Jornal Estado de Minas

Governo decide comprar aviões suecos

Ministro da Defesa anuncia compra de 36 aeronaves por US$ 4,5 bilhões. Decisão, que se arrastava desde 2001, surpreendeu e impõe derrota aos modelos francês e norte-americano

Grasielle Castro
O ministro da Defesa, Celso Amorim, confirmou nesta quarta-feira 18, que o governo escolheu o caça sueco Gripen para o projeto FX-2 - Foto: AFP PHOTO/SAAB AEROSYSTEMS
Depois de 12 anos do início da seleção de empresas para renovação da frota de caças destinada à proteção do espaço aéreo brasileiro, o governo anunciou que comprará 36 Gripen NG da empresa sueca Saab por US$ 4,5 bilhões. Com isso, começam as negociações, que podem levar até um ano, para ser fechado o contrato comercial e de suporte logístico do Programa FX-2, da Força Aérea Brasileira (FAB). De acordo com o ministro da Defesa, Celso Amorim, pelo cronograma, só 48 meses depois da assinatura começam a chegar os primeiros aviões. “Em breve teremos aviões à altura da necessidade da defesa do país, mas isso ainda levará um tempo na discussão do contrato”, pontuou.


O pagamento será feito de acordo com um cronograma que se estende até 2023. A intenção do comandante da FAB, tenente-brigadeiro Juniti Saito, no entanto, é que o Brasil pechinche ao máximo para tentar reduzir o valor. A expectativa dele é de que o país receba 12 caças por ano.
Além dos supersônicos, o contrato deverá abranger contrapartidas comerciais, treinamento de pilotos e mecânicos, aquisição de simulares de voo e a logística inicial. Ao fim do processo, o país será dono da tecnologia usada na composição do avião. Esse foi um dos pré-requisitos levados em conta na escolha da empresa vencedora. “Sabemos que a transferência de tecnologia é algo demorado, implica garantias contratuais de que aquilo que foi ofertado efetivamente ocorrerá”, ressalta.

Amorim explica que, mesmo que algumas partes da aeronave sejam produzidas por países como os Estados Unidos, a base do tecnologia será brasileira. Cerca de 80% da aeronave será construída em solo nacional e em parceria com a Embraer. “Não há pretensão de fabricar todas as peças no Brasil”, disse. O importante, segundo ele, é que o conhecimento seja transferido principalmente na abertura do código-fonte de armas, que permite a inclusão de arsenal brasileiro, e que o país seja capaz de passar para as próximas gerações.

De acordo com o ministro, também foram analisados a performance e o custo. A Saab concorria com a empresa francesa Dassault, fabricante do Rafale F3, e a americana Boeing, com o F/A-18E Super Hornet. A polêmica sobre a compra de caças para modernização da FAB iniciou em 2001, no governo FHC, e continuou no governo Lula. Em 2009, durante visita do então presidente francês Nicolas Sarkozy, o caça Rafale foi anunciado como o escolhido pelo presidente Lula, mas o governo brasileiro recuou após a insatisfação da FAB, que não havia sido consultada sobre a decisão.

Ao ser questionado quem ficou em segundo e terceiro lugar na disputa Amorim desconversou e disse que interessa apenas que os suecos venceram com a melhor proposta. “É que nem Oscar: ganhou ou não ganhou. Não me interessa saber quem ficou em segundo e terceiro”, afirmou o ministro, se recusando a dizer qual foi a colocação das propostas dos EUA e da França.

Embora o governo tenha escolhido o avião menos testado, o Ministério da Defesa argumenta que outros países, como a Hungria e a África do Sul, operam com o Gripen. Essa aeronave de guerra será responsável pela proteção do espaço aéreo brasileiro pelos próximos 30 anos, capaz de detectar, interceptar, além de portar armamento. Enquanto os novos aviões não chegam, a defesa fica a cargo dos caças F5-M. No dia 31, os 12 caças Mirage 2000 que hoje fazem esse trabalho serão aposentados.

Entenda o caso

Em 2001, o governo FHC abriu o programa F-X para substituir os caças de interceptação da Força Aérea Brasileira (FAB). O Mirage-2000, francês, o Sukhoi-35, russo, e o Gripen, sueco disputavam a preferência.

 Após Lula assumir em 2003, o processo foi congelado e, depois, encerrado. Foi reaberto como F-X2 para a compra de 36 caças supersônicos com capacidade múltipla (interceptação, combate e ataque a solo), 28 de um país e oito de dois, para substituir gradualmente todos os modelos em operação (Mirage, F-5, AMX). Foram escolhidos o Gripen, o Rafale (França) e o F-18 (EUA). Os russos ficaram de fora.

Em 2009, um relatório técnico da FAB deu preferência ao Gripen. O ex-presidente Lula, contudo, chegou a anunciar que o Rafale havia vencido. Ele recuou depois e o processo parou novamente.

Com a posse de Dilma, em 2011, o processo foi retomado e o F-18 americano tornou-se favorito. Só que as denúncias de espionagem americana contra o governo do Brasil interromperam as negociações.