Jornal Estado de Minas

Filhos de Jader Barbalho e Renan Calheiros serão candidatos em 2014

Caciques apostam em herança política; Roseana Sarney tentará eleição para o Senado

Grasielle Castro Denise Rothenburg
Brasília – Políticos tradicionais envolvidos em escândalos recentes trabalham para lançar os filhos na corrida eleitoral para manter a hegemonia no controle dos palácios estaduais. Depois de passarem por um purgatório político, Jader Barbalho (PMDB-PA) e Renan Calheiros (PMDB-AL) têm preferido continuar no Legislativo — escaldados com uma possível rejeição eleitoral e os possíveis ataques devido ao histórico político. A decisão da dupla é “investir” nos herdeiros, com imagem menos desgastada, Helder Barbalho e Renan Filho. Ambos devem ser candidatos aos governos do Pará e de Alagoas, em outubro. Na dinastia Sarney, a aposta será a eleição de Roseana Sarney (PMDB-MA) para o Senado.
O sinal verde para a largada eleitoral de Helder Barbalho (PMDB), ex-prefeito de Ananindeua, foi dado no fim do ano passado. Desde então, o filho de Jader Barbalho corre atrás de um apoio que ultrapasse o sobrenome. O candidato, entretanto, tem a missão de superar a série de derrotas que a família vem sofrendo. Embora tenha sido reeleito prefeito, Helder não conseguiu emplacar o sucessor. O pai, que foi governador, deputado e, agora, está no Senado, viu seu apadrinhado e candidato à Prefeitura de Belém deputado federal José Priante empacar no segundo turno. Recentemente, Helder, na condição de presidente da Federação das Associações de Municípios do Pará (Famep), esteve em Brasília para pedir ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, atenção ao estado. O pedido, se atendido, pode se tornar uma carta na manga para as eleições. Procurado pela reportagem, Jarder Barbalho não quis comentar.

O parlamentar, assim como o presidente do Senado, Renan Calheiros, estão com a cadeira garantida até janeiro de 2019. Sem a obrigação de enfrentar as urnas, Renan articula para emplacar o filho no governo do estado. O deputado Renan Filho (PMDB-AL) não descarta entrar na jogada, mas ressalta que ainda não há definição. “A eleição ainda está muito longe. A prioridade é do senador. Eu poderia ser candidato, caso ele não fosse. O partido ainda está discutindo e vai avaliar a melhor conjuntura”, explica. O deputado, entretanto, destaca que Renan é uma figura diferenciada. “Ele é um personagem nacional, a circunstância dele é diferente, mas é uma escolha que cabe a ele”, minimiza.

No fim do mês passado, o senador protagonizou outro escândalo. Foi flagrado em um hospital em Recife para fazer um procedimento estético. O problema é que ele usou um avião da Força Aérea Brasileira para se deslocar entre Brasília e Recife para realizar cirurgia de implante capilar. Duas semanas após o tratamento, Renan teve que devolver R$ 27.390,25 aos cofres públicos pelo voo. A promessa do PMDB é bater o martelo sobre a decisão de quem deve concorrer ao governo do estado em março.

A aproximação do fim do mandato do senador José Sarney (PMDB-AP) é o principal combustível para a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, ao Senado. Apesar de estar no centro de uma crise política no estado, devido a situação do sistema penitenciário do estado (leia mais na página 7), a principal herdeira da carreira dos Sarneys não deve desistir da política. Aliado de Roseana, o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) não condena a decisão da governadora. “Essa não é uma regra. Tem muito filho de político que não gosta de seguir o mesmo caminho, já outros veem como uma possibilidade", afirma. O deputado, entretanto, enfatiza que essa é uma questão pessoal.

O professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto ressalta que a hereditariedade de transferência de votos é uma das principais características do sistema político brasileiro. Segundo ele, o país convive com esses artifícios há várias décadas. “Embora tenha havido tentativas para quebrar esse ciclo, a estrutura oligárquica continua muito forte”, alerta. Na avaliação do professor, um dos pilares de sustentação da transferência de votos é a estrutura dos partidos políticos. A semelhança com outros setores da sociedade, como a economia e a desigualdade social, faz com que a organização do poder se mantenha. “Os grupos econômicos dominantes também não mudam muito. Esse panorama é generalizado. A mesma coisa acontece com a suplência de senadores, que colocam os filhos, mulheres. Isso atenua o desgaste e ele ainda emplaca a parentada”, pontua.

QUEM É QUEM


- Foto: Paulo de Araújo/CB/D.A PressRenan Filho (PMDB-AL), 34 anos
Deputado federal mais votado de Alagoas no último pleito, Renan Filho entrou para a política como uma sombra do pai. Mais velho da prole do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da artista plástica Maria Verônica, Renanzinho, como é conhecido, começou a trabalhar e a acompanhar o trabalho do pai em 2003. Só em 2005, entretanto, ingressou de fato no ramo, ao se eleger prefeito de Murici. Em 2008, acabou reeleito e, em 2012, entrou para a Câmara dos Deputados. Ele é acusado de envolvimento em um esquema de compra de emissoras de rádio.

- Foto: Reprodução/DacebookHelder Barbalho (PMDB-PA), 34 anos
Filho do senador peemedebista Jader Barbalho e da deputada federal Elcione Therezinha Zahluth, Helder seguiu os passos dos pais logo cedo. Com 18 anos se filiou ao PMDB e entrou para a militância do movimento estudantil do partido. No ano seguinte, se formou em administração e aos 21 anos concorreu ao primeiro cargo eletivo. A herança política o fez o vereador mais votado do município de Ananindeua. Antes de concluir o mandato de vereador, elegeu-se deputado estadual. Em 2005, com 25 anos, assumiu a Prefeitura de Ananindeua. Ao fim do mandato, acabou reeleito.

- Foto: Honório Moreira/OIMP/D.A PressRoseana Sarney (PMDB-MA), 60 anos
Herdeira política do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), Roseana conseguiu traçar uma carreira política calçada no peso do sobrenome. A trajetória da atual governadora do Maranhão começou em 1990, quando concorreu à Câmara dos Deputados e se elegeu pelo antigo PFL. No pleito seguinte, foi eleita governadora. Reelegeu-se em 1998. Em meio a escândalos, ela renunciou para concorrer à Presidência, depois teve uma curta passagem pelo Senado e acabou eleita novamente governadora do Maranhão. Embora esteja no centro de uma crise no estado, a governadora é a única do clã, que inclui o deputado federal Sarney Filho e o empresário Fernando Sarney, que conseguiu se descolar da imagem do pai.