O senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, acusou a presidente Dilma Rousseff de usar pronunciamento de fim de ano para fazer “autoelogio e campanha eleitoral”. Em nota divulgada ontem, o tucano considerou a convocação de rede nacional de rádio e TV pela presidente “abusiva” e criticou o fato de o discurso veiculado no domingo ter sido usado somente para apontar feitos do governo, deixando de fora temas importantes como a situação crítica de vítimas das chuvas e o baixo crescimento econômico em 2013. As críticas foram engrossadas por outros oposicionistas, como o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
“Nenhuma palavra sobre as famílias vítimas das chuvas e as obras prometidas e não realizadas. Nenhuma menção à situação das empresas públicas, à inflação acima do centro da meta, ao pífio crescimento da economia. Nenhuma menção à situação das estradas, à crise da segurança e à epidemia do crack, que estraçalha vidas”, afirmou o senador.
No texto, o senador da oposição, que é presidente do PSDB, chamou de "abusiva" a convocação dessa aparição na mídia – uma prerrogativa presidencial – para apresentar um país de "ilha da fantasia". “Essa nova e abusiva convocação de rede de rádio e televisão é mais uma demonstração da falta de limites de um governo que acredita que a propaganda e o ilusionismo podem demonstrar força, enquanto, na verdade, só acentuam a sua fraqueza”, ressaltou.
Para o tucano, números da atual administração mostram que a imagem positiva transmitida pela presidente em rede nacional não condiz com a realidade do país. “Apenas como exemplo, na ilha de fantasia a que a presidente nos levou mais uma vez, a qualidade do ensino tem melhorado e a criação de creches é comemorada. Enquanto isso, no Brasil real, os resultados dos testes internacionais demonstram o contrário: o analfabetismo parou de cair e, das 6 mil creches prometidas em 2010, apenas 120 haviam sido entregues até outubro”, criticou Aécio.
Em seu 17º pronunciamento desde que assumiu a Presidência da República, Dilma Rousseff fez um balanço das ações do governo em 2013 e rechaçou críticas feitas pela oposição à atuação do Palácio do Planalto na área econômica. A petista afirmou que “dificilmente vai existir em qualquer época um país com economia perfeita e que sempre haverá algo por fazer”. Ela citou as crises financeiras no exterior como um obstáculo para o setor, mas garantiu que o país vive um ciclo econômico positivo.
"Ufanista"
O tom otimista da presidente foi criticado ontem também pelo líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR). Para o parlamentar, Dilma “dourou a pílula” ao não ser realista quanto às dificuldades enfrentadas na área econômica. “O Brasil passa por um momento de descrédito interno e externo enquanto a presidente Dilma Rousseff doura a pílula com um discurso para lá de ufanista de seus feitos nos últimos anos, omitindo dos brasileiros a verdade sobre a situação da economia, que se arrasta em seu governo com um crescimento pífio”, alfinetou Bueno.
O deputado alertou ainda que o país estaria perdendo a credibilidade construída com o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal e que as perspectivas não são boas, diante de um possível rebaixamento da nota do país pelas agências de classificação de risco. Ainda segundo Bueno, o discurso adotado para reforçar a importância dos programas sociais deixa clara a “falência das políticas públicas do PT” nos últimos anos. “Não há nada de novo além do conhecido tom eleitoreiro como a presidente trata os programas sociais desenvolvidos pelo Executivo”, disse o líder do PPS.
Já no domingo, logo após o discurso da presidente, o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), considerou a fala de Dilma lamentável. “O país está ficando incompetitivo por conta dos ajustes fiscais, da carga tributária, do câmbio, da inflação e da burocracia”, afirmou. “E a presidente persiste em falar, em termos ufanísticos, de coisas do passado, como se fosse presente. Isso é preocupante”, acrescentou.
Saída em abril
Apesar das recentes especulações de que poderia deixar o governo de Pernambuco já nos dois primeiros meses de 2014 para dedicar-se integralmente à disputa pela Presidência da República, o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, afirmou ontem, durante evento realizado no interior do estado, que vai "ficar no Governo até o prazo estabelecido pela Lei Eleitoral, que é 4 de abril". O socialista, no entanto, manteve o mistério em torno da cabeça de chapa, que poderá ser dele ou da recém-filiada à legenda, a ex-senadora Marina Silva (PSB-AM). Campos minimizou eventuais dificuldades de alavancar a campanha em função do baixo índice de reconhecimento nacional ao seu nome. "Temos a clareza de que neste país de dimensões continentais, nós ainda temos um desconhecimento muito grande. Eu sou conhecido em Pernambuco, mas fora de Pernambuco nós só vamos vencer esse desconhecimento quando o debate da TV e do rádio for iniciado", assegurou.