Brasília – Políticos tradicionais envolvidos em escândalos recentes trabalham para lançar os filhos na corrida eleitoral para manter a hegemonia no controle dos palácios estaduais. Depois de passarem por um purgatório político, Jader Barbalho (PMDB-PA) e Renan Calheiros (PMDB-AL) têm preferido continuar no Legislativo — escaldados com uma possível rejeição eleitoral e os possíveis ataques devido ao histórico político. A decisão da dupla é “investir” nos herdeiros, com imagem menos desgastada, Helder Barbalho e Renan Filho. Ambos devem ser candidatos aos governos do Pará e de Alagoas, em outubro. Na dinastia Sarney, a aposta será a eleição de Roseana Sarney (PMDB-MA) para o Senado.
O parlamentar, assim como o presidente do Senado, Renan Calheiros, estão com a cadeira garantida até janeiro de 2019. Sem a obrigação de enfrentar as urnas, Renan articula para emplacar o filho no governo do estado. O deputado Renan Filho (PMDB-AL) não descarta entrar na jogada, mas ressalta que ainda não há definição. “A eleição ainda está muito longe. A prioridade é do senador. Eu poderia ser candidato, caso ele não fosse. O partido ainda está discutindo e vai avaliar a melhor conjuntura”, explica. O deputado, entretanto, destaca que Renan é uma figura diferenciada. “Ele é um personagem nacional, a circunstância dele é diferente, mas é uma escolha que cabe a ele”, minimiza.
No fim do mês passado, o senador protagonizou outro escândalo. Foi flagrado em um hospital em Recife para fazer um procedimento estético. O problema é que ele usou um avião da Força Aérea Brasileira para se deslocar entre Brasília e Recife para realizar cirurgia de implante capilar. Duas semanas após o tratamento, Renan teve que devolver R$ 27.390,25 aos cofres públicos pelo voo. A promessa do PMDB é bater o martelo sobre a decisão de quem deve concorrer ao governo do estado em março.
A aproximação do fim do mandato do senador José Sarney (PMDB-AP) é o principal combustível para a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, ao Senado. Apesar de estar no centro de uma crise política no estado, devido a situação do sistema penitenciário do estado (leia mais na página 7), a principal herdeira da carreira dos Sarneys não deve desistir da política. Aliado de Roseana, o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) não condena a decisão da governadora. “Essa não é uma regra. Tem muito filho de político que não gosta de seguir o mesmo caminho, já outros veem como uma possibilidade", afirma. O deputado, entretanto, enfatiza que essa é uma questão pessoal.
O professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto ressalta que a hereditariedade de transferência de votos é uma das principais características do sistema político brasileiro. Segundo ele, o país convive com esses artifícios há várias décadas. “Embora tenha havido tentativas para quebrar esse ciclo, a estrutura oligárquica continua muito forte”, alerta. Na avaliação do professor, um dos pilares de sustentação da transferência de votos é a estrutura dos partidos políticos. A semelhança com outros setores da sociedade, como a economia e a desigualdade social, faz com que a organização do poder se mantenha. “Os grupos econômicos dominantes também não mudam muito. Esse panorama é generalizado. A mesma coisa acontece com a suplência de senadores, que colocam os filhos, mulheres. Isso atenua o desgaste e ele ainda emplaca a parentada”, pontua.
QUEM É QUEM
Renan Filho (PMDB-AL), 34 anos
Deputado federal mais votado de Alagoas no último pleito, Renan Filho entrou para a política como uma sombra do pai. Mais velho da prole do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da artista plástica Maria Verônica, Renanzinho, como é conhecido, começou a trabalhar e a acompanhar o trabalho do pai em 2003. Só em 2005, entretanto, ingressou de fato no ramo, ao se eleger prefeito de Murici. Em 2008, acabou reeleito e, em 2012, entrou para a Câmara dos Deputados. Ele é acusado de envolvimento em um esquema de compra de emissoras de rádio.
Helder Barbalho (PMDB-PA), 34 anos
Filho do senador peemedebista Jader Barbalho e da deputada federal Elcione Therezinha Zahluth, Helder seguiu os passos dos pais logo cedo. Com 18 anos se filiou ao PMDB e entrou para a militância do movimento estudantil do partido. No ano seguinte, se formou em administração e aos 21 anos concorreu ao primeiro cargo eletivo. A herança política o fez o vereador mais votado do município de Ananindeua. Antes de concluir o mandato de vereador, elegeu-se deputado estadual. Em 2005, com 25 anos, assumiu a Prefeitura de Ananindeua. Ao fim do mandato, acabou reeleito.
Roseana Sarney (PMDB-MA), 60 anos
Herdeira política do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), Roseana conseguiu traçar uma carreira política calçada no peso do sobrenome. A trajetória da atual governadora do Maranhão começou em 1990, quando concorreu à Câmara dos Deputados e se elegeu pelo antigo PFL. No pleito seguinte, foi eleita governadora. Reelegeu-se em 1998. Em meio a escândalos, ela renunciou para concorrer à Presidência, depois teve uma curta passagem pelo Senado e acabou eleita novamente governadora do Maranhão. Embora esteja no centro de uma crise no estado, a governadora é a única do clã, que inclui o deputado federal Sarney Filho e o empresário Fernando Sarney, que conseguiu se descolar da imagem do pai.