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Ministério das Cidades libera emendas sem autor e sem destino certoEmendas de parlamentares ao Orçamento de 2014 somam R$ 8,7 biDeputados são obrigados a vincular recursos de emendas para a saúdeMinistros destinam mais recursos a estados nos quais disputarão as eleiçõesRelatório final da Lei Orçamentária Anual pode ser votado esta semanaCongresso tem apenas esta semana para votar Orçamento antes do recessoAí começa uma das fases mais difíceis e tensas para os autores das emendas, que é a de garantir que sejam incorporadas à Lei Orçamentária para o ano seguinte. Nesse período muitas vezes o parlamentar se muda para a sala onde funciona a Comissão do Orçamento. Lá, são comuns os conflitos com o relator e os sub-relatores do Orçamento, que às vezes se “esquecem” de incluir a emenda no relatório, ou até mesmo a rejeitam. Quando a emenda entra no texto da lei e o Orçamento é, enfim, aprovado, o parlamentar comemora sua primeira vitória.
No ano seguinte a luta é pela liberação do dinheiro. E, quando a verba finalmente sai e a obra é inaugurada, o prefeito que encomendou a emenda se encarrega de arrumar cabos eleitorais que saem à cata de votos para o congressista. O prefeito que consegue 500 votos numa cidade pequena tem a garantia de apoio para novos projetos na cidade. E, claro, também se credencia para um novo mandato, visto que as obras dão visibilidade a sua gestão e ao deputado por ele apoiado.
Retorno
“Alguns municípios são tão pobres que se não fossem as emendas parlamentares eles não teriam condição de tocar nenhuma obra”, diz o deputado Gonzaga Patriota (PSB), que costuma diluir suas emendas Pernambuco afora, principalmente para a região de Petrolina. “Eu concentro minhas emendas na saúde, em melhorias urbanas e na distribuição de água.” Ele admite que as emendas retornam na forma de votos. “É claro que o eleitor sabe quem é que o ajuda.”
A liberação do dinheiro das emendas, porém, não é automática. O governo costuma segurá-lo como forma de garantir a fidelidade do voto dos parlamentares a projetos de interesse do Planalto. O estresse entre a base aliada no Congresso e a presidente Dilma chegou a tal ponto por causa dessa disputa que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), liderou movimento pela aprovação de emenda constitucional que torna obrigatória a liberação do dinheiro para parte das emendas.
Tal iniciativa rendeu a Alves tanto apoio entre os colegas que ele já considera garantida a reeleição na Casa em 2015. E quando Dilma ameaçou não liberar o dinheiro das emendas do Orçamento impositivo, Alves se rebelou: “É preciso acabar com esse toma lá dá cá que amesquinha o Congresso.”
Quando o governo se recusa a liberar o dinheiro, é uma frustração. “A gente se compromete com a obra, com o prefeito, e aí o governo não libera o dinheiro. Isso causa uma profunda tristeza na gente”, diz o deputado Costa Ferreira (PSC-MA). Para o deputado, a aprovação do Orçamento impositivo vai dar autonomia à Câmara. Segundo Ferreira, a presidente retalia quem nas votações é infiel ao Planalto. “A Dilma castiga sem dó. Se em dez votações em dou um voto contra, de R$ 3 milhões em emendas ela retira R$ 1 milhão.” Ele diz que as emendas rendem votos. “O prefeito cita o nome da gente como autor das emendas para a obra. O eleitor gosta.”