A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, anuncia nesta quarta-feira, na abertura do Fórum Mundial de Direitos Humanos, em Brasília, que um laudo pericial concluiu que o militante oposicionista mineiro Arnaldo Cardoso Rocha foi capturado vivo, torturado e executado pelo regime militar com um tiro na cabeça em 1973. À época, a versão das autoridades foi de “morte em combate”. Quatro meses atrás, o corpo de Arnaldo foi exumado no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, por iniciativa da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Nascido em Belo Horizonte, Arnaldo morreu em 15 de março de 1973, 15 dias antes de completar 24 anos, logo após ser capturado por uma equipe do Destacamento de Operações de Informações (DOI), em São Paulo. Ele foi fundador, em Minas Gerais, da Ação Libertadora Nacional, maior organização armada de oposição à ditadura.
Em 1996, a comissão especial havia reconhecido a responsabilidade do Estado no assassinato do militante, mas não investigou mais profundamente as circunstâncias da morte. Agora, com acesso aos restos mortais, uma equipe de peritos identificou numerosos sinais de martírio no preso, que estava sob custódia de agentes públicos.
Na exumação, coordenada pelo médico-legista Marco Aurélio Guimarães, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, foi possível identificar marcas de tiros no ombro direito e na região abdominal do militante. Foi constatado ainda que o corpo não passou por necropsia, ao contrário das informações recebidas pela família por meio de documentos. Um relatório de antropologia forense também será divulgado hoje. A ministra Maria do Rosário encaminhará os laudos ao Ministério Público, que decidirá se impetrará uma ação judicial contra os responsáveis pelo assassinato do militante na época da exumação, ocorrida em 12 de agosto, a ex-companheira de Arnaldo, Iara Xavier Pereira, mãe do filho do militante, explicou ter pedido a exumação devido ao que chamou de lentidão da Comissão nacional da Verdade (CNV). “É o que nos restou, para ver se o caso é resolvido ou se a dúvida permanecerá”, afirmou.
Enquanto isso...
... inocência no Recife
Apontados durante décadas como responsáveis por um atentado terrorista no Aeroporto dos Guararapes, na Grande Recife, em 25 de julho de 1966, quando duas pessoas morreram e 14 ficaram feridas, os engenheiros Ricardo Zarattini e Ednaldo Miranda – já morto – foram inocentados ontem pela Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Helder Câmara, de Pernambuco. O grupo divulgou documento, até então sigiloso, segundo o qual o autor da explosão foi Raimundo Gonçalves Figueiredo, militante da ala vermelha do PCdoB, que provocou a explosão em uma ação isolada de organizações clandestinas. O principal alvo do atentado era o general Costa e Silva, então ministro do Exército, e candidato à sucessão do general Castelo Branco na Presidência. Pelo crime, os dois acusados foram presos e torturados. Costa e Silva não chegou a ser atingido porque desembarcou em João Pessoa (PB) e não no Recife. Com a saúde debilitada, Zarattini comemorou a iniciativa da comissão: “Enfrentamos torturas no Dops para confessarmos um crime que não cometemos”.