Brasília – O governo federal vai pedir ajuda ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para evitar uma onda de rebeliões nos presídios do país durante a Copa do Mundo de 2014, o que colocaria em risco os planos de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A ideia é fazer um pente-fino nos presídios instalados nas 12 cidades-sede que receberão os jogos das 32 seleções e os turistas que estarão no Brasil. Dilma sabe que a explosão da violência em um período estratégico colocará em xeque a capacidade do Executivo federal de controlar o sistema carcerário nacional.
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Segundo apurou a reportagem, Dilma já teria, inclusive, manifestado a ideia ao presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. O CNJ é responsável pelos mutirões carcerários que levantam os problemas dos presídios brasileiros e apontam soluções para diminuir a pressão nas cadeias do país. A parceria emergencial aconteceria nos 12 estados onde haverá jogos: Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Dilma está obcecada com a segurança nos jogos da Copa. Ela sabe que os erros e tragédias que porventura acontecerem serão debitados diretamente na conta do governo federal, o que pode trazer prejuízos eleitorais na disputa de outubro. Aliados do governo avaliam que a autoestima do brasileiro com a realização dos jogos será afetada diretamente conforme a Copa do Mundo traga transtorno, decepção ou uma sensação de aumento de insegurança no país. O Brasil já enfrenta dificuldades nas obras de mobilidade, deve enfrentar nova onda de manifestações nas ruas durante os jogos e tenta evitar novas crises para administrar.
DIAGNÓSTICO Os levantamentos já feitos pelo CNJ nas unidades prisionais das cidades-sede mostram que a tardia preocupação do governo procede. O Amazonas, por exemplo, estado do qual as seleções reclamam do calor, os presídios estão sendo acusados desrespeito aos direitos humanos, mesma crítica feita ao Presídio Central de Porto Alegre que, inclusive, está sendo questionado pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
No Ceará, uma rebelião recente no município de Itaitinga provocou a fuga de três criminosos que participaram do assalto do Banco Central. Em Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Distrito Federal e Pernambuco, a superlotação aumenta os riscos de motins. No Rio de Janeiro, onde será realizada a final da Copa do Mundo, os presos estão amontoados nas delegacias. Em São Paulo, sede da partida de abertura, além da ascensão do Primeiro Comando da capital (PCC) no sistema, existem problemas de atendimentos à saúde. E no Rio Grande do Norte rebeliões recentes terminaram com presos decapitados, bem antes das cenas de barbárie ocorridas em Pedrinhas.
Para o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ignácio Cano, o pente-fino não resolverá os problemas do sistema, mas mostram que as rebeliões surtem o efeito. “A sociedade só se preocupa com os presídios quando existem motins. É válido tudo o que puder ser feito para diminuir a superlotação e retirar presos que não deveriam mais estar nas cadeias”, afirmou Cano.