O Brasil vai pedir à empresa sueca Saab, fabricante dos futuros caças da Força Aérea Brasileira (FAB), que sejam emprestados de seis a 12 aviões enquanto os novos modelos não chegam. O “tampão” seria um Gripen da geração atual, o modelo C/D. O Brasil anunciou na quarta-feira que vai comprar, por US$ 4,5 bilhões, 36 Gripens NG, a nova geração do avião. O problema é que as aeronaves só começam a chegar, se o contrato for assinado até o fim de 2014, em algum momento de 2016. Enquanto isso, o Brasil só terá à sua disposição para defesa aérea antigos caças F-5 modernizados, já que os Mirage-2000 em uso atualmente serão desativados no dia 31.
Os Mirage, 12 ao total, já eram uma solução provisória encontrada pela FAB em 2005, quando foram aposentados os antigos Mirage-IIIEBR, com mais de 30 anos de uso. Usados, tiveram sua vida útil esticada ao máximo. Em 2005, os suecos chegaram a oferecer Gripens usados como “tampão”, então a expectativa é de que o pedido do Brasil seja aceito.
Os F-5 terão de ser remanejados para Anápolis, onde fica o Grupo de Defesa Aérea, responsável por proteger Brasília de ameaças. O contingente que ficará na cidade goiana será mínimo: seis pilotos, um major e cinco capitães, para manter a unidade e cumprir horas de voo nos F-5. Hoje há 46 desses aviões, que foram modernizados pela Embraer e contam com computadores atuais, mas não foram desenhados como interceptadores, e sim para combate aéreo. O próximo caça da FAB terá a missão de unificar as capacidades dos modelos existentes hoje. Ou seja, fazer interceptação como os Mirage, combate tático como os F-5, além de ataque a solo.
CRíTICAS Um dia depois de ser informado de que seu país não seria contemplado pelo contrato de compra dos caças para a FAB, o presidente da França, François Hollande, afirmou que o Brasil “queria um avião menos sofisticado e mais barato”. “Optaram por outro, é sua responsabilidade”, criticou o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian. Já a Boeing disse que a decisão é “decepcionante” e que gostaria de compreendê-la. Na outra ponta, as ações da Saad, empresa responsável pela produção dos Gripens NG, teve a maior alta em cinco anos na Bolsa de Estocolmo: 30%.
Especialistas do setor consideram acertada a escolha do governo, mas veem um defeito: o raio de alcance do Gripen é limitado, principalmente pelo fato de o Brasil ter dimensões continentais. O caça consegue voar somente 1,3 mil quilômetros sem precisar ser reabastecido. “O Gripen anterior tinha raio de atuação muito pequeno, de 800km. Isso é perfeito para países como a Suécia, a África do Sul e a República Tcheca, por exemplo, mas não para o Brasil”, diz Gunter Grudzit, especialista em segurança internacional e professor de relações internacionais da Faculdade Rio Branco, de São Paulo.
Pelo que o ministro da Defesa, Celso Amorim, disse na quarta-feira, as patentes dos itens fechados nos contratos serão repassadas às empresas brasileiras. Isso fará com que o Brasil não tenha de pagar royalties no futuro. “Isso é fantástico para a Embraer desenvolver por aqui”, comenta Grudzit. (Com agências)
Repercussão pelo mundo
The New York Times
» O jornal relata a escolha dos caças suecos em detrimentos dos americanos como uma “decepção” para a Boeing. O NYT lembra que a decisão brasileira ocorre “em um momento de crescente tensão entre os Estados Unidos e o Brasil” devido às revelações de espionagem por parte da Agência de Segurança dos EUA a chefes de Estado pelo mundo, incluindo a presidente Dilma Rousseff.
El País
» O periódico espanhol escreve que a negociação brasileira ocorreu em meio a uma “grande pressão” dos países que gostariam de vender seus caças ao governo Dilma. O jornal avalia que os Estados Unidos eram os mais cotados na concorrência, mas que a relação “ficou manchada após a descoberta que o país de Barack Obama estava espionando o governo brasileiro”.
Affarsvarlden
» O jornal sueco afirma que a empresa Saab foi a vencedora da Bolsa de Estocolmo “após levar para casa a aquisição brasileira de aviões de caça”. As ações da Saab subiram 30%. O chefe da aeronáutica da empresa, Lennart Sindahl, afirmou ao jornal que o Brasil fez uma avaliação completa ao escolher os Gripens. Ele acredita que com a decisão a marca se fortalece em outros mercados pelo mundo.
Le Monde
» O jornal francês chama a atenção para o fato de que o governo do país ainda espera negociar a venda dos Rafales à Índia e ao Catar, que devem anunciar os seus negócios em 2014. O ministro da Defesa da França, Yves Le Drian, declarou que “o Brasil não foi o nosso principal alvo”. Drian disse haver “boas razões para acreditar que nos dois países, em breve, haverá bons resultados”.