Jornal Estado de Minas

Campanhas nas redes sociais não afastam o ' corpo a corpo'

Maioria dos deputados ainda aposta no antigo contato com líderes locais. Quando têm contas em redes sociais, elas são alimentadas por assessorias

Bertha Maakaroun - enviada especial
Apesar da oferta de ferramentas para a comunicação digital e da abertura da legislação eleitoral para a rede mundial de computadores, a maioria dos deputados mineiros ainda está atrelada à lógica do velho marketing: pouco interagem virtualmente com os seus eleitores, limitando-se a divulgar benefícios levados às bases eleitorais. A lei avança, mas o potencial da mídia digital está longe de ser empregado para estimular a participação política dos eleitores.


Levantamento feito pelo Estado de Minas com os deputados estaduais e a bancada federal mineira mostra políticos que, com raras exceções, ainda estão engatinhando na era digital. Enquanto 8% dos parlamentares mineiros estão fora ou muito ausentes da internet, 72% mantêm presença, mas são pouco ativos e não se abrem para o debate político. Em busca de alguma visibilidade virtual, esse grupo de deputados com pouca presença na rede mundial de computadores limita-se a anunciar no Facebook, fan pages, Twitter, YouTube e em sites convênios firmados para as bases eleitorais, comendas recebidas em câmaras municipais, ambulâncias, academias ao ar livre, motoniveladoras, retroescavadeiras, entre dezenas de  benefícios entregues aos municípios pelos governos do estado e federal por obra e graça da sua intermediação. Serviço feito, serviço entregue on-line pelas assessorias é a máxima desses deputados com uma postura pouco interativa com os eleitores.
Entre as plataformas, a rede de microblogs Twitter ainda é a mais popular. Quase todos têm. Entre os 77 deputados estaduais e 53 federais, nesta ordem, 67 e 53 têm contas. Muitas inativas, ainda do tempo da campanha de 2010. Alguns, caso do deputado federal Geraldo Thadeu (PSD), mantêm um perfil, mas nunca tuitaram. Outros, como o deputado federal Humberto Souto (PPS), estão no microblog mas não têm um seguidor sequer.

Com dificuldade de lidar com a tecnologia, quase todos os deputados entregam os pontos para a equipe de profissionais. “Só sei que tenho Facebook. Se tenho site não sei. Não acompanho, quem olha é a minha assessoria. Sou analfabeto digital”, avisa o deputado federal Fábio Ramalho (PV). “Não tenho hábito de usar as redes sociais. Faço política é no corpo a corpo”, acrescenta. Ramalho não está sozinho. “Tenho Facebook, Twitter e o site. Mas quem faz é a minha assessoria. Sou meio bicho do mato, tenho dificuldade”, admite o deputado federal Aelton Freitas (PR) .

Contas no Twitter paradas, delineia-se tendência de migração para o Facebook. Mantêm o perfil nessa rede 39 deputados estaduais e 36 têm fan pages. Entre deputados federais mineiros, 20 têm contas e 37 fan pages. A maioria não se encarrega nem de acessar essas plataformas digitais para conhecer os seus “amigos” eleitores. “Estou no Facebook, mas não entro muito. Apanho muito disso aí”, confessa o deputado federal Aracely de Paula (PR). “Meu voto é geográfico e minha campanha é na base do deslocamento”, afirma.

CONTATO LOCAL Diferentemente das campanhas majoritárias, em que equipes são formadas para atuar na mídia digital promovendo os seus candidatos e rebatendo ataques adversários com uma outra versão dos fatos, na disputa pelo Legislativo, para muitos deputados que buscam a reeleição o que ainda conta é o contato permanente com os líderes locais – prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e profissionais liberais de destaque. Talvez por isso, para as suas reeleições não seja importante aproveitar as oportunidades de comunicação e interação que essa mídia oferece.

“De um modo geral a classe política ainda usa a internet como fazia com os santinhos na década passada. Só em época de eleições”, avalia o especialista em comunicação digital Alexandre Secco, da Medialogue, que conduz, neste momento, o segundo censo com os congressistas brasileiros destinado a uma radiografia do uso das mídias digitais. “Apenas uma minoria usa a internet para interagir com o eleitorado, prestar contas do mandato,  como imaginaríamos que seria”, afirma.

Ainda em fase de processamento dos dados do novo censo, as primeiras estatísticas do Medialogue são sugestivas de que houve pouca alteração na forma com que os parlamentares empregam a nova mídia. Há dois anos, a pesquisa indicou que 25% estavam ausentes da internet, 56% mantinham presença pontual e isolada com perfis e pouca atividade. Apenas 19% eram ativos e poderiam ser considerados influentes, pelo emprego dos canais digitais para se aproximar dos eleitores.

Palavra de especialista

Alexandre Atheniense - advogado especialista em direito digital

Perfil falso será punido


“De todas as regulamentações já aprovadas no Congresso Nacional relacionadas ao uso da mídia digital, a chamada minirreforma eleitoral aprovada no Congresso e já sancionada, que vigorará para o pleito de 2014, é a mais liberal e vai fomentar muito o uso das redes sociais nas campanhas. Partimos, há 13 anos, de um cenário em que a internet era um campo desconhecido para o legislador que teria de exercer o controle. Agora, ao contrário, adotamos o vale-tudo, com limites apenas para vedar o anonimato. O ciberativismo – ou seja, a contratação de equipes de campanha para atuar no anonimato das redes em defesa de candidatos e para o ataque a adversários – será punido. A regra vale inclusive para as pessoas que fazem comentários na mídia digital com o uso de perfis falsos. Equipes de campanha que argumentam em defesa de projetos e para desconstruir outros não poderão agir anonimamente. Terão de comentar com o nome real.”

Deputados desplugados

Fora da internet ou com presença mínima


Estaduais
Almir Paraca (PT)
Dr. Hely (PV)
Inácio Franco (PV)
Juninho Araújo (PTB)
Leonardo Moreira (PSDB)
Leonídio Bouças (PMDB)
Pinduca (PP)
Sebastião Costa (PPS)
Tiago Ulisses (PV)
Tony Carlos (PMDB)

Federais
João Magalhães (PMDB)
Mauro Lopes (PMDB)
Newton Cardoso (PMDB)