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Estado de Minas

Senado quer apurar sumiço de ossadas encontradas no Pará

Comissão de Direitos Humanos do Senado defende que a Polícia Federal investigue restos mortais da década de 1970


postado em 19/12/2013 06:00 / atualizado em 19/12/2013 07:42

A Comissão de Direitos Humanos do Senado vai solicitar à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) informações sobre a localização de ossadas encontradas no Pará que podem pertencer a militantes de esquerda que participaram da Guerrilha do Araguaia, e pedir ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), que a Polícia Federal investigue o caso. Após audiência pública para tratar do tema no Senado na terça-feira, o membro do Comitê Paraense pela Memória, Verdade e Justiça Paulo Fonteles sofreu intimidação de agentes da Abin ao retornar a Belém (PA), conforme denunciou o senador João Capiberibe (PSB-AP) no plenário do Senado na noite de anteontem. “A Abin foi convidada e não mandou representante para a audiência. Quando cheguei em Belém havia dois carros atrás de nós. Imagine um negócio desses”, acusa Fonteles.

João Capiberibe contatou o ministro da Justiça, que prometeu empenhar a Polícia Federal na

investigação do caso. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), telefonou para Capiberibe na noite de terça para se inteirar do assunto. “Eu acho isso um absurdo e um abuso. Uma pessoa é convocada pelo Senado e em seguida essa pessoa é ameaçada”, lamentou o senador em seu discurso no plenário.

Matéria publicada com exclusividade pelo Estado de Minas em 3 de novembro denunciou o desaparecimento de ossadas encontradas no Forte do Castelo, em Belém, que teriam sido levadas em operação organizada pelos agentes Magno José Borges e Armando Souza Dias, da Abin do Pará, que durante a ditadura militar pertenceram ao Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOi-Codi) e estiveram no Araguaia. Além do relato de Fonteles, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém à época, Moacir Martis, e um ex-agente da Abin atestaram a existência das ossadas. Depoimento do ex-militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e sargento do Exército Amado Tupiassu e outras evidências levam a crer que as ossadas eram de guerrilheiros do Araguaia.

Ao deixar o aeroporto na terça-feira, Paulo Fonteles notou que estava sendo perseguido e enviou uma foto de celular para o telefone do senador Capiberibe, que se pronunciou no plenário: “Eu acho isso um absurdo e um abuso. Uma pessoa é convocada pelo Senado e em seguida essa pessoa é ameaçada”. A senadora Ana Rita (PT-ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos, defendeu a convocação de diretores da Abin para esclarecimentos. O presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lamentou o fato e informou que apoia a convocação de representantes da agência e aguarda o recebimento do pedido.

Segundo denúncia de Fonteles, uma rede de inteligência da agência atua fortemente abafando informações de violações de direitos humanos e na intimidação de militantes desde a ditadura. Dois processos de investigação estão abertos pela Polícia Federal para investigar se isso de fato acontece, um em Marabá e outro em Belém.

Um ex-cabo do Exército procurou Paulo Fonteles na segunda-feira e relatou que em 1992 foram encontradas entre cinco e sete ossadas no forte durante uma escavação no banheiro, exatamente ao lado do prédio onde hoje funciona a Casa das Onze Janelas. Todas elas tinham perfuração no crânio. O oficial superior, quando ficou sabendo, teria mandado que o buraco fosse tampado para que ninguém mais ficasse sabendo.

Logo após a matéria publicada no Estado de Minas, Fonteles recebeu uma mensagem anônima numa rede social, apontando uma área na Região Metropolitana de Belém onde estariam enterrados o famoso guerrilheiro do Araguaia Oswaldão e o dirigente do PCdoB, Maurício Grabois. “Fiz contato com um ex-soldado que serviu no local e atuou no Araguaia e descobrimos que a área realmente pertenceu ao Exército”, contou ele.


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