Jornal Estado de Minas

PF está atrás de envolvidos no maior golpe contra a Caixa; eles desviaram R$ 73 milhões

Os criminosos poderão responder pelos crimes de peculato, receptação majorada, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro

Estado de Minas

Brasília – Todos os envolvidos num esquema que desviou R$ 73 milhões do jogo lotérico da Mega-Sena, da Caixa Econômica Federal (CEF), poderão responder pelos crimes de peculato, receptação majorada, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, cujas penas somadas podem chegar a 29 anos de prisão. A Operação Éskhara foi deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF) em três estados – Goiás, Maranhão e São Paulo – para desbaratar a quadrilha envolvida no golpe. As investigações vão continuar, pois há a possibilidade de existirem outros fraudadores envolvidos no esquema. O banco relatou à PF que se trata da maior fraude já sofrida em toda a sua história.

O dinheiro do “falso prêmio”, de R$ 73 milhões, foi depositado numa conta bancária aberta no final do ano passado em Tocantinópolis (TO) no nome de uma pessoa fictícia. Em seguida, foi transferido para diversas contas. O agente da PF Jorge Apolônio Martins disse que esta foi a quarta vez que o golpe foi aplicado no Brasil. Em geral, um gerente da Caixa é cooptado pela quadrilha e confirma o recebimento do prêmio, transferindo o valor para uma conta dos fraudadores. A quadrilha está espalhada pelo Brasil, o que dificulta a investigação, informou a Polícia Federal, que batizou a operação de Éskhara, nome que vem do grego e significa escara, uma ferida que nunca se cura.

Um dos envolvidos no esquema é o suplente de deputado federal Ernesto Vieira Carvalho Neto, que disputou a vaga em 2010 pelo PMDB do Maranhão na chapa da governadora Roseana Sarney (PMDB). Segundo os investigadores, Carvalho Neto teria comprado um avião com o dinheiro desviado da CEF e teria a intenção de usá-lo numa fuga. Ele foi detido no fim da tarde de ontem, entre os municípios de Carolina e Estreito, no interior maranhense. A Justiça expediu mandado de prisão para mais quatro pessoas. Nenhuma delas foi presa até agora. A PF não informou os nomes dos outros envolvidos. Disse apenas que há a possibilidade de haver outros envolvidos no esquema. A Justiça também autorizou o cumprimento de 10 mandados de busca e apreensão e um mandado de condução coercitiva (quando a pessoa é levada a prestar depoimento e liberada em seguida).

MODUS OPERANDI O gerente-geral da agência de Tocantinópolis é suspeito de envolvimento no crime e teve a prisão preventiva decretada. A conta foi aberta em 5 de dezembro, de acordo com o delegado da PF Omar Afonso de Ganter Pelow, em Araguaína. A autorização para a abertura da conta foi do gerente-geral da agência, Robson Pereira do Nascimento, que usou sua senha para retirar o valor da conta interna da instituição de pagamento de prêmios. Logo depois de a conta ter sido aberta, foram feitas transferências de R$ 40 milhões para uma conta em São Paulo e R$ 33 milhões para outra em Goiás. A partir daí, passaram a ser feitas várias transferências de valores mais baixos, inclusive para outros bancos, para permitir o saque dos valores.

Pelow afirmou que todos os gerentes de agência da CEF podem movimentar a conta da Mega-Sena, mas o procedimento correto é que a validação do bilhete seja feita antes que o dinheiro seja colocado na conta do premiado. Nascimento, segundo ele, não fez isso. Cobrado pela instituição, alegou que tinha mandado o bilhete e a documentação do ganhador pelo malote. Em seguida, como estava em férias, passou a dizer que estava em viagem pelo Ceará e verificaria o que ocorreu quando retornasse ao trabalho. A Caixa já bloqueou as contas e recuperou cerca de 70% do dinheiro desviado.

Policiais federais do Tocantins, de Goiás, do Maranhão e de São Paulo participaram da operação; ao todo, há mais de 65 agentes envolvidos. A PF trabalhou em parceria com o Ministério Público do Tocantins e não havia a intenção de deflagrar a operação ontem, mas ela precisou ser antecipada para evitar vazamento de informação. A CEF divulgou nota informando que foi o banco que comunicou a polícia sobre a fraude. “Em relação à Operação Éskhara da Polícia Federal, a Caixa Econômica Federal informa que acionou a polícia logo que constatou a fraude. O banco continua acompanhando o caso e está à disposição da PF para colaborar com as investigações.”