Jornal Estado de Minas

Assembleia de Minas não pagou combustível de helicóptero para transportar droga, diz PF

Em nota, a Polícia Federal afirmou que a aeronave foi abastecida com recursos pagos pela organização criminosa proprietária da droga

Marcelo Ernesto - Enviado especial a Curitiba
O helicóptero foi apreendido com cerca de 440 quilos de cocaína em uma fazenda no Espírito Santo - Foto: Carlos Bernardo Coutinho /A Gazeta
A Polícia Federal (PF) divulgou nota, nesta terça-feira, em que afirma que, de acordo com as provas colhidas até o momento pelas investigações, o combustível usado pelo helicóptero da Limeira Agropecuária - empresa de propriedade do deputado Gustavo Perrella (SDD) -, não foi pago pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Conforme a PF, “todos os abastecimentos posteriores ao início do voo foram custeados pelo grupo criminoso, em aeroportos ou pontos clandestinos”. O helicóptero modelo Robinson 66 foi flagrado no mês passado em uma fazenda no interior do Espírito Santo com um carregamento de 443 kg de cocaína. Ainda conforme as investigações, apenas o piloto Rogério Almeida Antunes e Alexandre José de Oliveira Júnior teriam envolvimento com a quadrilha proprietária da droga.
A maior parte das notas usadas pelo deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) para ser reembolsado pela Assembleia Legislativa de Minas pelo abastecimento do helicóptero é da Pampulha Abastecimento de Aeronaves Ltda., no bairro de mesmo nome, em Belo Horizonte. Ainda sobre o custeio dos gastos com o abastecimento do helicóptero feito pelo deputado, a PF afirmou que se houver irregularidades cabe ao Ministério Público de Minas Gerais analisar.

Sobre a propriedade da fazenda em Brejetuba, no Espírito Santo, que motivou a investigação preliminar, a Polícia Federal afirma que “ não foi encontrada qualquer relação com o piloto ou com a empresa proprietária do helicóptero e seus representantes legais”.

A família Perrella alegou que não tinha nenhuma relação com a operação e que o helicóptero foi usado à revelia pelo piloto, Rogério Almeida Antunes. Ele era funcionário da Limeira Agropecuária e tinha também um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) por indicação de Gustavo Perrella. Após a prisão, Rogério foi demitido e exonerado do cargo público.

As investigações da PF apontam que a droga veio do Paraguai. Uma perícia feita no GPS da aeronave apontou que o helicóptero esteve no país vizinho quatro dias antes da apreensão. O caminho da droga, ainda segundo a investigação, passou por um local não identificado, enquanto a aeronave foi para o Campo de Marte, na capital paulista. No dia seguinte, a droga foi carregada e foi feita uma escala em Minas Gerais para abastecimento. O depoimento do piloto aponta que essa parada teria sido feita em Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado. Ao chegar a um sítio em Afonso Cláudio, a polícia estava à espreita. O local havia sido negociado recentemente por R$ 500 mil, valor muito acima do preço de marcado.

Além do piloto, foram presos também o copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior, de 26 anos, o comerciante Róbson Ferreira Dias, de 56, e Everaldo Lopes de Souza, de 37. O piloto e o copiloto foram flagrados dentro da aeronave e os outros dois homens fazendo o carregamento de um veículo VW Polo com a droga. Também foram encontrados aproximadamente R$ 18 mil em dinheiro.

Rogério Antunes já havia assumido a culpa e eximido a família Perrella de participação. Porém, o advogado dele, Nicácio Pedro Tiradentes, deu outra versão, dizendo que Antunes teria recebido autorização de Gustavo Perrella para fazer um frete. O deputado Gustavo Perrella, por sua vez, disse em depoimento à PF que foi avisado por uma mensagem de celular que o piloto faria um frete, mas que não sabia que a carga era cocaína.

No seu primeiro discurso após a divulgação do caso, o senador Zezé Perrella acusou a imprensa de querer atingir sua família a qualquer custo no episódio e disse jamais ter passado “um período mais difícil na sua vida”. “Eu não preciso de política”, afirmou ele, que assumiu em definitivo o mandato após a morte do senador Itamar Franco, em julho de 2011.