em 2014. "O projeto tinha sido entregue pela equipe do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no início do ano. A presidente não comprou a proposta. Após as manifestações de junho, o Mais Médicos virou a solução para os nossos problemas", lembrou um analista político.

 

Alguns exemplos da demora de Dilma em tomar decisões

» Código de Mineração:
O governo discute desde o início da atual gestão as novas regras de pagamento de royalties pelas mineradoras. Depois de dois anos e meio de idas e vindas, o projeto finalmente foi encaminhado ao Congresso, mas ainda não andou.

» Reajustes dos combustíveis:
A Petrobras reclamava que precisava do aumento para compensar o déficit de caixa, mas o Ministério da Fazenda vetava com medo não só da pressão inflacionária, mas, também, de adotar uma medida impopular. Quando decidiu, as ações da estatal tinham despencado.

» Privatizações:
Dilma demorou a definir o modelo de concessões de serviços públicos, com idas e vindas no projeto e na taxa de retorno para as empresas. As primeiras privatizações de rodovias foram anunciadas em agosto de 2012. As ferrovias e os portos ainda estão em busca de um modelo de exploração pela iniciativa privada.