Jornal Estado de Minas

Dilma arruma receita para confrontar Eduardo Campos em 2014

Petistas vão usar Arco Metropolitano como mote para brigar pela paternidade dos investimentos no estado

Diário de Pernambuco
Antes aliados, Eduardo Campos e Dilma Rousseff serão adversários na disputa presidencial de 2014 - Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
O Palácio do Planalto quer imprimir seu DNA no crescimento do estado de Pernambuco nos últimos anos e, para isso, não poupará esforços políticos e financeiros. A próxima investida é o Arco Metropolitano, cuja construção está orçada em R$ 1,5 bilhão, o que equivale a 20% do total do orçamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) executado até outubro deste ano em todo o Brasil. A estratégia da presidente Dilma Rousseff (PT), com aval do ex-presidente Lula, é ter munição para derrotar o governador Eduardo Campos, potencial candidato à Presidência da República, em seu estado natal. Eduardo, por sua vez, já tem o antídoto pronto para confrontar a ação do governo federal.
Este é o cenário de guerra que antecede a campanha eleitoral que só vai começar em julho de 2014. A presidente Dilma Rousseff, depois de cancelar visita ao estado em novembro, pode vir para lançar o edital de licitação da via que contornará a Região Metropolitana do Recife, apontada como fundamental para a economia pernambucana. A presença de Dilma colocará mais fogo na briga pela maternidade/paternidade das obras em Pernambuco e, consequentemente, pelo crescimento do estado, um dos componentes da batalha entre PT e PSB. Os petistas sempre se queixaram de que Eduardo capitalizou para si mesmo os louros do crescimento do estado.

O Arco Metropolitano foi idealizado para melhorar a logística de exportação de Pernambuco e de parte do Nordeste, via o Complexo Portuário de Suape, reduzindo o gargalo existente entre os municípios de Igarassu e Cabo de Santo Agostinho, como alternativa para a BR-101. O leilão deverá ser realizado em março. A empresa vencedora, então, tem seis meses para apresentar o projeto, que precisa ser aprovado para o início da obra. A expectativa do governo federal é antecipar os prazos para que a construção do arco comece no início do segundo semestre. O prazo de conclusão é de 36 meses.

A decisão de construir a rodovia e talvez as imagens das primeiras etapas da construção dela podem estar no guia eleitoral da campanha presidencial. A ideia, segundo petistas em reserva, é de que a obra seja mais um dos símbolos dos investimentos do governo Dilma em Pernambuco. Uma tentativa de se contrapor às ações da gestão Eduardo Campos e à sua popularidade. O governador detém altos índices de aprovação e aposta em uma vitória com folga de sua candidatura no estado e de eleger seu sucessor. Para Dilma, derrotar o socialista seria uma forma de desconstruir o discurso socialista para o restante do país.

Eduardo Campos se preparou para o debate sobre a autoria das obras e recursos investidos em terras pernambucanas desde que o governo federal lançou mão de peças publicitárias para mostrar as obras no estado. O governador e aliados adotam o discurso de que os recursos têm apenas uma origem – os impostos pagos
pelo povo – e que o mérito de tirar os projetos do papel é daqueles que conseguem executá-los. “Não acreditamos que os governos Lula e Dilma tenham
discriminado os governos do Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, que são aliados. Por que eles não tiveram o mesmo ritmo de crescimento que Pernambuco? A
questão não é só quando e quanto aportaram de recursos, mas como a obra foi executada”, afirmou um socialista em reserva.

Rompimento aumenta queixas


A construção do Arco Metropolitano é só mais uma batalha da guerra que será travada entre o PSB e o PT no próximo ano. Os dois partidos têm se atacado mutuamente, apesar de os petistas pernambucanos preferirem a cautela por causa das alianças locais. Eduardo Campos faz críticas à condução da política econômica, à falta de diálogo da presidente Dilma Rousseff com os setores produtivos e questiona a falta de avanços nos programas sociais.

O PT e Dilma tentam desconstruir a imagem de bom gestor e de político moderno do socialista. Usam a briga pela autoria das obras no estado para mostrar que o crescimento pernambucano deve muito aos governos petistas. Nos últimos meses, esquentaram o confronto. O governo federal, por exemplo, tem imposto dificuldades na liberação de recursos para as obras locais, inclusive aquelas que foram promessas de campanha de Eduardo, como o Terminal Integrado de Joana Bezerra.

A se tirar pelo discurso do governador para sua equipe na reunião do secretariado na última quinta-feira, Eduardo não tem se intimidado com os ataques dos adversários. Mostrou-se animado com a disputa presidencial e chegou a dizer que o PSB “não será, ao final do primeiro turno, não será a terceira via”. “Nós seremos a primeira via já no primeiro turno”, declarou.

Solução para a Mata Norte

O gargalo no tráfego entre o Norte e Sul da Região Metropolitana do Recife era preocupação há tempos para o governo do estado, principalmente por causa do acesso ao Complexo Portuário de Suape. A ideia de construção de uma rodovia alternativa à BR-101 no entorno da RMR começou com a possibilidade de uma Parceria Público Privada (PPP), em 2011. Ganhou força com a negociação para a instalação da fábrica da Fiat em Goiana. O Arco Metropolitano passou a ser um dos pré-requesitos da multinacional italiana para escolher Pernambuco como
cenário para o seu investimento.

O governo do estado, então, contratou estudos técnicos para a construção da rodovia. Ao final, o orçamento previsto foi de R$ 1,2 bilhão. Em agosto de 2012, Eduardo Campos solicitou que a construção do arco fosse incluída no programa federal de concessões. O assunto foi tratado em reunião do governador com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, em Brasília. Em janeiro deste ano, o governo do estado desapropriou 868 hectares.

Dois meses depois, um acordo entre os governos estadual e federal, a equipe de Dilma Rousseff anunciou que a obra será custeada pela União. Na ocasião, integrantes da equipe de Eduardo Campos “comemoraram” a decisão publicamente, porque o alto custo da obra seria bancado pelo governo federal. Este, por sua vez, alegou que, como PPP, seria injustificável cobrar pedágio em área urbana. Mais uma “estocada” petista ao governador. O valor previsto para a obra subiu
para R$ 1,5 bilhão.

A rodovia foi inserida no Programa de Aceleração do Crescimento Rodoviário (PAC), que corresponde a quase todo o orçamento do Dnit. Neste ano, o órgão teve um orçamento nominal de R$ 15 bilhões, mas executou R$ 7,5 bilhões. O arco corresponde a 20% desse valor e será licitado no Regime Diferenciado de Contratação (RDC), um mecanismo criado para acelerar obras. Em 2013, está
prevista a liberação de R$ 100 milhões para o projeto. A partir de 2014, a previsão é de que sejam desembolsados R$ 400 milhões anualmente.

Arco Metropolitano

77 KM que ligarão os municípios de Igarassu e Cabo de Santo Agostinho*
R$ 1,5 bilhão é o orçamento da obra
36 meses é o prazo de conclusão a partir do início da construção
Apesar de o governo do estado ter repassado o projeto elaborado junto com os
levantamentos topográficos, relatórios de sondagem e estudos geotécnicos, o
Dnit ainda prepara o anteprojeto para a obra

* O traçado pode ser alterado e o trajeto ganhar um acréscimo de 21 KM