Jornal Estado de Minas

Quase a metade dos projetos de lei de autoria dos vereadores de BH foi vetada pelo prefeito

Boa parte das propostas não passou por ferir a Constituição. Já 45 propostas de autoria do Executivo receberam aval dos vereadores

Alice Maciel
Apesar das reclamações, os vereadores mantiveram os vetos do prefeito Marcio Lacerda aos seus projetos de lei. Nenhum foi derrubado - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS - 4/12/13
Os vereadores de Belo Horizonte terminam o ano de 2013 repetindo um rosário de queixas de legislaturas anteriores. É que mais uma vez eles tiveram dificuldade em transformar os seus projetos em lei. O prefeito Marcio Lacerda (PSB) vetou nada menos que 56 das 129 propostas que tiveram origem na Câmara Municipal. Por outro lado, o saldo da prefeitura não poderia ser melhor. As 45 propostas de autoria do Executivo que chegaram ao plenário receberam o aval dos vereadores.
Nem mesmo o líder de governo, vereador Preto (DEM), foi poupado da canetada do “seu chefe”. E o veto ao seu projeto, que determina que 5% das unidades que compõem os conjuntos habitacionais populares implantados pela prefeitura sejam adaptadas às necessidades de idosos e deficientes, foi mantido em plenário. Assim como o dele, todos os outros vetos do prefeito foram confirmados pelos parlamentares.

Diante desse quadro, o vereador Preto já anunciou que a partir do ano que vem vai adotar outra tática: “Vou trabalhar para os vereadores barrarem os projetos no plenário, para não precisar que o prefeito os vete”. O que ocorre hoje muitas vezes é que, para agradar ao colega, os parlamentares aprovam propostas sem nem mesmo ter conhecimento do assunto. Para se ter ideia, durante o ano, só sete propostas foram rejeitadas. Normalmente, na hora da votação é comum ver o autor de um projeto atrás dos colegas mais próximos: “Vem votar, esse é meu”.

Inconstitucionalidade e vícios de origem são alguns dos principais motivos de o prefeito barrar as propostas dos parlamentares, de acordo com o líder de governo. Para a oposição, falta diálogo do Executivo com o Legislativo para evitar a grande quantidade de projetos barrados. “Na minha opinião, os vetos correspondem à falta de diálogo entre o Executivo com a Câmara e vice-versa. Os vereadores fazerem projetos passíveis de veto é comum. Mas o Executivo tem uma assessoria dentro da Casa que tem condição de ajudar para diminuir a quantidade de projetos que podem ser vetados”, afirmou o vereador Adriano Ventura (PT).

O líder da bancada petista, vereador Pedro Patrus, e o vereador do PCdoB Gilson Reis, frequentemente, vão ao microfone dizer que os vetos de Lacerda são políticos. E o prefeito já recebeu críticas até da base aliada por ter dado bomba nas propostas. Foi o caso do vereador Edson Moreira (PTN), que chegou a distribuir nota à imprensa indignado porque a prefeitura vetou projeto de sua autoria que autoriza o Executivo a criar o Departamento de Operações do Sistema Viário (DSV) com o objetivo de exercer, entre outras atribuições, o controle do tráfego e a aplicação de multas a motoristas infratores.

Acelerador O ritmo de votações na Câmara este ano foi lento no fim do ano, mas os vereadores botaram o pé no acelerador para aprovar as propostas de interesse da prefeitura. Foram apresentados na Casa este ano 1,2 mil projetos de lei, 264 foram apreciados durante as 110 reuniões ordinárias e 14 extraordinárias. Na ponta do lápis, eles votaram dois projetos por reunião.

Os parlamentares ainda retomam os trabalhos amanhã e, se necessário, na sexta-feira, para apreciar outras três propostas do Executivo. Entre elas, a que permite a instalação de materiais publicitários, durante a Copa do Mundo, em locais proibidos pelo Código de Posturas da cidade. Também será votada a proposta que permite a construção de um centro de convenções e um complexo hoteleiro e empresarial no Parque da Gameleira, no bairro de mesmo nome, na Região Oeste, e o que prevê o ajuste na equação que vai estabelecer o valor da transferência do direito de construir.