Leia Mais
PPS pede à Comissão da Verdade que investigue LulaComissão da Verdade pede revisão da causa da morte de JKComissão da Verdade de São Paulo conclui que Juscelino Kubitschek foi assassinadoComissão da Verdade investiga trabalho de general francês que ensinou tortura no BrasilTribunal Regional Federal rejeita ação popular para extinguir Comissão da VerdadeComissão da Verdade se aproxima do relatório finalComissão da Verdade terá até dezembro de 2014 para concluir trabalhosAmarildo
Crítico da atuação da Comissão da Verdade, o historiador Marcelo Zelic concorda que houve avanços no esclarecimento de alguns casos, mas lamenta que eles não tenham repercussão para a sociedade. “A confirmação da tortura aos militantes de esquerda deveria se traduzir na abolição dessa prática pelo Estado. Esse aspecto, no entanto, não foi abordado. Prova disso é o caso Amarildo”, lamentou Zelic. Amarildo Dias de Souza foi executado por policiais militares de uma unidade de polícia pacificadora (UPP), depois de ser torturado na Favela da Rocinha, no Rio. Para ele, a repetição da tortura por agente do Estado “prova que não existe nunca mais no Brasil”. “Não podemos apenas discursar. A tortura nunca mais é um processo que precisa ser construído, a partir da mudança de conduta do Estado brasileiro”, conclui o historiador.
Para ele, outra distorção nos trabalhos da comissão, composta por 13 grupos de trabalho, é dar maior relevância a certos temas em detrimento de outros, como vem acontecendo com o grupo que apurou a “estrutura da repressão”, que já tem até mesmo relatório final. Zelic cita como exemplo a divulgação do Relatório Figueiredo – documento de mais de 5 mil páginas, produzido entre os anos de 1967 e 1968, quando o então procurador Jader de Figueiredo Correia percorreu o país para apurar denúncias de crimes cometidos contra a população indígena –, que apesar de ter sido feita há mais de seis meses, em nada resultou. “Parece que nada existiu, porque não houve nenhum retorno para a sociedade sobre as medidas adotadas. A comissão precisa melhorar sua relação com a sociedade para envolvê-la e, de fato, ter efeito reparador”, conclui o historiador.
O volume de trabalho na Comissão da Verdade pode ser traduzido em números. Este ano, ela realizou aproximadamente 40 audiências públicas e tomadas de depoimentos de repressores, ex-militantes de esquerda e de militares em todo o Brasil. Foram ouvidas 405 pessoas até a segunda semana deste mês, merecendo destaque o do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do 2º Exército em São Paulo entre 1970 e 1974. Nos depoimentos, ele negou a execução de militantes de esquerda mas admitiu que a perseguição contra ativistas no regime militar era uma “luta pela democracia”.