Brasília – Mesmo preso no Complexo da Papuda desde 5 de dezembro, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado a sete anos e 10 meses de prisão no julgamento do mensalão, continua dando as ordens no Partido da República (PR). A legenda é aliada do governo Dilma Rousseff (PT) e comanda o Ministério dos Transportes. Na semana passada, Valdemar teve uma reunião na cadeia com o secretário-geral do partido e seu homem de confiança, o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP). De dentro da prisão, ele traça metas para eleger uma bancada de 40 deputados nas próximas eleições, conjectura alianças nos estados e faz sondagem de potenciais candidatos com possibilidade de votações expressivas.
Leia Mais
Ações contra Genoino e Costa Neto vão para 1ª InstânciaFrancisco das Chagas assumirá vaga de Costa NetoBispo Rodrigues e Costa Neto se entregam na Penitenciária da Papuda Valdemar Costa Neto comanda pressão sobre Dilma da cadeiaEx-deputado Valdemar Costa Neto deixa prisão para primeiro dia de trabalhoConsciente de que não escaparia da condenação imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o político preparou o PR para continuar sob seu controle enquanto ele estiver privado de liberdade. Na presidência do partido, colocou o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, que perdeu o cargo após denúncias de corrupção.
Um parlamentar do PR, ouvido reservadamente, confirma a influência do ex-deputado. Alega que o ex-presidente do PR está enfraquecido pelas circunstâncias, mas diz que as decisões políticas que moldam o caminho do partido continuam sendo suas. De acordo com ele, de dentro da cadeia, Valdemar orienta os correligionários por meio do senador Antônio Carlos em relação a alianças e candidaturas em 2014.
Ele salienta que o ex-presidente do PR é uma figura muito querida na legenda, que sempre conversou muito com a bancada e, por isso, continua exercendo uma liderança política natural dentro da sigla. “Ele se preparou para a prisão, mas, antes disso, preparou o partido para este momento. Da prisão, ele pensa e repassa as estratégias para as próximas eleições.”
O acordo para fechar o nome do deputado Bernardo Santana (PR-MG) como novo líder da sigla na Câmara, por exemplo, foi costurado por Valdemar antes de ser preso. O parlamentar assume o posto no fim de fevereiro. Além de dois advogados, Antônio Carlos Rodrigues é o único político escolhido como porta-voz informal do partido. O atual líder do PR na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), tentou ir à Papuda para um encontro com Valdemar, mas foi barrado. “Liguei para a secretária dele. Queria visitá-lo, mas tive a informação de que ele só estava recebendo os advogados. Acho estranho que ele tenha recebido o Antônio Carlos.”
Garotinho afirmou que Valdemar fez uma reunião após a condenação para informar os novos rumos do partido em virtude de sua prisão. “Estive nessa reunião e ele afirmou que estava passando o comando do partido, o que ele já vinha fazendo desde que teve esse problema.”
Renúncia Acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, Valdemar renunciou pela primeira vez a um mandato de deputado federal em agosto de 2005. Disse que o dinheiro recebido do PT era para ser utilizado em campanha eleitoral e não para fazer com que deputados votassem de acordo com o que determinava o governo Lula. Com o fim da primeira parte do julgamento do mensalão, ele foi condenado inicialmente em regime semiaberto por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Após a primeira renúncia, foi eleito novamente para a Câmara em 2006 e em 2010. O político deixou o cargo no mesmo dia em que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, determinou a prisão na Papuda. A carta de renúncia foi lida em plenário pelo deputado Luciano Castro (PR-RR). “Ainda que a Constituição garanta a este parlamentar o direito ao exercício do mandato até o fim do processo de cassação, não cogito impor ao Parlamento a oportunidade de mais um constrangimento.” Costa Neto era presidente do Partido Liberal (PL) na época do mensalão e foi acusado de receber mais de R$ 8 milhões do esquema em troca de apoio do partido no Congresso.
José Dirceu
A oposição cobrará explicações a respeito de uma empresa de consultoria do ex-ministro José Dirceu aberta no paraíso fiscal do Panamá no mesmo endereço onde funciona a Truston International – empresa que controla o Hotel Saint Peter, em Brasília, onde o petista tentou obter benefício do regime semiaberto com uma salário de R$ 20 mil. A informação sobre a filial aberta por Dirceu no Panamá foi divulgada pelo jornal O Estado de S.Paulo. “Há muito o que se investigar. As novas informações divulgadas sobre este condenado do mensalão deixam latente que ele operou de todas as formas e que ainda pode estar operando para sustentar aquele que é o maior escândalo desta República”, afirmou ontem o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR). O partido defende que órgãos como o Ministério Público, Polícia Federal, Receita e Banco Central façam uma “ampla investigação” sobre o caso.