Cargos em associações, consórcios e outros tipos de entidades agregadoras de municípios são um trampolim para voos mais altos na política e uma alternativa para ex-prefeitos que não podem ser reeleitos seguirem no poder – e no cenário político – visando as eleições para deputado, em outubro. Porém, a campanha antecipada pode gerar atritos e levar a debandadas nas associações.
O ex-prefeito de Congonhas Anderson Cabido (PT) vai tentar uma vaga na Assembleia Legislativa e sua candidatura gerou um racha entre cidades do Alto Paraopeba. Após deixar a prefeitura, sem poder ser reeleito, uma de suas ocupações é uma consultoria técnica do Consórcio para o Desenvolvimento de Alto Paraopeba (Codap), atividade remunerada. Recentemente ele postou uma imagem – com a logamarca da Codap – em uma rede social se gabando de ter apoiado a liberação de R$ 3 milhões para a construção de Centro de Inicialização Esportiva Regional (Cier), em Conselheiro Lafaiete
“A Codap nunca trouxe nenhum benefício para a cidade”, afirma o prefeito de Conselheiro Lafaiete, Ivar Cerqueira (PSB). Insatisfeito com o consórcio, o prefeito solicitou autorização da Câmara Municipal para deixar o Codap. Cerqueira reclama que a prefeitura precisa pagar R$ 18 mil por mês (R$ 216 mil ao ano) e não tem retorno. Sobre o Cier, Cerqueira é enfático: “Filho bonito tem um monte de pai”. O prefeito argumenta que o investimento é do governo federal e que a Codap noticiou como se houvesse negociado a instalação.
Ivar é presidente de outra entidade, a Associação dos Municípios do Alto Paraopeba (Amalpa), cujo papel, segundo ele, é fazer serviços de topografia, fornecer maquinário e projetos para as prefeituras associadas. “Não podemos nos tornar uma bandeira política partidária”, acredita Ivar. Porém, a saída de Conselheiro Lafaiete do Codap gerou uma retaliação.
A prefeita de Ouro Branco, Cida Campos (PSD), que preside o consórcio, anunciou que sua cidade deixará a Amalpa. “É um jogo político muito grande”, afirma Cida. Para ela, há muita injustiça com o ex-prefeito de Congonhas. “É um homem muito bacana, mas infelizmente as pessoas não reconhecem”, lamenta ela, que destaca a instalação do câmpus Alto Paraopeba da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) como um dos feitos do Codap.
Anderson Cabido foi procurado pela reportagem, tanto na sede do consórcio quanto no telefone pessoal, mas não retornou as ligações. Durante a eleição de 2012, ele se desfiliou do PT para apoiar Zelinho (PSDB), que foi vice-prefeito dele. Porém, após o pleito, retornou ao PT. Ele também é diretor do Instituto Desenvolvimento Territórios Mineradores e secretário-executivo da Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib).
Outro possível candidato bem articulado para as próximas eleições é o agora superintendente-geral da Associação Mineira de Municípios (AMM), Ângelo Roncalli (PR), que foi presidente da entidade durante dois anos. Sem poder ser reeleito mais uma vez em São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Centro-Oeste, ele conseguiu um cargo sob medida para seguir no cenário político.
Quem faz articulação parecida é o ex-presidente da Associação dos Municípios do Médio Rio São Francisco (Ammesf) Reinaldo Landulfo Teixeira (PTB), pré-candidato a deputado federal. Ex-prefeito de Capitão Enéas, no Norte de Minas, ele comandou a entidade entre 2010 e 2011. Depois de deixar a prefeitura, em 31 de dezembro de 2012, assumiu um cargo de assessoria no governo do estado.
Ele reconhece a projeção oferecida pelas associações. “O exercício do cargo de prefeito de uma cidade pequena somente torna a pessoa conhecida dentro do município. Mas se ocupa a presidência da associação de municípios, você ganha mais visibilidade por causa do contato com os colegas prefeitos”, afirma o Teixeira.
Sucessora
Durante oito anos, a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), que reúne 85 municípios do norte do estado, foi comandada por Valmir Morais de Sá (PTB), durante o período em que ele foi prefeito da pequena Patis. Em janeiro de 2013, por força legal, após deixar a prefeitura, ele também teve que afastar da Amams. Porém, apoiou o atual presidente da entidade, Carlucio Mendes (PSB), prefeito de Mirabela. Dessa forma, Morais de Sá segue com influência na associação, onde são mantidos seus antigos assessores, incluindo uma filha dele.
Ele não será candidato, mas trabalha pela candidatura da filha, a advogada Beatriz Morais de Sá Correa, que foi secretária-executiva da Amams na gestão do pai. Ela articula para ser candidata a deputada estadual pelo PTB. Atualmente, Beatriz é subsecretária de Desenvolvimento Regional da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Regional e Política Urbana. Ontem, a reportagem tentou contato com pai e filha, mas não obteve sucesso.
O atual prefeito de Patis, Vinicius Versiane (PMDB), não quis comentar a influência de Morais de Sá, seu adversário, na entidade. Mas observou: “As associações de municípios têm sido usadas ao longo dos anos para atender interesses políticos de uma minoria. Temos de mudar isso”.
Exemplos do passado
Não faltam exemplos de políticos que após presidir as entidades ganharam projeção. É o caso de Márcio Kangussu, ex-prefeito da pequena Joaíma, que após presidir a Associação dos Municípios do Baixo Jequitinhonha (Ambaj) foi presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), deputado estadual (1999 a 2003) e ocupou cargo de secretário adjunto de Governo do estado. Atualmente, é diretor da Copasa. Passaram ainda pela AMM o deputado federal Vitor Penido (DEM), ex-prefeito de Nova Lima, e o atual prefeito de Mariana, Celso Cota (PSDB).